Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meia-noite

Vestiu-se de branco da cabeça aos pés. Já estava na porta quando decidiu tirar os chinelos. Era o último dia do ano, sabia que ao entrar janeiro voltaria à rotina cercada de estafas por todos os lados. Por isto, precisava fazer seus pés criarem uma carcaça alheia a cacos de vidro, a espinhos de rosas, a guimbas de cigarro e a todos os malefícios que ficariam no ano anterior.

Desceu no elevador, desejou Feliz Ano Novo aos vizinhos que também desciam e ao porteiro. Ganhou a rua e sua vista ganhou aquela multidão alegre e ensandecida. Abriu um sorriso e navegou pelo mar de azuis, brancos, amarelos e as demais cores das superstições de festas de fim de ano.

O relógio marcava onze e meia. Seguiu, sereno, entre pessoas e macumbas, até chegar à beira do mar. Arriscou um suspiro quando uma onda molhou seus pés. Era o alívio de um caco de vidro no qual ele quase pisara a fundo. Olhou para o mar iluminado por barcos em festa. Virou o corpo e passou o olhar por todas as milhões de pessoas que cantavam, riam e se divertiam com o passar das horas.

Seu relógio marcava onze e quarenta e cinco. A cada passo, procurava afundar o pé na areia, a ponto de deixar todos os males no ano passado. Cantarolava "marcas do que se foi, sonhos que vão e vêm", num desafinar aguçado pelo choro. Choro porque seus males iam se despedindo, um por um.

Chegou à colônia de pescadores, perto do Forte de Copacabana. Ofegante, mas ainda a cinco minutos da contagem regressiva. Ficou na beira do cais, com o coração ansioso e com o olfato mesclando Sidra, peixe e churrasquinho. Mas agora não pensava mais no Ano Novo.

Chegara. Chegara ao local combinado, e na hora marcada. Ela prometera vir pra passagem de ano ao lado dele. De mãos dadas. De bocas entrelaçadas. De sorrisos plenos e amorosos, alimentando a expectativa de uma nova caminhada.

Onze e cinquenta e seis. Uma moça parecida com ela. Mas ao chegar perto, os olhos eram de outra cor. Onze e cinquenta e sete. Outra, mas estava na companhia de um homem de barba por fazer e com tatuagem escrita "Amor eterno" no braço. Onze e cinquenta e oito. Mais uma mulher parecida com ela. Agora trajada em roupas minúsculas, submetida aos amassos de um branquelo que parecia ser gringo.

Onze e cinquenta e nove. E ele só a enxergava em todas as mulheres que ansiavam pela passagem de ano. Seguiu em sua impaciência, procurando-a em meio à multidão que agora buscava um lugar na construção perto da colônia. Todos conversando e olhando para o mar, à expectativa dos fogos. Menos ele.

Seus olhos derramavam lágrimas amarguradas, sedentas de um aceno ou um sorriso que indicasse que era ela. Vinte segundos. A lentidão das horas trincava pouco a pouco seu coração. Até que milhões de pessoas começaram a gritar.

"Dez". Ele sentou-se e olhou atentamente para o mar. "Nove". Mesmo com a vista embaçada pela sujeira do mar, via sua repentina infelicidade. "Oito". O semblante de frustração padeceria com ele por mais um ano. "Sete". Via um 31 de dezembro tão semelhante quanto os outros 364 dias nos quais ela se ausentou do coração dele. "Seis". Seus ouvidos discriminavam murmúrios de beijos e de "eu te amo", coisas que agora iam se afastando dele.

"Cinco". Não teve pudor de despejar seu corpo no mar. O longínquo som da contagem regressiva misturou-se com o barulho de uma onda forte que o levou contra as pedras do Forte de Copacabana. Os fogos de artifício pareciam uma rajada a fulminar a certeza de que ela nunca mais viria.

A vista embaçada ainda permitiu que ele notasse o branco de suas roupas se sujarem do vermelho do sangue que saía provavelmente de sua cabeça. Experimentou sorrir, pois era a paixão se manifestando, pronta para se sobressair a toda e qualquer paz que existira um dia em sua vida.

Não se debatia diante das pancadas que seu corpo sofria, espremido entre as ondas e as pedras. Nos lampejos de fogos do Reveillon, delirava com a imagem dela, passeando em sua mente, até que sua meia-noite anoitecesse. Definitivamente.

*****

Amigos, com este texto o Diário de um salafrário se despede do ano de 2009. Um ano cercado de emoções e carinhos que só aconteceram graças à leitura de vocês. Vocês, que leram, comentaram e prestigiaram um diário virtual que chegou às páginas de um livro.

Às vésperas das festas de fim de ano, quero dizer muito obrigado a cada um que passou por aqui. A cada um que foi ao lançamento do livro na Bienal. A cada um que foi ao lançamento de Vitória. A cada um que me escreveu comprando um exemplar do livro.

Graças a vocês, o ano deste que vos escreve foi repleto de realizações. Em retribuição, prometo trazer sempre mais e mais palavras para vocês. Afinal, esta é a única promessa de fim de ano que eu sei que vou cumprir.


FELIZ NATAL E UM ANO NOVO MARAVILHOSO!

Vinícius Faustini

P.S.: o Diário de um salafrário volta às suas atualizações em 13 de janeiro de 2010.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Reflexos

Sentiu os olhos gotejarem as últimas lágrimas daquela madrugada. Viu pela fresta da cortina o dia começar a clarear. Deu um suspiro de alívio por ainda estar começando o domingo. Nenhum colega de rotina precisaria compartilhar seus olhos vermelhos e tristes.

Levantou-se da cama e abriu as cortinas. Parou diante do espelho. Tirou a camisola e passou o olhar pelo próprio corpo. Por um momento, compadeceu-se de sua nudez, achou-se bonita. Mas logo seus olhos se maltrataram com as marcas da realidade.

Enxergou o roxo do tapa que ele deu em seu rosto. Deslizou o olhar e passou a ponta dos dedos nos arranhões que passaram pelo seu colo. Notou que os pulsos estavam se clareando, e suspirou aliviada. Seus olhos em breve parariam de conviver com a lembrança dos punhos dele, repreendendo suas mãos e a obrigando a olhar para ele em seus acessos de fúria.

Sentiu uma ardência nas costas e lembrou-se do momento em que ele a jogou na cama. Virou-se, e viu o roxo quase à altura dos ombros. Doía também. Os olhos ainda testemunharam a marca avermelhada de quatro dedos que, em seu pensamento, poderiam até furar sua própria carne.

Ficou frente a frente com seu reflexo e parou em seu olhar. Intimamente, pediu para vir um novo momento de choro. Não veio. Olhando em seus próprios olhos, balbuciou: "chora...". Uma, duas vezes, três vezes. Em vão. Foi aumentando a voz, quase ordenando: "chora, chora...".

Mas o sentimento que vinha não era de tristeza. Em meio a toda aquela dor, enxergava a carícia de um prazer. Aos poucos, começava a sentir as mãos dele. Fortes, firmes, a estapeando e dizendo que era para todo mundo saber de quem ela era propriedade. E desceu um pouco os olhos até enxergar um primeiro lampejo de desejo.

Movimentou seus dedos, reconstituindo gestos selvagens do toque dele. E sentiu a ausência daquelas unhas. Cravando sua carne. Cortando feito navalha. E ela esboçava um sorriso, ansiosa por andar no fio desta navalha.

Já sentada na cama, olhou-se no espelho e deu um riso safado ao ver o tamanho de suas unhas. Primeiro acariciou-se com elas. Sussurrava o nome dele, e dizia: "me corta...". Seu desejo deixou que a carícia tomasse conta inteiramente dela.

Contorceu-se, delirou... Lembrava dos palavrões que ele direcionava a ela, e a lembrança tornava sua carícia ainda mais intensa. Pedia para ser a mulherzinha dele. E se olhava nua, inteiramente entregue, ardente. Era só dele.

Seus olhos selvagens deliravam, ansiosos para que naquele espelho refletisse também a imagem do corpo dele, por cima dela, por baixo dela. E que ao desviar o olho de seu reflexo, só visse o rosto da perversão dele, e se aproximando até que pudesse ver através dos olhos dele toda a submissão dela.

Viu os bicos dos seus seios endurecidos. Viu seu sexo se desmanchar em todo o prazer que a falta dele lhe proporcionava. Viu seus toques ondularem seu corpo, ansiando pelo encontro com o corpo dele. E suspirou até o fim, sempre gritando pelo nome dele.

Ainda tonteava quando se levantou. Olhou-se novamente por inteira no espelho. Daquelas dores agora trazia marcas de amores. De amores vorazes, que só das mãos dele poderia conseguir.

Experimentou um leve olhar no reflexo de seus olhos. Mas logo desviou. Correu para um banho quente. E lá permaneceria de olhos fechados. Sem qualquer risco de voltar a ver marcas que eram reflexos de amargura.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ressaca

"Mais uma dose", foi seu pedido no bar
Bebeu, de uma vez, quase sem ar
Sem sentir os lábios que estava a saborear
Beijava a menina somente por beijar

A sensação que vinha era de vingança
E debochava da outra que a ele se entregara
Mas via a menina feliz como criança
Fascinada pelo sonho que a carência dele criara

E do seu cinismo tentou espremer afeto
A sede dela até o deixava inquieto
Levou-a, sem pestanejar, para seu teto
Mas depois de uma ou duas vezes sentiu um dissabor discreto

Só tinha pensamento no desejo de outrora
Seu sentimento via aqueles distantes olhares de aurora
Do vulto da amada que a bebida criava
Restava o riso da menina que a ressaca lhe encaminhava

Do despertar de seu porre
Veio o amor sem importância, daquele que escorre
Cair em instantes no esquecimento
E percorrer em sua memória até a lembrança de um mau momento

Ia levantar-se para enxotá-la
Só que o sussurro ao seu ouvido, com tamanha vontade
Fez cortar seu coração a ideia de tão logo maltratá-la
O desencantamento era agora piedade

Em meio ao sabor de ovo podre e de Sonrisal
Optou pela ação que pra sempre lhe faria mal
Traria a partir de agora para a menina de atitudes simpáticas
Uma vida de desamor, em doses homeopáticas

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sereia

Ela surgiu feito sereia diante de seus olhos. Mas não se deixou seduzir somente por seu canto. O encanto vinha numa plenitude que mesclava a doçura transmitida por ela e um cheiro de maresia que o inebriava.

Sim, o alertaram mais de uma vez com a sentença "o mar não tem cabelos". Mas ele não pensou duas vezes ao atrelar suas mãos nos cabelos dela. Seus dedos acariciavam de leve aquele rosto que sabia exatamente como hipnotizá-lo. Fascinado, somente balançou a cabeça num "sim" quando ela pediu "vem".

Aceitou mergulhar num desejo de amor intenso, com o coração desprotegido de qualquer artifício para levá-lo novamente ao raso quando precisasse. A cada carícia, a cada beijo, a cada instante, necessitava conhecer um pouco mais a fundo todos os sentimentos que ela proporcionava.

Seu corpo uniu-se ao dela num movimento doce, e cambalearam, quentes, sôfregos, num maremoto que não tinha receio de atingir os limites da intensidade. Beijou-a e sentiu um breve gosto de aguardente, na água ardente à qual aquela sereia o conduzia pela mão.

Ainda estava de olhos fechados quando sentiu um arrepio. Uma corrente de água gelada passava por ele, e, quando sua vista alcançou, ela já estava indo embora, sem se despedir.

Lutou contra a frieza dela, esboçou alguns gritos de "socorro", até que seus braços dormentes conseguiram vencer a correnteza. Permaneceu ofegante até conseguir encontrar um pouco de ar puro.

Aos poucos, experimentou uma calmaria. Chegou a tentar que seu coração se deixasse levar por outras marés. Mal sentiu a água bater em suas canelas. Tomou um pouco de ar, e, mesmo contra tudo, decidiu voltar a enfrentar a correnteza atrás dela.

Já não tinha muitas esperanças de voltar a encontrá-la. Mas a ideia de se afogar à procura de sua sereia tornava a expedição mais romântica. Com os olhos marejados, ele agora preparava seu paladar para sentir como é doce morrer no mar.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Eternamente sua

O beijo foi longo, e ela parecia obcecada por molhar toda minha boca. O gosto dela mesclava vodca e pirulito de morango, combinação que era condizente com o que ela parecia para mim naquele momento. Uma doçura ácida, que instiga e vicia. Nosso vício se embalava, ao som de uma balada que fazia os casais dançarem abraçados, preocupados somente com os seus parceiros.

Disse para eu não ir embora, que ela já voltava. Fui até o bar e pedi uma água. O sabor do pirulito de morango começou a ficar enjoativo e me deu sede. Bebi calmamente, olhando o movimento da pista de dança, ansioso para que ela voltasse brevemente. Cerca de 15 minutos depois, chegou sorrateira e me deu uma mordida. Esquivei o pescoço e ela começou a assoprá-lo. Falou que demorou porque tinha uma surpresa para mim.

Virou-se de costas e se deixou aninhar nos meus braços. Trocamos mais um beijo de língua e sua mão me conduziu maliciosamente até por baixo de seu decote. Estava sem sutiã. Espiei seu bico pequeno e rosado. Acariciei-o com a ponta dos dedos e ela começou a dar risinhos espaçados, como se tivesse sentindo cócegas. Afastou-se e ficou com o rosto de lado para dizer:

"Olha o que eu fiz pra você..."

Subiu um pouquinho da blusa. A luz mudava de cores - verde, vermelho, lilás, amarelo - mas eu vi aquela frase tatuada em sua pele: "Eternamente sua". Aproximou-se novamente do meu corpo, rebolando ao som da música dançante. Perguntou se eu tinha gostado. Mordi seu lábio e perguntei se isso respondia à pergunta dela. Tirou um pirulito de morango da bolsa mas, antes de colocá-lo na boca, propôs sairmos de lá.

Logo que entramos no meu carro, ela sentou-se no meu colo. Levantou a blusa e pôs os seios na altura do meu rosto. Passei a língua em cada um deles, e novamente ela respondeu ao meu carinho com um sorriso de quem sentia cócegas. Envolvi suas costas em meus braços e minha mão parava justamente na altura onde estava o "eternamente sua". Ela mordia minha orelha e dizia: "quero mais, quero mais...".

Ainda com ela por cima de mim, dei a partida no carro. Ela gargalhou e, num pulo, foi para o banco de carona. Ria e me chamava de "louco". No trajeto eu sentia sua mão alternando carícias à minha orelha e ao meu pescoço. Num dos sinais, me entregou a calcinha fio dental que estava usando. Colocou a outra mão entre suas coxas.

Abri o portão eletrônico. Estacionei o carro. Assim que desliguei, ela prontamente veio por cima de mim. Parecia voraz em seus beijos e suas mordidas. Estava se preparando para tirar a blusa quando eu disse, ao pé do ouvido: "Lá em cima vai ficar mais gostoso". Ela riu e senti seu hálito de pirulito de morango.

Entramos no meu apartamento. Ela se despiu perto da porta, e pude ver tingida em preto a frase "Eternamente sua". Tive uma sensação de prepotência, enquanto minha boca lambia a surpresa que ela me deu naquela noite. Abraçou-se a mim e fomos andando até o meu quarto. A cada passo, uma peça da minha roupa ficava pelo caminho. Sentíamos a nossa nudez por inteira na porta do quarto.

Sentei na cabeceira da cama, e ela ajoelhou-se, me fazendo sussurrar com as carícias de seus lábios cada vez mais quentes. Ela sentiu minha excitação e sentou-se também, de costas para mim. Aos poucos, deixou-se encaixar no meu corpo. Aproximei minha boca e voltei a sentir aquele gosto de pirulito de morango. As mãos caminhavam entre seus seios e seu sexo, e ela pulava entre sussurros, tornando nossa carícia cada vez mais intensa.

Seu rosto ganhava um semblante mais assanhado, e eu o acompanhava enquanto ela se deitava na cama. Instintivamente, eu me aproximei sedento por conhecer seu gosto. Ela me segurou pelos cabelos e disse "meu único sabor é o de morango, não deixo você provar nenhum outro gosto". Seu hálito continuava com o gosto adocicado. Mas eu não sentia enjoo, a minha vontade era de me entorpecer com aquele cheiro e com aquela doçura. Doçura que ela dizia ser eternamente minha.

Mal resisti à intensidade do que vivemos naquela noite. Fui despertado com o amanhecer que chegava pela minha janela. Não tive forças para levantar logo que acordei. Procurei com os olhos, mas não a encontrei. Desviei o olhar e vi um pirulito de morango desembrulhado, já cercado de formigas.

No lençol, a frase "Eternamente sua" se perpetuava, um pouco borrada, como se tivesse saído no banho. Era tatuagem temporária. Temporária, como a minha passagem pela vida dela. Mas a eternidade que ela duraria em mim estaria para sempre impregnada. Com o sabor doce e enjoativo de um pirulito de morango.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Rajada de monstros

Acordou num êxtase cercado de um doce cansaço. Logo ao sentar-se na cama, percebeu que o suor, que ele achava que era dela, era mero desejo de frustrado apaixonado. Dos sussurros de amores que passeavam pelos seus ouvidos, restara apenas o barulho do ventilador, a evitar o silêncio em seu quarto.

Foi ao banheiro, ansioso para que um banho gelado apagasse a chama do amor que vinha só dela. Debaixo do chuveiro, viu-se tentado a senti-la num deslizar de sua mão. Logo abriu os olhos e se viu na escuridão da madrugada, sem qualquer vestígio de um abraço ou de um afago ainda mais íntimo.

Enxugou-se na frente do espelho. Graças à luz do corredor do prédio, a basculante iluminava sua imagem. Enxergou a piedade em seus olhos, sedentos pelo sorriso pleno que o fazia sorrir a cada instante do lado dela. Sua boca secava na ausência dos lábios dela, era um deserto, uma quentura que lhe dava mal-estar. Na febre que o fazia delirar, gemia ansioso por aquele nome.

Seus olhos deslizaram pelo resto do corpo. Por um momento, era somente desejo. Um desejo cercado de lamúria e de uma carência que não se restringia a mero prazer erótico e solitário. Sentia o corpo se molhar, mas não era somente do banho que ainda não secava. A sensação era de que as gotas que tentavam gelar seu coração surgiam como gasolina para aflorar todo o seu sentimento.

Pulsava. O coração pulsava, o corpo pulsava. Foi em direção ao computador. Começava a ofegar, pedia "vem, vem...". Em seus dedos escorriam um coração, em palavras tentando dizer tudo. E era tanta coisa guardada... Tantas palavras caladas diante da hora em que ela se despediu em silêncio, não se preocupando nem em bater a porta.

E agora ele respondia a cada palavra fria com um jorro amargurado, no fervor de um amor mal correspondido. Das palavras que aqueciam suas noites insones, vinham agora as descrições das madrugadas dolorosas, cada vez mais dolorosas, cada vez mais solitárias.

E gostava do que sentia naquele momento. Daquele rancor repentino que tomava conta de seu peito. Aquele fogo que caía enraivecido sobre a mulher que amava. Agonizava os últimos momentos de desejo. Sem culpa, sem pudor, dizia tantos nomes para ela. E o gosto era de um prazer, um prazer em torturar o sofrimento por ela a cada palavra mais depravada.

Deixou-se entregar a um último lapso ofegante. Experimentou sorrir, um riso cínico, um riso de assassino. E deixou o rosto cair sobre o teclado. Já não se importava com aquele suor que tomava conta de seu corpo. Sabia que era uma forma de se libertar de todo o calor que ela causava nas noites em que não adormecia.

Imprimiu o texto. Iria ler ao acordar. Não, não iria entregar para que ela lesse. Aquele passo era desnecessário. Finalmente, aprendera a soltar sua rajada de monstros diante de um amor que o deixava de mãos atadas.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Malcriada

Mais um atrevimento poético. Este que vos escreve não toma jeito...

*****

Obedeceu quando ele pediu que ela engolisse o choro
E não desdisse a desculpa esfarrapada dele praquele fio de cabelo loiro
Deixou-se entregar a mais um doce devaneio
Para não ser poupada do arrepio que dava o beijo dele em seu seio

Mentiu pra si mesma quando ele esqueceu o aniversário de casamento
Caiu na defesa de achar que ele tem muita coisa no pensamento
Calava a infelicidade no medo de que doesse a saudade
De um amor de onde não restou nem a vontade

Aceitava o fato de ele ter uma amante
Isso explicava ele estar cada dia mais distante
E na volta pra casa chegar trocando as pernas
Recorrendo a outro nome para dizer palavras ternas

Imaginava-se a outra para sentir-se amada
Respondia ao “eu te amo” de quem ele desejava
E sofria ao ver o desapontamento com o qual ele ficava
Pois ao despertar ele não estava com a mulher que era sonhada

Permitiu que ele a mergulhasse num desamor
Tinha medo de não sobreviver se ele a deixasse só
Já não se importava de dar a ele a sensação de dó
E não o contrariava, para evitar qualquer rancor

Mas jogou na cara dele sua obediência
Era sua forma de pedir a ele clemência
No dia em que ele avisou que estava tudo sacramentado
E o casamento havia terminado

Derramou lágrimas sem o comover
Ele dizia que entre os dois não havia mais nenhum querer
Mandou que ela parasse de agir como criança
E tentou convencê-la a tirá-lo de sua lembrança

Só que pela primeira vez ela o quis contrariar
Feito menina desatou a chorar
Sabia que seu peito ia dilacerar
E decidiu o coração não mais resguardar

Ao desobedecer, sentiu-se mais renovada
O amor ao extremo não a deixava mais apavorada
Porque a cada segundo mais apaixonada
Ela agia mais como garota malcriada

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Veranico

Veranico (s.m) = Período de calor numa estação fresca.

Era inverno. A tempestade a cada dia parecia tornar minha solidão mais interminável. Ventos uivavam minha carência, e à minha vista surgia apenas uma neblina de desamor. E eu, passo a passo, me enxergava cercado da frieza de palavras, dos gestos, dos sentimentos.

Meu caminho parou diante de um primeiro brilho. Tratamento de choque para olhos tão acostumados ao escuro, ao cinza. Uma coceira instintiva, seguida de um novo olhar. E de um calor surgiu o sorriso dela. Minhas mãos se apegavam à sua vista para surgir uma aquarela, e eu me encontrava mais fascinado entre tantas cores que agora me eram apresentados.

De suas mãos, recebi a flor mais simbólica, a que representava nossa primeira primavera, a iniciar-se naquele minuto. De seu abraço, senti um aquecer, tão inusitado depois de longo e rigoroso inverno, que me fazia me entregar com menos rigor ainda. Minha mente de pretenso escritor rascunhava, lia, relia, e sempre jogava fora seu esboço. As folhas caíam e o desespero de minhas palavras tinha receio de criar raízes em pormenores mundanos, em rótulos, em formalidades.

Era um viver desprovido de palavras. Num afago, vinha a quentura que me fazia febril, em delírio a esperar seu beijo. Os lábios apresentavam um sabor no qual meu desejo se adocicava, fazendo de nossas bocas uma fonte inesgotável de prazer. Extasiado, eu seguia na minha velada curiosidade. Quem era ela? O que era ela, agora, que chegava assim na minha vida? E num momento infantil, a flor que ela me deu parecia a única capaz de decifrar. Lentamente, alegres, acarinhados, contávamos: "bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer...".

Mas todas as previsões estavam erradas. E o tempo era tão vulnerável quanto a duração da passagem dela por minha vida. Não, não iriam mais cair as folhas. Nenhuma flor voltaria a desabrochar. Nem o calor iria me fazer esquecer os invernos tão solitários.

Ela era mero veranico. Viera me trazer um terno e fugaz calor de amor para, logo em seguida, partir sem avisar. Deixando comigo outra vez o frio impiedoso de uma solidão que gelava ainda mais um coração despedaçado.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dois irmãos

“Tá vendo ali o Dois Irmãos?”.

O sol alto quase atrapalhou minha visão. Balbuciei um “hã?” sorridente, para que ele continuasse o que ia dizer. Eu tinha saído da água há poucos minutos, e a água gelada da praia do Leblon me deixou menos culpada de estar tomando sol no meio-dia.

Ele dizia, alegre: “Somos nós dois. Dois irmãos, unidos como essas duas pedras. Um afeto que está sempre presente, faça chuva ou faça sol. Pra sempre.”.

O “pra sempre” dele me deu uma sensação doce de segurança. Senti seu abraço por trás e vi seu rosto olhando para o morro. Mas, pela primeira vez, notei meu irmão de maneira diferente. O sorriso dele diante de um lugar que representava nós dois me deixou fascinada. Com carinho, eu me deixei ainda mais ficar abraçada, sentindo sua respiração perto do meu ouvido e a mão forte acarinhando minha barriga.

Mas, entretida com aquele instante, tive o primeiro momento de delírio. Naquela hora, eu desejei que a mão que afagava meu corpo molhado deslizasse, assanhada, por baixo do meu biquíni, para que eu me sentisse ainda mais dele. Despertei do sonho com um beijo que ele me deu no rosto. Meu irmão se desvencilhou de mim e, ao longe, em meio aos meus pensamentos confusos, ouvi sua voz dizendo “vamos embora?”. Sem pensar, eu disse “sim”.

Saímos da praia, seguindo o trajeto de casa de mãos dadas, como sempre fazíamos, mesmo eu estando agora com meus 16 anos e ele com dois anos a mais. O carinho dele me dava uma sensação diferente no trajeto até nossa casa. Subimos o elevador, ele me disse que eu parecia diferente, perguntou se eu estava sentindo alguma coisa. Tive um lapso de criança, vontade de dizer que desde o momento em que ele mostrou o Dois Irmãos eu descobrira que não podia mais viver sem ele, e que só queria viver com ele e que sabia que só ia sonhar com ele. Saiu apenas um “não é nada”.

Assim que ele abriu a porta, fui direto para o meu quarto. Ouvi seus passos vindo rumo à minha porta. Ele deu duas batidas, chamou por mim. Já começando as lágrimas, eu disse um “oi”. Respondi que era só cansaço e que um banho ia me fazer bem. Escutei seus passos se afastando do corredor e tirei o vestidinho.

Amparada na porta, fechei os olhos e acariciei minha barriga tentando reproduzir a maneira como sua mão deslizou sobre ela. Sussurrei um pedido: “desce...”. E minha mão desceu, até se esconder embaixo da minha calcinha. Senti as primeiras carícias em torno dos meus pelos, e com as pontas dos dedos eu me sentia molhar tanto quanto a água do mar do Leblon.

A lembrança dele dizendo “Dois Irmãos, Dois Irmãos” trazia dor a aquele prazer que tomava conta de mim. E eu me esquentava, sentindo com as mãos a presença dele. Tirei a calcinha e puxei o sutiã um pouco para cima. Agora eu pensava em sua mão conhecendo os meus seios. Lambendo meus seios. E me querendo, e me pedindo. E eu me culpava, com medo de tudo que eu sentia. Entre sussurros, eu me dizia “não”, mas meu corpo só sabia dizer “sim”, e pedir “sim”, ansiando que ele batesse na minha porta e pedisse para entrar. Para entrar no meu corpo e nunca mais sair. Num amor que eu sentia que tinha despertado como nunca.

Deixei que eu caísse devagarinho, e sentasse com minhas pernas dobradas e abertas. Prontas para ele. Prontas para aquele amor que só seria um “não”. Eu estava doente. Num mal de amor. Mas ninguém precisava saber. Só o meu corpo. Vieram os primeiros gemidos mais fortes. Com as mãos, eu guiava meu seio até que o bico chegasse à minha língua e eu pudesse lamber. Mas eu queria ele. Ele. Só ele.

Ouvi o barulho dele passando no corredor. Saí enrolada na toalha. Caminhei, esfregando meu corpo na parede até a porta do banheiro. Fiquei por alguns instantes só ouvindo a água do chuveiro. Imaginando como estaria o corpo dele debaixo d’água. Pensando nos movimentos que seu corpo fazia enquanto ele tomava banho. Ansiosa em pensar que talvez ele estivesse pensando em alguém e se excitava durante o banho.

Molhei meus lábios com minha língua e decidi dar duas batidas na porta. Meu coração pulsou mais forte quando ele desligou o chuveiro. Atentamente, escutei cada passo surdo de seus pés descalços em direção a mim. Ele abriu a porta, enrolado na toalha. Olhou com espanto, há alguns anos eu só falava com ele vestida. Ergui meu corpo em direção ao seu pescoço. Beijei e dei algumas mordidas de leve. Senti suas mãos, firmes, segurando meus braços, e amei seu olhar preocupado, querendo saber se estava tudo bem.

Num fio de voz, eu disse: “vai estar, enquanto formos só nós dois”. Ele sorriu e afagou meu rosto. Não sei com qual coragem, mas logo vi meus lábios procurando seus dedos. Eu exalava sensualidade, e sorri quando deixei a toalha cair do meu corpo. Ele me olhou. Ele me notou de cima a baixo. Viu minha nudez, viu como eu estava diferente. Parecia atônito, e eu sabia que ele estava tão atônito quanto eu estava desde o instante da praia. E eu estava agora decidida. Mais decidida do que nunca.

Puxei sua toalha e virei de costas para ele. Senti novamente sua respiração, agora mais ofegante do que no momento em que falou pra mim do morro Dois Irmãos.

Peguei sua mão e deixei que ela repousasse sobre minha barriga. Mas agora eu a segurava, e ele parecia permitir que eu a conduzisse, por onde eu quisesse. Deslizei a mão para baixo, e desta vez não teria nenhuma calcinha de biquíni para nos impedir. Ele parecia hesitar, mas eu repeti: “somos só nós dois, somos só nós dois”. Meu ombro sentiu seu rosto e gemeu ao receber uma mordida selvagem. Os dedos dele me afagavam, mesmo agora sem a minha mão para guiar. O abraço que eu recebia ficava mais próximo, mais ardente. E eu ardia com ele, provocava, atiçava, rebolando meu corpo tão frágil e tão entregue a ele.

Fiquei de frente para ele. Acariciei seu peito. Repousei meu rosto e pedi: “deixa eu ser sua”. Minha mão caía por suas coxas, e eu me apoiava nele para ter um pouco da sensação de desejo. Notei um súbito momento de hesitação e me ajoelhei. Calmamente, ele se apoiou na parede. Minha língua começou a sentir o gosto do seu desejo. Os lábios se sentiram prontos para seduzir, para deixar que sua excitação ficasse ainda mais forte, e num movimento compassado de amor, eu fiquei chupando. Queria que ele me desejasse e que ele soubesse o quanto eu o desejava.

Ele gemia, puxava meus cabelos longos e cuidava que nós dois ficássemos no mesmo delírio. Minhas mãos sentiam todo seu corpo se esquentar, e ele ofegava, ofegava. Ele se desvencilhou e me fez levantar. Olhou nos meus olhos, para que eu visse que seu olhar estava cheio de lágrimas. Com a voz embargada, disse: “nós somos irmãos...”. Não deixei que ele continuasse a frase. Segurei sua mão e o levei até o meu quarto. Paramos perto da minha cama e, num beijo cercado de doçura, consegui que ele sentasse. Mais uma vez ele protestou e, com o dedo indicador sobre seus lábios eu disse “shhh...”.

Sentei sobre ele e suspirei mais uma vez ao dizer “sou sua”. Senti que éramos um só a partir daquele momento, e deixei meu corpo se aproximar ainda mais do corpo dele. Eu gemia e sussurrava em seu ouvido todo o amor que agora acontecia. Eu pulava sobre ele enquanto suas mãos conheciam meus seios, arranhavam minhas costas e me faziam arder com tapinhas carinhosos no meu bumbum.

Num grito despudorado, comecei a sentir o meu sangue escorrer por ele. Sorríamos porque a minha primeira vez tinha sido guardada para aquele momento. Abraçada ao seu corpo, eu cuidava com amor daquele homem que era meu. Permitimos que nossa nudez deslizasse pela cama. Olhei seus olhos de êxtase e de culpa. Dei um sorriso de menina, que ele retribuiu com um triste “somos dois irmãos”.

Com voz de apaixonada, eu disse: “Eu não me importo. Só a gente sabe a delícia que é sermos dois irmãos”. Ele afagou meus cabelos e beijou minha boca. Em seguida, esquivou o corpo, para que eu deitasse, nua, completamente nua, sobre ele.

Mais do que nunca, nosso amor era sólido, sólido como as pedras conhecidas como o Dois Irmãos. Aquele amor era um fardo, tão doloroso como uma pedra. Mas passava a ser uma pedra na qual eu ardia em delírio, e sabia que ia amar carregar. Pra sempre.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Tenho que manter a minha fama de mau...



O Diário de um salafrário tem de manter sua fama de mau a cada novo texto, e nada mais justo do que pedir um conselho de quem é famoso nesta área há muito tempo. Por isto, este que vos escreve foi hoje até a boate 00, na Gávea, para encontrar ERASMO CARLOS. O Tremendão reuniu histórias de sua vida no livro Minha fama de mau.

E das mãos deste fã, recebeu um exemplar do Diário de um salafrário. Quem sabe ele não sirva para ajudar a minha literatura?

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Eu sei que você não volta

Segue mais um atrevimento poético. Não reparem...

*****

A porta do quarto só ficou encostada
Debaixo do lençol permaneço acordada
Reviro na cama, à espera de seus braços
Mas eu sei que você não volta

O sol despertou e sua presença ainda adormece
Esfria o lençol do lado desocupado
Tudo em ordem no quarto, nada desarrumado
Assim eu sei que você não volta

O chuveiro despeja uma água morna
Minha nudez se encolhe, ansiosa por seu toque
Minhas mãos se fazem suas enquanto o desejo entorna
Afinal, eu sei que você não volta

Arrumo a mesa para nós dois
Esquento o café, feito com pouca água
Meu café é sem açúcar, com sabor de mágoa
Porque eu sei que você não volta

Limpo a casa, sem o menor descanso
Mas falta seu jeito manso a passear pelo nosso lar
Jorro seus perfumes, quero respirar seu ar
E ainda assim eu sei que você não volta

Meu vazio se entretém com o recordar de cada momento
De olhos fechados, sorrio de novo e sinto tudo tão eterno
De um amor tão terno surge a verdade de um tormento
É porque eu sei que você não volta

O almoço já tá na mesa
Saudade do seu prato favorito, carne assada
O arroz de ontem, o feijão da semana passada
Pra que coisa nova, se eu sei que você não volta?

Passo a tarde lendo revista
Até que minha cabeça desista de te esperar
Meu passatempo da tarde é ter um sonho para alimentar
E eu sei que você não volta

Acalento meu delírio até ver que o dia escureceu
Com o passar das horas, minha angústia cresceu
Eu te pergunto: será que você já me esqueceu?
Silêncio. E eu sei que você não volta

Requento o jantar enquanto a tevê passa o jornal
Molho de tomate na macarronada vai me fazer mal
Não faz diferença pra uma vida sem sal
Se eu sei que você não volta

Nada pra fazer depois da novela
Eu me olho no espelho tentando me sentir mais bela
Antes de dormir, vou te esperar na janela
Mas eu sei que você não volta

Passo os olhos por toda a rotina da cidade
Tenho vontade de te implorar “piedade”
Amar você cerceou toda minha liberdade
Pra que te amar tanto se eu sei que você não volta?

Meus olhos pesam, sofridos por não te encontrarem mais um dia
Meu corpo vai se entregar a mais uma noite fria
Sei o quanto eu te amo, fico resignada diante da estranha ironia
A de que o meu amor aumenta só porque eu sei que você não volta

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sem poesia

a Vinícius de Moraes

Ele entrava no elevador quando ela suspirou um último "eu te amo". Em resposta, veio a batida da porta. Para ele aquele momento não era nem era digno de palavras. Amparada na parede, ela se deixou deslizar até cair sentada em prantos. Há algum tempo chorava a cada ausência de afeto dele. Agora seu choro começava a se certificar de que ele não ia mais voltar.

Era a despedida. E ela o amava. Desesperadamente. Sabia que seu coração estava destinado a amá-lo por toda sua vida. Criou forças para ao menos se levantar e entrar em casa. Tinha sido muita sorte os vizinhos não testemunharem a dor de uma separação, não era bom espalhar vestígios de sua tristeza ao alcance dos outros. Aquela amargura não era para ser compartilhada.

Caminhou a passos lentos até o quarto. Olhou os lençóis de um dia que já amanhecera sem ele. Ele tinha dormido na sala, num prelúdio para que eles se acostumassem com a solidão ao acordar. Última concessão de afeto, de preservação dele. Mas a pena partia o coração dela com as unhas.

Tirou os olhos da cama e enfim notou que o sol estava começando a ficar mais alto. Já deviam ser nove horas. O relógio andava e o coração dela prosseguia a andar, a correr na direção dos braços dele. Braços agora cruzados, definitivamente indiferentes. Olhou-se no espelho, constatando que o riso afinal se desfizera em um completo pranto.

E ela sabia que ia amá-lo por toda sua vida. E sabia que a ausência dele a faria chorar a cada dia. E sabia que não teria volta para apagar o que essa ausência dele a causava.

Na desventura, no desvario, pegou o estojo de maquiagem. Dentre os batons, escolheu o de tom vermelho mais forte. Vermelho do seu amor. Vermelho da paixão que a aprisionava, uma prisão que ela aceitava passivamente, com toda a grandiloquência de seu sentimento.

Foi até o banheiro. Apoiou-se na pia e começou a transformar em versos todas as juras de amor para ele. Sua mão trêmula preenchia em cada verso a certeza de seu desespero amoroso. E eram tantos versos, tanta coisa ainda por dizer que nem o espelho do banheiro foi suficiente.

Primeiro foi o espelho da cômoda. Depois veio o do armário. Em seguida, retirou as garrafas do bar para ocupar cada um dos espelhos com seus dizeres. Estava ofegante quando a última linha ocupou o espelho do quarto de empregada.

Sofria, sofria muito. Um sofrimento eterno. E aquela eterna desventura de viver à espera dele seria relembrada toda vez que se olhasse no espelho. Porque seu amor decretara desde o primeiro instante: ela era o espelho dele, por toda sua vida. Mesmo na certeza de que naquela espera não encontraria a menor poesia.

*****

Texto publicado originalmente na página eletrônica Segunda a Sexta.

sábado, 10 de outubro de 2009

Na mais fina companhia...



O Diário de um salafrário eterniza em sua página mais um dos momentos emocionantes que envolveram este livro. Um agradecimento que este que vos escreve já fez na dedicatória do livro, mas que ainda era muito pouco.

Em 2007, a Eliane (conhecida no cenário musical como Eliane Gonzaga) decidiu dar de presente pro meu pai um disco trazendo sua leitura para duas músicas emblemáticas do amor dos dois - Iluminados e Acaso. Mas ela teve a ideia de me incluir no presente, e através dela.

Eliane me pediu para escrever um texto, que antecederia as duas faixas do disco. Escrevi algumas palavras, e dei a ela toda a liberdade de modificar o que quisesse. Mas ela não achou necessário. E a emoção do meu pai ao ouvir mostrou que Eliane e eu fomos muito felizes nesta homenagem.

Esta parceria agora está disponível aqui, em áudio. Basta clicar no link que aparece no cabeçalho do blogue para ouvir o privilégio que minhas palavras tiveram: a voz da cantora Eliane Gonzaga declamando um dos textos que estão no Diário de um salafrário - Trilha sonora.

*****

Obrigado ao James Lima, idealizador do blogue Roberto Carlos Braga. Sua intimidade com estas tecnologias virtuais foi muito importante para que Trilha sonora estivesse aqui para vocês ouvirem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Salafrário seja louvado!



O Diário de um salafrário recebeu mais uma homenagem vinda de terras capixabas. Para felicidade deste que vos escreve, trata-se de mais um motivo pelo qual a publicação do livro é louvada.

A Câmara Municipal de Vitória, por meio do vereador NAMY CHEQUER (PCdoB/ES), encaminhou as seguintes palavras a este salafrário:

"O vereador signatário, no uso de suas prerrogativas regimentais, requer ouvido o Plenário, seja registrado nos anais da Câmara um VOTO DE LOUVOR, para o jornalista e escritor Vinícius Faustini pelo lançamento do livro "Diário de um salafrário".

Requer ainda, que o ato desta Casa seja dado conhecimento ao homenageado, com cópia, no seguinte endereço:

Vinícius Faustini
Alameda Mary Ubirajara, 135/1302
Santa Lúcia - Vitória/ES
CEP: 29.056-030

Palácio Atílio Vivacqua, 30 de setembro de 2009
"

Muito obrigado ao vereador Namy Chequer por mais esta honra que recebi em terras capixabas, e também ao Exmo. Senhor Presidente da Câmara Municipal de Vitória Vereador Alexandre Passos. Abaixo, o encaminhamento do voto de louvor:



E, aproveitando o espaço de fotos, finalmente vem um registro fotográfico no qual aparece meu pai. Foi na casa dele, em Vitória, que chegou este voto de louvor. Tenho certeza de que o seu Tarcísio ficou bem feliz com mais uma boa notícia do meu Diário de um salafrário.



E que o salafrário seja louvado!

P.S.: basta clicar nas figuras para que vocês vejam melhor estes registros, escaneados por Tarcísio Faustini.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Mais uma da Litteris



Ainda sob a emoção dos lançamentos do Diário de um salafrário, este que vos escreve recebeu no início da semana mais uma notícia literária. E novamente através da Litteris Editora.

Um texto meu vai fazer parte da antologia literária Brasil Poeta, que a editora lançará no final do ano. Em meio a todas as poesias, estarei lá representado por um atrevimento poético.

O texto POR QUÊ? vai estar em Brasil Poeta. Desde já, informo que é mais um grande emoção poder estar numa coletânea poética (justo eu, que no máximo me atrevo nos versos).

*****

DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, meu primeiro livro de contos, continua à venda. A todos os que estiverem interessados, basta mandar um e-mail para o seguinte endereço:

viniciusfaustini@gmail.com

domingo, 4 de outubro de 2009

Salafrário virou notícia



Além da reportagem no jornal A Gazeta, na véspera do lançamento, o Diário de um salafrário também teve destaque no jornal A Tribuna. No caderno AT2, o salafrário virou notícia.

Cliquem na imagem para ver o destaque que A Tribuna deu.

sábado, 3 de outubro de 2009

O show tem que continuar



Mas a noite adentrou na madrugada. E a felicidade começou a virar saudade. Mas graças a todo este diário que coloquei aqui no Diário de um salafrário, espero que fique para sempre no coração de todos vocês o tanto que foi o primeiro de outubro de 2009 de Vitória.

Seguem os retratos do final de festa. Tão emocionante quanto o que foi o lançamento.

Que venham outros! Obrigado, muito obrigado, amigos. Volto para o Rio de Janeiro com uma felicidade deixada na Ilha do Mel.

Vinícius Faustini



O verdadeiro show



Sim, eu estava em festa. Mas o verdadeiro show da noite veio desta voz que eu tenho o privilégio de ouvir todas as vezes que volto em Vitória.

Não só nos palcos, mas na casa do meu pai. A ELIANE GONZAGA recebe sempre meu aplauso, por seu trabalho, seu repertório e pelo grande afeto que tivemos desde que ela passou a ser "mulher do meu pai" (esse negócio de madrasta seria um termo agressivo com ela).

Ela cedeu um pouco de sua noite para mim, mas me entregou um belo show, realizado ao lado do competente instrumentista MAURÍCIO FAZZ. O setlist maravilhoso teve espaço para eu declamar Trilha sonora (texto que fizemos em parceria litero-musical - eu com o texto e ela com as interpretações de Acaso e Iluminados) e também para no fim ter ela cantando Como é grande o meu amor por você e Emoções.

Meu aplauso a ela e ao Maurício, grandes músicos capixabas! E MUITO OBRIGADO.

Abaixo, a "ponta" que fiz neste show:

A presença especialíssima de sempre


A dona Therezinha sempre foi TETÊ desde que eu era menino. Irmã do meu pai, ela se empenhou em me criar, ainda mais depois que meus pais se separaram. E na noite capixaba do Diário de um salafrário, ela estava em uma nova função: ficou de "caixa" recebendo o dinheiro do meu livro.

Obrigado, tia, mais uma vez. Ah, ela vai me matar por saber que botei fotos dela aqui...

Na primeira, ao lado da minha tia Flô.




Com Fernando.



Ao lado do meu padrinho.

Amigos presentes

Muitos dos amigos que estiveram presentes não estão nas fotos que eu recebi até o momento.



JOÃO FELIPE, WILSON e SUELY, meus vizinhos do 602. João agora está em Belo Horizonte e coincidiu de estar em Vitória justamente na época do lançamento.

As "Creuzas" KÁTIA, CAMILA e THAIZ, além do namorado da Thaiz, GUSTAVO, um irmão e amigo que o Da Vinci me deu e pude rever por mais uma "arte do encontro". QUERO FOTOS!

À dona MADALENA, sempre um doce e uma elegância.

HÉBER, HEBINHO e ROSSANA.

PEDRO DAHER e sua namorada FERNANDA. Compraram dois livros, não vai ter briga para leitura!

RITA DE CÁSSIA, diretora da Biblioteca Pública Estadual, que retribuiu minha visita maravilhosamente: além de carregar o ÍTALO CAMPOS, declamou um dos contos que ela gostou do livro. E Das flores de setembro ficou lindo em sua voz.

ROGERINHO BORGES, que abriu seu Espírito capixaba, programa na Universitária FM e esteve lá no Wunderbar também.

Além de outros que vi de lá mas não pude falar direito, pois estava com as mãos cercadas de literatura.

Aos que não estiveram e enviaram representantes.

À LÚCIA, que abriu o Wunderbar e fez do meu livro um acontecimento inesquecível.

E, abaixo, uma presença carioca. LEANDRO estava coincidentemente chegando de Vitória e compensou a ausência na Bienal indo em Vitória com sua mãe, GINA.

A bênção...



Além de todas as emoções, no dia primeiro de outubro tive duas bênçãos. Meus padrinhos também foram apoiar o meu Diário de um salafrário. O doutor DARLY e a dona MYRTHA.

Meu padrinho estaria neste dia em um congresso em Viena, mas uma infecção urinária o fez mudar de planos. Ao menos foi um bom motivo pra eu revê-lo.

Minha madrinha saiu da serra, de sua casa em Santa Izabel e veio de carro para Vitória. Muita força para minha segunda mãe, que está na flor dos 80 anos.

O Laranjal



E numa festa tão grande, tinha que vir também minha família. Aviso a todos os internautas: este salafrário que vos escreve tem uma família materna muito, mas muito doce. Os LARANJA estiveram lá, me proporcionando novas felicidades.

As tias FLÔ, MARA e CLÁUDIA e o tio WILSON, os primos CAMILA, RODOLFO e MICHIEL e também os demais amigos que viraram parentes. ZENÍLSON (marido de Flô), MICHIEL BASSUL (pai de Michiel), FABIANA (namorada de Rodolfo), LÍGIA (esposa do tio Wilson), LEILA e CAÉ (ela, filha de minha madrinha, ele marido de Leila), ROGERINHO (filho de Leila e Caé), NININHA (filha da minha madrinha) e BERNADETE (prima de tia Lígia e tia Leila e dentista de meu pai e de Eliane).

Este Laranjal deu muitos frutos. Frutos maravilhosos. E também já quebraram muitos galhos para mim.

Dizem que parente a gente não escolhe. Mas estes eu acho que Deus escolheu muito bem...









Leonardo da Vinci



O bom filho sempre volta à casa, e quer sempre reaprender. Por isto, retornei aos muros do Centro Educacional Leonardo da Vinci, escola onde fiquei por 12 anos, para mostrar o passo que dei na minha carreira literária.

Na foto, um grande incentivador, o ROGÉRIO ABAURRE, e a pessoa que é a mais importante no meu ambicioso projeto na escrita. PAULO DE TARSO, um professor de Português que acabou sendo um grande amigo e empenhado leitor. Ah, e que me revelou que tem Minha querida Dorotéia em seus arquivos. Espero que me passe logo.

Também estiveram presentes no lançamento o JOÃO DUARTE (professor de Física e Matemática) e a professora IDELZE (de Literatura). Na sexta, fui ao Da Vinci e vendi mais alguns livros para meus ex-professores MANOLO, BABY, LUÍS CLÁUDIO, SANDRA, MANGA, MARCOS, JOELMO, MORELATTO e outros que ainda estão interessados no livro.

A eles e a todos que quiserem meu Diário de um salafrário, por favor, me enviem um e-mail:

viniciusfaustini@gmail.com

Eu encaminharei assim que puder.

Francisco, Bernadete, Heráclito e Márcia Chagas



Nesta foto que meu pai tirou, deu pra reunir pessoas que me homenagearam de maneira impressionante no dia primeiro de outubro. Cada um com uma boa história pra eu voltar e contar.

BERNADETE AQUINO tinha perdido a mãe, dona Zilaura, no dia anterior. Na quinta pela manhã aconteceu o enterro. Mas de noite ela estava lá, para me prestigiar nesta empreitada literária, ao lado do FRANCISCO, seu marido.

Os da outra mesa são como músicas para todos os ouvidos:

HERÁCLITO foi uma das excelentes participações musicais que tive o prazer de receber no dia primeiro. Ele me emocionou ao cantar Sorri (versão de Smile, de Chaplin) e também com o carinho que recebi dele e de sua esposa Maria Regina.

MÁRCIA CHAGAS fez parte do trio Vozzes ao lado de Eliane (e também de Andréa Ramos, que não pôde ir) e foi lá para fazer um dueto com ela. Acompanhada de seu marido, o pianista Maurício Fazz.

Boulevard da Praia



Durante inúmeros anos, a turma do Boulevard da Praia foi uma segunda família. Não só por laços sanguíneos, mas por ser aquela família tradicional, que mesmo com suas chuvas e trovoadas se reencontrava todo sábado.

Alguns podem dizer que é perda de tempo se encontrar com pessoas que não são da mesma idade que eu, me acusavam de ser um velho e diziam que eu não iria a lugar nenhum conversando com pessoas que se encontravam pra beber. Mas ninguém tem ideia do quanto minha escrita é grata a todos os que estiveram comigo estes anos todo. E que de amigos do meu pai viraram meus amigos e padrinhos literários.

Estiveram presentes:

PAULO BONATES (que falou coisas emocionantes para mim num dos intervalos do show da Eliane e do Maurício)
FRANCISCO EMMERICH
FERNANDO HERKENHOFF
EDIVALDO SPOSITO
MILTON COTS
GUILHERME LARA LEITE (com participação especial de NANÁ)
EPICHIM
JOAREZ CACUCA (que rendeu mais uma boa "desventura" de sua impagável tentativa em manter a fama de conquistador)
LAURO VASCONCELLOS (grande vascaíno)
ZÉ DO LAURO(irmão de Lauro e companheiro de Maracanã em jogo do Vasco) e NEIVA
ZÉ DALTON
LILI BRIOSCHI
JÔNICE e ALICE
VALTÃO

e tantos outros...







Praticamente da família



A LANA e o DIMICA são amigos do meu pai desde que eu me entendo por gente e ainda os chamava de "tia" e "tio". A intimidade é tanta que quando eu fui escrever a dedicatória pra eles eu notei que não sabia o nome verdadeiro do tio Dimica.

Ele falou que se chama Aldemir José (e que por isso meu pai brincava que ele é a única pessoa que tem "mijo" no nome - para a piada fazer efeito, leiam em voz alta o nome do Dimica rapidamente), mas que não ia achar que era com ele se eu colocasse seu nome verdadeiro. E os dois estavam lá pra me abençoar neste lançamento.




*****



A família Sarcinelli também é parte dos "agregados" das minhas duas famílias. O ROBERTO e a SOLANGE também passaram por lá. O Roberto está numa das fotos de fila do lançamento, mas a Solange aproveitou um momento de folga meu pra conversar um pouquinho. Meu pai tirou a foto e disse que a gente parecia mãe e filho. Espero que dona Kátia não fique enciumada.



Eu estava sem comer desde o meio-dia, e aproveitei um breve descanso para comes e bebes. Ao lado da Solange, tive a grata presença do cantor e compositor CHICO LESSA, que, em troca do livro, me deu seu disco novo em primeira mão.

Herança paterna



No post anterior, citei o nome do Lelo Coimbra, dizendo que uma foto com ele vale mais do que carteira de juiz. Mas, certamente, um nome que me faz ser tão bem acolhido em Vitória é o que eu carrego.

Faustini é o sobrenome que herdei do seu Tarcísio. Meu pai foi professor de cursinho durante mais de 30 anos, e herdou amizades também em seu trabalho como engenheiro na Companhia Vale do Rio Doce ou nas noitadas capixabas.

Todos também estiveram lá, na fila. Só que dessa vez ele era o pai do Vinícius, e o fotógrafo da noite.



Ao meu lado, MARTA, colega da Vale (curiosamente, eu não lembrava do nome dela, mas lembrava do sorriso). E também o WILSON VETORAZI, presidente do Sindicato de Bares do Espírito Santo. Ou, como eu o conheci, ex-dono do bar Amigão e da simpática casa de shows Zanzibar.



Acima, amigos do meu pai. Eu não lembro de todos os nomes, só mesmo dos dois do meio, que são o FERNANDINHO (que eu via muito quando meu pai tinha casa em Santa Cruz, interior do estado e terra onde pulei muito carnaval) e o FÁBIO, que eu não lembrava o nome mas ele disse na hora da dedicatória.

Começando os trabalhos



Mal o relógio marcou 18:30 e algumas pessoas já estavam chegando no Wunderbar Kaffee. Os "madrugadores" de horário me deram um alívio. Achei que iria ficar alguns minutos angustiado porque ninguém viria. Felizmente, as pessoas que foram eram só um começo da noite.

E QUE COMEÇO!



MARIA IGNEZ e sua filha, CLARA. Mais tarde, o OSWALDO se juntaria à festa com toda sua simpatia. Ah, lógico, a Clara tem ainda 13 anos, e já recomendei que ela pode ler o Diário de um salafrário inteiro daqui a uns dois ou três anos.



O deputado LELO COIMBRA ao lado de JOSÉ FERRO. Amigos que conheço desde pequeno e que foram conhecer um pouco do que o filho do Tarcísio tem pra mostrar em seus textos.





Como o Lelo é um político de destaque no Espírito Santo (já foi vice-governador, inclusive) e uma pessoa que não aparece muito na noite capixaba, vieram mais fotos com ele. Afinal, foto com este homem íntegro que representa os capixabas vale muito mais do que carteira de juiz.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O salafrário em Vitória


Amigos,

não há palavras suficientes para designar as emoções que senti no lançamento em Vitória, ontem. O show de Eliane Gonzaga e Maurício Fazz, as presenças de amigos de ontem, de hoje e de sempre. A certeza de que meu livro foi um grande motivo para uma reunião de velhos amigos e conhecidos capixabas torna ainda mais especial a noite de primeiro de outubro de 2009.

Seguem algumas fotos iniciais. Depois virá o resto, nos próximos dias. Espero que gostem dos primeiros momentos passados aqui.

Obrigado a todos,

Vinícius Faustini.









quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Os contos da juventude de Vinícius Faustini



No dia de seu lançamento, o Diário de um salafrário recebeu uma de suas maiores divulgações aqui em Vitória. Na página 2 do Caderno Dois do jornal A Gazeta, há meia página com uma reportagem sobre este que vos escreve. Mais do que nunca, sei que minha terra sabe da minha escrita.

Agradeço a todos que me apoiam e me acompanham, familiares, amigos e leitores. E também ao Tiago Zanoli, pela matéria que escreveu (com direito a foto e tudo). Segue o texto! Na foto, a chamada de capa do Caderno Dois. Em A Gazeta, o jornal do Espírito Santo.

*****

OS CONTOS DA JUVENTUDE DE VINÍCIUS FAUSTINI

por Tiago Zanoli

Antes de descobrir o universo rodrigueano, o infante Vinícius Faustini aventurava-se por uma literatura mais ingênua - alguns de seus primeiros contos chegaram a ser publicados em A Gazetinha. Aos 13 anos, no entanto, ao deparar-se com a obra de Nelson Rodrigues, mandou a castidade às favas e optou pelo lado menos politicamente correto da alma humana.

Hoje, aos 26, o jovem escritor já acumulou relativa experiência no mundo das letras. Formado em Jornalismo pela PUC-RJ, trabalhou no jornal "O Pasquim 21", colaborou com diversos sites, escreveu para teatro, publicou blog... Mas a sua maior realização chegou agora, em uma brochura de 136 páginas intitulada "Diário de um Salafrário".

Trata-se de seu livro de estreia, que será lançado hoje à noite, em Vitória. A obra reúne 30 contos escritos por Faustini entre os seus 17 e 25 anos, e publicados originalmente no blog homônimo (diariodeumsalafrario.blogspot.com).

"Devo muito a Nelson Rodrigues, mas também bebi em outras fontes, como Rubem Fonseca e Machado de Assis", afirma o escritor, que cresceu ao lado da leitura e da escrita e sempre se interessou em conhecer novos autores (ou os "velhos" por ele ainda não descobertos).

Um professor de português e os colegas de sala de aula formaram seu primeiro público leitor, no Centro Educacional Leonardo da Vinci. Paulo de Tarso, o professor em questão, apreciou a escrita de Vinícius e o incentivou a ler um de seus textos em sala de aula. Um pouco intimidado, o rapaz dividiu com os colegas o conto "Minha Querida Dorotéia" - cujo paradeiro o autor hoje desconhece.

Em 2002, trocaria Vitória pela capital carioca, a fim de cursar a faculdade. "Decidi fazer Jornalismo, pois era onde eu poderia escrever. Na faculdade, cheguei a ter aulas de Comunicação e Literatura", conta. Nesse ínterim, também participou de uma oficina de criação literária com a escritora e também jornalista Virginia Cavalcanti.

Para o teatro, escreveu diversos esquetes, como "Ensaio Aberto", feito a quatro mãos com Leandro Soares. Depois de um período sem se dedicar aos contos, Vinícius retomou a escrita. "Comecei a criar uma disciplina, determinado a escrever pelo menos um conto por semana."

Tendo começado a publicar sua obra em meio virtual, Faustini acredita na internet como um espaço bastante democrático. "Embora haja bastante joio, há muita coisa na web que tem valor. E um autor que tem um bom nível de escrita permanece", afirma o escritor, que continua escrevendo contos, publicados em seu blog.

A entrada no mercado editorial se deu com um "empurrãozinho" do escritor Paulo Sérgio Valle, autor de "Se Eu Não te Amasse Tanto Assim...". Sabendo do pouco interesse de grandes editoras por novos autores, sobretudo os que escrevem contos, foi ele quem orientou Vinícius a procurar uma editora menor, onde teria mais acesso para acompanhar o processo de edição.

"O pessoal da Litteris foi muito gentil e paciente. Houve umas quatro idas e vindas, até concluirmos a edição. No fim, como Roberto Carlos faz com seus discos, tive de abandonar o meu livro", diverte-se. ( Tiago Zanoli)

Confira

Vinícius Faustini - Diário de um Salafrário
Litteris Editora 136 páginas
Quanto: R$ 25,00
Lançamento: Hoje, a partir das 18h30, no Wunderbar Kaffee (Av. Rio Branco, 1.305, Praia do Canto, Vitória). Informações: (27) 3227-4331.

*****

Na versão online da reportagem, Zanoli disponibilizou um trecho do livro. Trata-se do conto Qualquer uma. Bom, creio que a divulgação está perfeita. Agora é esperar até daqui a pouco.