Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Uma excelência em meu livro



Hoje o Diário de um salafrário recebeu uma importante adesão em seu passo rumo à publicação. A jornalista ROZANE MONTEIRO aceitou fazer o prefácio do livro, ou seja, dar um pouco do parecer dela sobre o que é dito nas páginas do salafrário que vos escreve.

A opinião dela é confiável, afinal, a Rozane é expert, e desvendou em livro todas as características de um tipo muito comum na selva amorosa. Ela é autora do livro Sua excelência, o canalha, que relata em posts a vivência de uma mulher com um sujeito marcado pela canalhice.

Assim como aconteceu comigo em Diário de um salafrário, o texto da Rozane também começou em formato de blogue e depois foi pro prelo. Para conhecer o blogue dela, basta acessar o link:

http://suaexcelenciaocanalha.blogspot.com/

(que também está nos favoritos deste Diário...)

Na foto, a capa de Sua excelência, o canalha. Acessem o blogue dela para saber como encontrá-lo.

Obrigado pela excelência, Rozane. O Salafrário agradece...

Vinícius Faustini

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Palhaço, palhaço...



Para a marcha da Quarta-Feira de Cinzas, o Diário de um salafrário apresenta um conto inédito. Quem sabe já não saia num eventual segundo livro?

Obrigado a todos,

Vinícius Faustini


*****

"Acorda, vagabundo!". O som da bateria ainda insistia, já quase em surdina nas minhas recordações. Imagens iam e vinham na minha cabeça, passos de uma multidão se perdendo numa carreata que seguia ao som da marchinha e, em vez de caminhar, todos iam em seus vários compassos e descompassos. Um som de trombone e um coro desafinado entoavam "quanto riso, oh, quanta alegria, mais de mil palhaços no salão".

Um pedaço de pau agora acompanhava aquela voz. "Acorda, vagabundo!". Os raios de sol assustaram minha vista. Reabri os olhos e percebi que o dia estava claro. Eu estava deitado, minha cama era a calçada e o travesseiro era formado por umas duas ou três pedras portuguesas soltas.

Eu comecei a levantar e minha vista ficou turva. A pessoa que me acordou evitou que eu caísse novamente. Por um momento sorri. Olhei para o porteiro, que estava de cara amarrada, e tentei quebrar o gelo cantarolando "vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é carnaval...". Não adiantou nada. Com a mesma vassoura que me acordou, ele me espantou, e ainda com um resmungo: "Mas é cada uma que me aparece". Eu já estava de costas pra ele quando ouvi: "O carnaval acabou, palhaço! Volta pra casa!".

O relógio digital marcava sete e meia da manhã. A cidade amanhecia triste, já na sua rotina de dia da semana. É, estava sepultado mais um carnaval. Olhei para mim mesmo. Estava sem camisa, com um cordão colorido pendurado no pescoço, bermuda e tênis. Passei a mão no rosto e percebi que a maquiagem de palhaço já estava desfeita pelo suor da folia.

Coloquei a mão no bolso para pegar a chave de casa e... Notei que faltava minha carteira. Meu outro bolso também estava vazio, nem precisei colocar a mão pra saber que meu celular já era. Dava para ir até em casa a pé, quem sabe até lá eu encontrava uma desculpa pra minha esposa. Ainda mais que eu acabava de olhar minha mão esquerda e percebia a ausência da aliança de casamento, que foi roubada de maneira tão perfeita que nem deixou sangue.

Segui o trajeto, perto da praia. A brisa ainda passeava no meu rosto e eu tentava vencer a dor de cabeça da ressaca para relembrar tudo o que acontecera antes de eu cair no sono. Eu observava a avenida, lembrava que eu tinha passado por ela, que a bateria seguia no chão e os intérpretes cantavam marchinhas repetidas pela multidão.

Eu de palhaço, com maquiagem feita com pasta de dente vermelha e branca e um nariz comprado em camelô, sozinho e tranquilo na rua. Parei num lugar para tomar mais uma cerveja e aquela morena maravilhosa vestida de onça merecia mesmo uma cantada.

Acho que a bebida alterou o meu juízo, porque esqueci os votos matrimoniais e disse bem baixinho no seu ouvido: "Eu tenho carinho especial por felinas". Ela deu um sorriso vulgar e falou: "Espero que isso não seja nenhuma palhaçada".

Nem esperei ela formar outra frase e logo nos beijamos. Eu segurei seu ombro e ela notou minha mão esquerda. "Casado, é?". Por uns segundos fiquei constrangido, mas todo o constrangimento se dissipou numa pergunta: "Faz diferença pra você?". Ela subiu até o meu ouvido e sussurrou: "Nenhuma".

Com as mãos envolvendo seu pescoço, fomos pulando na contramão do bloco. "Se a canoa não virar, olê, olê, olá, eu chego lá...". Chegamos em um prédio perto de outro bloco de carnaval. Subimos já aos beijos, e eu não resisti a puxar a alcinha do sutiã de oncinha que agora não impedia mais nada. A porta do elevador abriu com ela de costas e eu beijando seus seios. Íamos nos apoiando na parede até chegar à porta do apartamento dela. Nem esperei a porta se fechar para puxar as cordas de sua tanguinha.

O cheiro de "Bom Ar" pairava pela casa, e se diluía no perfume barato dela. Eu a sentia no meu corpo e ela percebia o quanto eu precisava dela naquele instante. Num empurrão ela me deitou em sua cama de solteira, e me travou de uma forma que eu não conseguiria sair de lá - mas certamente eu não tinha nenhuma pressa de sair de perto de sua nudez.

Ela se abraçava a mim, cravando as unhas nas minhas costas e sussurrando "mais... mais...". Segurei a morena pelos quadris e no êxtase que pairava por nós dois, caímos um do lado do outro, ofegantes, com o coração na batida do samba que vinha do lado de fora. "É com esse que eu vou sambar até cair no chão".

"Vou pegar uma bebida pra nós...". Balancei a cabeça afirmativamente e saboreei com os olhos a marquinha de biquíni que ela tinha no bumbum. Em seguida, ela voltou com dois copos cheios de cerveja.

Fizemos um brinde. Ela, lasciva, me beijava o pescoço e passava a mão nas minhas coxas. Recostou a cabeça no meu ombro, e sussurrou deliciosamente: "Palhaço, palhaço...".

Minha lembrança seguinte é a do porteiro com um cabo de vassoura na mão dizendo "Acorda, vagabundo!". Eu estava a duas ruas da minha casa e agora as lembranças pareciam trazer algum sentido. Agora, restava ensaiar alguma desculpa para a minha mulher, tomar um banho e curar a ressaca.

O carnaval acabou. Mas por muitos carnavais eu vou me lembrar daquela oncinha que em sua voz assanhada definira muito bem o que eu sou. Palhaço, palhaço...

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O salafrário recomenda...



Hoje este Diário de um salafrário deixa de lado seus jogos literários e abre espaço para uma dica de leitura envolvendo a paixão nacional chamada FUTEBOL. Afinal, todas as pessoas que acompanham este esporte sabem que mais do que os títulos, o mais valioso do futebol são os "causos" que ele nos proporciona.

20 anos da Copa do Brasil - de Kaburé a Cícero Ramalho é uma tabela fantástica do comentarista esportivo Alex Escobar com o pesquisador Marcelo Migueres, que reuniram em 219 páginas a trajetória da competição nacional considerada "o caminho mais curto para a Taça Libertadores da América". De uma competição desacreditada, pouco valorizada pelos clubes de maior expressão do Brasil, aos poucos a Copa do Brasil foi ganhando sua importância, em especial por ser o único torneio a proporcionar a maior graça do futebol: a equipe considerada mais fraca surpreender e deixar para trás os times "fortes" do Brasil.

Enquanto a fórmula do Campeonato Brasileiro (em especial o recém-implantado "sistema de pontos corridos") não permite drásticas mudanças de panorama do futebol nacional, a Copa do Brasil apresenta uma competição extremamente democrática. São credenciados à disputa os campeões de todos os estados do Brasil, vice-campeões de determinados estados e alguns clubes convidados. Desde seu início, em 1989, o sistema de disputa é o chamado "mata-mata", no qual dois clubes se enfrentam em duas partidas, com cada equipe jogando uma vez em seu estádio e outra vez fora dele. O critério de desempate é o saldo de gols (por exemplo, se uma equipe vence por 2 a 0 mas perde a segunda partida por 1 a 0, a vencedora do primeiro jogo está classificada por causa da diferença de gols). Outro fator que tornou mais emocionante este tipo de competição foi o critério de gols marcados "fora de casa": se um time fora de seus domínios perde por 2 a 1, para se classificar basta vencer por 1 a 0, pois vale o gol que ela fez jogando "na casa do adversário". Quando há dois resultados "iguais" (no caso de empate com o mesmo número de gols marcados, ou no caso de uma vitória e uma derrota pelo mesmo placar), surge outro grande momento de emoção e de histórias: a disputa por pênaltis.

E é graças a estes regulamentos e aos acasos que tornam fascinante o futebol que a Copa do Brasil se tornou a mais imprevisível de todas as competições brasileiras. Através dela, o país foi apresentado a campeões como o Criciúma (time catarinense treinado por um então desconhecido Luiz Felipe Scolari, e que sagrou-se campeão em 1991), o Santo André (time do interior de São Paulo que na final do certame de 2004 derrotou o Flamengo em pleno estádio do Maracanã), ou o Paulista de Jundiaí, vencedor em 2005 sobre o Fluminense, também em terras cariocas.

O torneio também trouxe seus personagens folclóricos e suas situações curiosas, como Cícero Ramalho, personagem que faz parte do título do livro de Escobar e Migueres. Aos 40 anos de idade, 11 quilos acima do peso, o artilheiro do modestíssimo Baraúnas do Rio Grande do Norte foi ao Rio de Janeiro em 2005 e, no estádio de São Januário, comandou a vitória por 3 a 0 do time potiguar que eliminou o Vasco de Romário da Copa do Brasil daquele ano.

O mérito dos autores é não se resumir a contar a Copa do Brasil por meio dos números ou somente destacando os vitoriosos. Há graça de sobra nas derrotas vexatórias, na equipe que pela primeira vez vê o mar da "cidade grande" e também nas "escalações" que a dupla faz com os nomes esquisitíssimos de jogadores presentes em cada edição do torneio.

Em 20 anos da Copa do Brasil - de Kaburé a Cícero Ramalho acompanhamos a ascensão de um torneio contada em detalhes, com todas as ascensões e quedas que passaram por estas duas décadas vividas em campo. Uma vitória de Alex Escobar e Marcelo Migueres, uma vitória do jornalismo esportivo brasileiro e, principalmente, um gol de placa na tabelinha entre a literatura e o futebol.

P.S.: abaixo, dois links de textos deste que vos escreve falando sobre futebol.

O conto 90 minutos:

http://diariodeumsalafrario.blogspot.com/2008/09/90-minutos.html

O texto E eu não paro!, falando sobre o rebaixamento do Vasco para a Série B do Campeonato Brasileiro de 2009:

http://diariodeumsalafrario.blogspot.com/2008/12/e-eu-no-paro_08.html

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Batido o martelo!



O DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO já está no prelo. Ele passará por todos os processos de edição para no mês de SETEMBRO ser lançado durante a XIV Bienal do Livro do Rio de Janeiro.

São os primeiros passos de um diário que vai ultrapassando os limites virtuais pra realidade de um livro. Falta pouco...

Obrigado a todos,

Vinícius Faustini

P.S.: esta foto eu tirei aos 15 anos. Foi quando apresentei um texto meu na aula de Português (e agradeço ao professor Paulo de Tarso pela oportunidade que recebi dez anos atrás), um conto intitulado Minha querida Dorotéia. Apresentei o conto em algumas salas de aula, e fui vestido de Nelson Rodrigues - o conto era explicitamente inspirado na obra do "anjo pornográfico". Meu padrinho achou minha caracterização tão boa que decidiu tirar algumas fotos minhas "incorporando" Nelson. Aí está um dos registros.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

English class

Hoje este blogue mostra em primeira mão um esquete que faz parte de um grandioso projeto meu e do meu amigo Daniel R. Ribas (autor dos blogues Sobrevivendo no limite e Ainda sobrevivendo - ambos os links estão disponíveis nos favoritos). Nossa ideia é reunir esquetes para formarem a peça Surreal. Há alguns anos estamos escrevendo esta peça - e uma hora vai sair.

Peço licença ao meu amigo de fé e meu irmão camarada (sim, ele é isso mesmo, ao pé da letra, e não estou aqui meramente por bajulação) para colocar um esquete criado por ele no qual tive o atrevimento de meter o meu bedelho. Trata-se de um texto que fico muito feliz de ter ajudado - pois eu caí na gargalhada TODAS AS VEZES que li. Não reparem o fato de o final estar meio no ar, a intenção é de que haja mais cena ligada ao espetáculo.

Fiquem à vontade pra comentar. E obrigado ao Daniel R. Ribas, irmão que a vida me deu.

Abraços do salafrário,

Vinícius Faustini


*****

ENGLISH CLASS


Cenário

Sala de aula de curso de inglês. Algumas carteiras e um quadro negro onde o Professor escreverá. O quadro negro deve estar visível para os espectadores. Os alunos estão sentados. Um ator se destaca, em pé, ao lado.

Ainda com o palco escuro, duas vozes começam a falar.

VOZ EM OFF 1 - Este esquete não tem legendas eletrônicas em português. A produção não encontrou tempo ou dinheiro para realizá-los. Como medida provisória, um dos atores traduzirá simultaneamente as falas, para a compreensão dos senhores espectadores. Pedimos desculpas pelo inconveniente.

VOZ EM OFF 2 - Não pedimos!

VOZ EM OFF 1 - Shhh...

VOZ EM OFF 2 - Você fica prometendo emprego pra qualquer primo deslumbrado com carreira de ator e é a minha peça que fica exposta ao ridículo.

VOZ EM OFF 1 - Shhh! E é nossa peça! Eu tenho cinquenta por cento de direito!

VOZ EM OFF 2 - Desde que não comprometa a minha metade, você faz o que você quiser com esses seus cinquenta por cento. E agora essa desculpa barata, que nojento... Bela maneira de jogar na produção a culpa do inconveniente que você mesmo proporcionou.

VOZ EM OFF 1 - Tá, tá... O público veio assistir a uma peça, e não uma separação no litigioso.

VOZ EM OFF 2 - Eu vou...

VOZ EM OFF (interrompe) - Shhh! (indica aos atores) Podemos começar!

O palco é iluminado, os alunos já estão em cena, sentados em suas carteiras. Entra o PROFESSOR.

PROFESSOR - Hi, students.

O ATOR que está no canto do palco é o tradutor simultâneo das falas que acontecerão na sala de aula. Seus movimentos são acompanhar a aula e em seguida olhar para a platéia e traduzir o que foi dito originalmente em inglês.

ATOR - Oi, estudantes.

ALUNOS - Hello, teacher.

ATOR - Alô, tio!

PROFESSOR - So, how was your weekend?

ATOR (inseguro) - “So”, como foi o seu... (se recorda) Weekend? (cantarola) “Quero passar um weekend com você...”

PROFESSOR (ao Ator) - Shhhh. (a um dos alunos) So, how was your weekend?

ALUNO 1 - Good!

ATOR - Bom! Porreta! Do caralho!

PROFESSOR (a outro aluno) - And your weekend? Was it fine?

ATOR (mais inseguro ainda) - E o seu weekend? Foi “fino”?

PROFESSOR e ALUNOS - Fino?

ATOR - Oh, yeah... (fazendo sinal de positivo) Chique, sabe?

Professor e Alunos se entreolham, espantados.

ATOR - O que é que cês tão olhando? Segue, gente! Segue! Ainda tenho que dublar dois filmes ainda hoje...

ALUNO 2 (suspira e recomeça) - My weekend was fine, besides a few problems with my grandmother I’m having to deal with. She’s very sick and I have to care of her.

Todos olham para o ATOR.

ATOR (muito inseguro) - Meu weekend foi fino, numa beliche com problemas da minha mãezona , porque ardia. Ela é muito chique e eu a levei para uma micareta!

PROFESSOR e ALUNOS se entreolham.

PROFESSOR (com sotaque bem forte) - Micareta?

ATOR - É! Micareta! (com sotaque gringo) Carnaval fora de época...


PROFESSOR olha abismado, sem entender.


ATOR (à platéia) - Gringo é tudo burro mesmo. (ao Professor) Brasil! Futebol! Mulata! Do you know mulata?

>ALUNOS começam a gritar, em coro: Mulata! Mulata! Mulata!

PROFESSOR - Shhh! (bate na mesa) Silence in the class!

ATOR (em sua posição de tradutor, fala para a platéia) - Silêncio na classe.

PROFESSOR (tentando se recompor) - Whatever...

ATOR (arrisca) - O que, Eva?

PROFESSOR (articulando melhor e mais irritado) - Whatever!

ATOR (com veemência) - O que, Eva!

Todos fuzilam o ATOR com o olhar.


ATOR (amedrontado) - O que foi?

PROFESSOR pega o ator pela mão e o faz se sentar no chão, junto com a turma do curso.

ATOR (se debatendo) - Ei, que é isso, eu não sou aluno não!

PROFESSOR - Shut up!

ATOR - Olha lá como fala comigo, eu não vou chutar ninguém não! O meu contrato aqui é só pra traduzir…

PROFESSOR (quase aos prantos) - Sit down, please.

ATOR (conciliador) - Ah, tá. (à platéia) Sente abaixo, por favor. (de novo ao Professor) Viu como é que é bom ser educado?

PROFESSOR - Now, students...

ATOR - Anal, estudantes.

PROFESSOR bate na mesa.

PROFESSOR - Please, don’ t talk anymore.

ATOR - Por favor, não talco ninguém mais.

Burbúrio entre os alunos. O Professor olha para o teto e profere palavrões em inglês. Faz menção de estar conversando com alguém. Ao final da conversa, balança a cabeça algumas vezes como se estivesse concordando.

PROFESSOR (a partir de agora, dublado pela VOZ EM OFF 2) - Querido, fecha a tua boca que dela só sai merda. Eu traduzo agora, sim?

ALUNO 1 - What a hell is that?

PROFESSOR (traduzindo para a platéia) - Que porra é essa?

ATOR (desdenhando) - Desbocado...

PROFESSOR - Cala a boca!

ATOR - Vou reclamar com o meu primo e você vai se foder, desgraçado.

PROFESSOR - Cala a boca.

ALUNO 2 - Hey, guy, shut up.

PROFESSOR - Oi, gay. (a voz e o Professor começam a rir) Não resisti. (novamente enérgico) Cala a boca.

ALUNO 1 (ao Ator) - I want to have an English class.

PROFESSOR (ao Ator) - Eu quero ter uma aula de inglês.

ATOR (ao Aluno) - Push dick.

PROFESSOR - Incompetente, puxe em inglês é pull. Pull! E sua tentativa de chamar os meus alunos de puxa-sacos foi tenebrosa. Fica quieto e presta atenção pra melhorar o inglês!

ATOR - Vou chamar o meu primo!

PROFESSOR - Ele tá tendo um colapso te vendo em cena.

ATOR se dá por vencido.

ATENÇÃO: a partir de agora o PROFESSOR fala primeiro em inglês e em seguida a VOZ EM OFF 2 traduz o que ele disse. No decorrer das falas, tudo esculhamba.

PROFESSOR - Now, students, we’ re gonna learn a very important word on english language. It’s a word that English speakers use in almost every occasion, ok? Hoje, a gente vai aprender uma palavra muito importante na língua inglesa, que é usada em quase qualquer ocasião, ok?

PROFESSOR vai para o quadro negro e escreve em letras garrafais: FUCK.

PROFESSOR - Fuck! Now, repeat class!

TODOS - Fuck!

PROFESSOR - Vocês, da platéia, repitam também. Essa é uma peça educativa, todo mundo aprende alguma coisa. Now, platéia, repeat! Fuck! ( pausa. ) Now, anybody knows what does this word means? Alguém sabe o que significa?

ALUNOS (com sotaque carregado) - Vá se foder!

PROFESSOR - No, class. That’s “fuck you” or “go fuck yourself”. Em um português mais erudito, diríamos “vá fazer relações sexuais consigo mesmo”. ( para alunos e plateia. ) Now, everybody repeat. Fuck you.

ALUNOS - Fuck you!

PROFESSOR - Platéia, repeat! ( pausa. ) Now, students e platéia, together. Todo mundo junto. Go fuck yourself.

ALUNOS - Go fuck yourself!

PROFESSOR - And when you want to say that to a large number of people. (vai até o quadro e escreve) Go fuck yourselfs. (para os alunos e a plateia) Everybody!

ALUNOS - Go fuck yourselfs!

PROFESSOR - Now, class, we can also say “fuck off” (escreve no quadro) When we want the person to leave. Quando queremos que alguém saia, também usamos essa expressão, ok?

ALUNOS - Fuck off!

PROFESSOR - When we are scared or surprised with something; quando ficamos espantandos com algo, we say: “What a fuck!”

ALUNOS - What a fuck!

ALUNO 1 (com muito sotaque) - Teacher, isso é “caralho” em inglês?

PROFESSOR (dublado) - Not necessary. Se você quer dizer “caralho” como “cacete”, o órgão reprodutor masculino, we say “dick” ou “cock”. Daí vem a expressão “cocksucker”, o nosso popular “chupador de pau”. Agora, quando “caralho” como interjeição de espanto ou de contentamento, da mesma forma que um “puta que pariu”, a gente diz “what a fuck”. Now, when we don’t want something: “no fucking way”.

ALUNOS - No fucking way!

PROFESSOR (dublado) - Essa expressão é similar ao “nem fodendo” brasileiro. And, finally, when we’ re happy, when can say “that’t fucking great” ou “fuck yeah”!

ALUNO 3 (dublado com uma voz fina) - Teacher, vamos supor.

Para. Se espanta com a voz que o dubla.

PROFESSOR - Go ahead.

ATOR (à platéia) - Vai numa cabeça!

PROFESSOR - Imbecil, é vá em frente.

ATOR - Babaca! Ce tá inventando palavra...

PROFESSOR - Enfim... Go ahead.

ALUNO 3 - Eu conheço uma gringa e ela me convida par sair ao hotel dela, eu digo “that’s fucking great” ou “fuck yeah”!

PROFESSOR (em sua voz original) - They are both correct. (dublado) Ambas as respostas estão afirmativas. (novamente na voz original) Now, class, to improve your lesson. (agora com a voz dublada) Para ver se vocês aprenderam bem a lição, nós vamos ver Pulp fiction sem legendas.

ALUNOS (se levantando) - Fuck yeah!

PROFESSOR (empolgado) - Fuck yeah! That’s fucking great! And class, in almost every sentence with “fuck”, we say at the end “motherfucker”. Em quase todas as sentenças com "fuck", nós dizemos ao final "motherfucker". Ou seja, "filho da puta" em inglês. Repeat, class.

ALUNOS - Motherfucker!

PROFESSOR - Fuck yeah. (agora com a VOZ EM OFF 2) Now, nós vamos para a sala de vídeo. Let’s go, motherfuckers!

Todos se levantam e começam a sair de cena, em fila indiana. Cada vez que um sai de cena, grita MOTHERFUCKER. Depois de todos saírem, o ATOR vai ao proscênio, põe um óculos com armação muito antiga, para parecer um crítico teatral e diz.

ATOR - O texto English class, cuja ideia foi atribuída ao autor Daniel R. Ribas traz uma iniciativa interessante de mesclar o português com o inglês. Entretanto, a segunda metade do esquete desemboca num emaranhado de palavrões e de trocadilhos envolvendo a palavra “fuck”, que acaba por “fuck” com uma cena que poderia ser... (para, pensa) Alguém aí sabe um sinônimo simpático pra “fuderosa”? (pausa) É melhor irmos para a próxima cena.

BLECAUTE