Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

BRASIL POETA publicado!



A antologia BRASIL POETA finalmente foi publicada. Trata-se de uma coletânea com 100 poesias selecionadas de um concurso literário da Litteris Editora realizado em 2009, e que agora chega à sua edição em livro.

Dentre os 100 textos, um atrevimento poético feito por este que vos escreve foi selecionado. O poema POR QUÊ? faz parte desta empreitada da Litteris.

Aos leitores do Diário de um salafrário que queiram adquirir um exemplar, por favor, entrem em contato comigo pelo e-mail viniciusfaustini@gmail.com

BRASIL POETA custa apenas R$ 15,00.

Obrigado a todos, pois esta honra merece ser dividida com cada um dos que acessam este espaço.

Vinícius Faustini

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Litteris informa...



A partir da semana que vem, no dia 29 de junho, estarão disponíveis na Litteris Editora exemplares do livro BRASIL POETA, antologia lançada com poesias de diversos autores que foram selecionados através de concurso. Este que vos escreve estará presente no livro, com um poema entre os 100 escolhidos.

Em breve, outros detalhes!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Roleta russa

Ela dormia, a bandida
Num sono tão doce, a maldita
E a ele doía sentir o coração pulsar
Por uma qualquer que aceitou lhe enganar

A noite era em claro com tantas lembranças
A madrugada era fria de falsas esperanças
E da insônia veio uma coragem decisiva
Impulsos, requintes de uma vingança incisiva

No rosto adormecido dela, procurava a resposta
Um plano definitivo para um serviço completo
Em silêncio, queria dela alguma proposta
Ele não tinha sordidez suficiente para se vingar de um desafeto

Imaginou-se dando a ela uma dose de veneno
E ela a definhar até se arrepender
Mas era imensa a tristeza em assisti-la a se contorcer
E amoleceu sua ideia ao se aninhar naquele corpo moreno

Num instante, pairou sobre si a ideia de uma navalha
Marcar-se na carne dela lhe deu um curioso prazer
Mas qualquer arranhão no rosto dela vinha com tanto sofrer
Que aceitou se derrotar em mais uma inglória batalha

Veio a repentina vontade de ter um revólver
Tentou ser rápido no gatilho e deixar seu plano se desenvolver
Até, no final, perceber que tinha tanto efeito quanto bala de festim
Sua vingança era falsa, mais falsa que texto de folhetim

A janela lhe mostrou o dia claro
Passara mais uma noite como mero ressentido
E a cada manhã que ele começava sabendo que era um homem traído
Sabia que seu desejo de matá-la ia ficando mais raro

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Falso brilhante

Tudo vinha à sua mente, em câmera lenta, trazendo novos e sórdidos detalhes de tudo o que presenciara. Um, a outra, o banco do carro, o rádio ligado, as mordidas daquela mulher na orelha dele. E ele gostava. Sim, sim, ele não confessou tudo, mas sua pouca certeza amorosa sabia que ele mentia ao dizer que tudo aquilo era insignificante. Não eram apenas seus olhos que desmentiam aquela afirmação dele. Era seu sangue que subia à cabeça.

As fotos tiradas com a câmera digital mostradas no computador e enviadas para ele por e-mail. As primeiras com mais clareza, com uma nitidez amarga. As demais, um pouco fora de foco, feitas por mãos trêmulas, metáforas de olhos de choro que veem tudo embaçado.

Ele falou um "eu não sei o que dizer" respondido com palavras de tristeza, tentativas de carícia afastadas com as mãos. Os dois afastados no quarto, ela no canto da cama, encolhida nas próprias lágrimas, ele de pé, estático, em um silêncio frio, de observador.

Ela, rajada de mágoas e confissão de tantas frustrações que vieram em segundos. Ele, argumentos, argumentos e mais argumentos. A presença dele agora a seu lado na cama. Aos poucos, ela cedendo àquele olhar que tanto a fascinava e sem o qual não poderia sequer respirar.

Permitiu que os braços dele a envolvessem. Cedeu ao sentir beijos leves na sua nuca. Mas não conseguiu conter o choro quando os lábios se encontraram. As mãos cerradas debatiam contra o peito dele, inúteis, enfraquecidas por toda dor que a cercava.

Olhou para o rosto dele. Amava e tinha raiva. Tinha raiva dele. Tinha raiva de si. E em meio à raiva, achou-se selvagem, achou-se louca, achou-se intensa. Puxou a calcinha de lado e deixou-se cair sobre o corpo dele. Transformava as cicatrizes em razão do seu próprio prazer. Cravou os dentes no pescoço dele até sentir sangue em seu paladar.

Teve forças para empurrá-lo contra seus seios. Depois de um beijo ardente, deu um tapa em seu rosto. Atônito, ele segurou seus braços, e ela perguntou, baixinho: "Ela ainda é melhor que eu? É? É melhor que eu?". Ele riu, num gemido dizendo "Não... Não...", e aos poucos os dois caíram sobre a cama com a respiração descompassada por tanto delírio.

Esperou que ele recuperasse o fôlego e perguntou, fulminante: "Você ainda me ama?". O "sim" foi suficiente. Ele começava a esboçar palavras de perdão mas ela logo o interrompeu. Disse que faltava só um passo para tudo ficar igual a antes. O dia já clareava quando ele finalmente aceitou.

Na mesma rua sem saída. Do mesmo jeito em que os dois estavam quando ela viu, escondida detrás da árvore, as coisas acontecerem. Foi sórdida, esperou que a mulher estivesse prestes a se sentir plena para, sorrateira, entrar no carro. A outra mal teve tempo de reagir. Ele a segurava pelo pescoço. Ela passava o saco plástico por sua cabeça. Em segundos, os dois asfixiaram todo o mal que ameaçou o amor dos dois.

Antes de jogarem o corpo no esgoto, ele ainda retirou o anel que estava na mão direita da morta. Ela achou estranho, mas ele contou que tinha sido o presente que dera à moça na noite anterior.

Trocaram um beijo e, em seguida, foram para casa. Com a cabeça no travesseiro, ela pôde adormecer novamente num sono despreocupado. E antes de dormir, deixou em seus olhos a imagem do falso brilhante que agora era só dela.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Outra noite

Ensaiou algumas palavras diante do espelho
Seu olhar suplicava qualquer conselho
A contagem dos minutos acelerava
Tudo aquilo o amedrontava

O carro chega à porta do prédio
Um beijo rápido seguido de promessa
Ele a espera partir, não tem nenhuma pressa
Sabe que não vai apenas voltar ao seu tédio

Enxerga sua fraqueza no retrovisor
O vidro não embaça tamanha amargura
Sonhou tanto que a coisa mudasse de figura
E vinha o pesadelo de ter de agir como um agressor

Dá a partida
Quer se apoiar no clichê de que estava em jogo uma nova vida
Acha pouco para o tamanho de sua fraqueza
Descobre que nele e nela havia tanta beleza

Seria nada mais do que um caso
Escape, carência, sentimento raso
Suplicaria que pra ele, ela não faria diferença
A outra não merecia nenhuma desavença

E no pavor de imaginar um aborto
Decidia abortar o sonho a dois num abalo
Diria ser um castigo torto
E choraria com ela o amor ir pelo ralo

Passos

Num sorriso, ela o abraça
Num doce sufocar que surge como mordaça
Hesita, pois sabe que fará uma trapaça
Mas a ela, num delírio, se entrelaça

A verdade se esvai, mais uma vez arredia
A iminência da perda evita que ele se afoite
A amante, a gravidez, tudo, tudo ele adia
Quer viver com ela pelo menos por outra noite