tag:blogger.com,1999:blog-80506679620037665462024-02-19T12:55:20.820-03:00Diário de um salafrárioDesliguem seus celulares, e que tenhamos todos um bom espetáculo!Unknownnoreply@blogger.comBlogger190125tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-81536234308326052682018-08-01T19:02:00.004-03:002018-08-01T19:03:27.878-03:00Deixa quieto<br />
Poeta, deixa quieto<br />
<div class="MsoNormal">
Todo este receio de que seu sonho seja incerto</div>
<div class="MsoNormal">
Toda insegurança de que os olhos dela não estejam mais por perto</div>
<div class="MsoNormal">
Ou que o seu “bom dia” não mereça nem um sorriso aberto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poeta, deixa quieto</div>
<div class="MsoNormal">
Para que sua ânsia de um “eu te amo” não a afaste por completo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Costure com zelo cada detalhe do seu afeto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
Não deixe sua esperança se quebrar como um graveto<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poeta, deixa quieto?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quando desconfia que o carinho dela é cada vez mais discreto</div>
<div class="MsoNormal">
Quando risos amarelos têm a mesma força que muros de concreto</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ou ela começa a questionar se o seu jeito é correto</div>
<div class="MsoNormal">
<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
É, poeta, aí resta não deixar quieto...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Caso nos olhos dela, você só enxergue o deserto<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E ao pensar nela, seu coração só encontre a rima com “inquieto”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vá! É hora de seus olhos caminharem por um novo trajeto</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "calibri" , sans-serif;"><span style="font-size: 14.6667px;">Até que você encontre um amor que mereça novo soneto</span></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-12085719335811478842018-07-23T09:30:00.000-03:002018-07-23T09:33:14.729-03:00Soneto à violinista na estação de metrô<br />
<div class="MsoNormal">
Canções passeiam nas cordas de seu violino<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em meio ao repertório de toques de celular <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ao mau-humor de quem passa com tanto pepino<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O alucinante ritmo da cidade ela quer atenuar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desliza o olhar sobre uma nova partitura<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Entrega a quem vai para o hospital um pouco de ternura <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Segue delicada diante de quem ignora sua gentileza<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nem gritos de ambulantes abafam a sua leveza<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ora tenta acalmar a ansiedade de quem espera seu amor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ora embala casais que trocam juras com tanto ardor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
É hora de canções suaves. A estas cenas, jamais vai se opor<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Ela estende seu repertório a quem traz horas extras de
problema <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Deixa um bis ao morador de rua, para que o relento ele
não tema</div>
<div class="MsoNormal">
E após breves trocas de olhares, me deixa uma saudade que não cabe num poema</div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-90892974454552047112018-07-16T09:00:00.000-03:002018-07-16T11:45:35.596-03:00Soneto ao leitor no engarrafamento<br />
<br />
A ladroagem institucional<br />
<br />
As mazelas corriqueiras<br />
<br />
A mais nova celebridade sensacional<br />
<br />
As rotas afetadas por balas traiçoeiras<br />
<br />
<br />
<br />
Um bueiro que explode na esquina<br />
<br />
Uma falta de novidades sobre a máfia da cocaína<br />
<br />
A fome e a guerra que assombram a Indochina<br />
<br />
Virar a página da miséria vai deixar tudo na surdina?<br />
<br />
<br />
<br />
Suspira, respira sua cota de fumaça<br />
<br />
Esquece os Classificados, pro Esporte já passa<br />
<br />
Quem sabe, no futebol se esqueça da amargura que o abraça<br />
<br />
<br />
<br />
Na dúvida, lê o que vem por aí na novela<br />
<br />
É melhor ler o jornal do que ver a realidade pela janela<br />
<br />
O trânsito ainda é longo, a falta de sonhos segue como sua sentinela<br />
<br />
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-5934506043272485802011-12-03T23:14:00.006-02:002018-07-22T11:57:35.307-03:00DecisãoAs palavras finais no telefonema foram:<br />
<br />
" - Você vai chorar amanhã".<br />
<br />
A voz era relativamente alterada pelo álcool, mas do outro lado da linha, ele, sóbrio, ouvia aquilo e sentia-se mais seguro em sua decisão. Sem resposta, desligou o telefone. Foi até a cômoda. Abriu a gaveta. Ao lado da flâmula antiga com o símbolo de seu time de coração, estava a foto do outro. Olhou-a. Num instinto, cuspiu na direção do rosto retratado e, logo em seguida, guardou a foto.<br />
<br />
Desviou o olhar para o relógio. Passava da meia-noite. O jogo seria às quatro da tarde. Tinha tempo para digerir as doses de rancor com tudo que ainda viria pela frente.<br />
<br />
Demorou a dormir, e só acordou por volta das onze horas com o barulho do celular. Olhou no visor. Era o outro de novo. Em vez do "alô", ouviu como saudação o grito do nome de um clube. Respondeu com um "oi" seco. Estava frio por dentro. Esperou as palavras de provocação cessarem para dizer:<br />
<br />
" - Passo na sua casa à uma, e de lá a gente vai pro estádio".<br />
<br />
Do outro lado da linha, veio a recomendação de que ele levasse lenços brancos. Sua resposta foi um "não, obrigado", seguido do ato de desligar o celular. Por volta do meio-dia, comeu alguma coisa. Tomou um banho. Arrumou-se, com o cuidado de deixar por último a camisa de seu clube de coração. Pegou a carteira e as chaves de casa e do carro.<br />
<br />
Deu a partida e passou o caminho em silêncio. Viu as bandeiras de seu clube e do adversário da tarde. Perto do local que combinou, ligou e disse "desce". Ouviu como resposta o mesmo grito que mais cedo escutara como saudação. Desligou e continuou o percurso. <br />
<br />
Viu o outro entrar no carro. Seguiu em silêncio, enquanto o rapaz alternava o grito constante com comentários sobre o time que torcia. Fazia previsões sobre a humilhação ao rival. Em resposta, o silêncio.<br />
<br />
Avistaram o entorno do estádio às duas e meia. Mais vinte minutos, acharam um local para estacionar o carro. Ele começou a esboçar um sorriso quando viu torcedores com camisas e bandeiras de seu time desfilando pela rua. Alegria logo interrompida novamente pela veemência da mesma voz:<br />
<br />
" - Tudo sofredor que nem você".<br />
<br />
Olhou para o relógio. Já faltava uma hora para o jogo. Começaram a se encaminhar para o setor que permitiria que os dois assistissem à partida lado a lado.<br />
<br />
Entraram, sentaram-se e esperaram mais meia hora. Seu time entrou primeiro. Resumiu-se a bater palmas, enquanto ao seu lado vinham vaias e provocações diversas. O adversário entrou em campo. Limitou-se a ver, e o outro esganiçava a voz para declarar juras de amor.<br />
<br />
A bola rolou. Preparou-se para ficar 90 minutos com um olho no campo e outro nas reações que viriam ao seu lado.<br />
<br />
Era quase estático, um verdadeiro contraste com os movimentos que vinham das jogadas do gramado e das reações das arquibancadas. O jogo era bom, equilibrado, com chances de gol. Apreensão e expectativa se alteravam dentro dele. O outro explodia o que sentia em gestos e palavras. Fim de primeiro tempo. Empate.<br />
<br />
O outro foi ao banheiro. Ele prosseguiu atento. Suava frio com o olhar no campo vazio. Tinha a seu redor o silêncio de um estádio vazio, mesmo na companhia de mais de 70 mil pessoas.<br />
<br />
Segundo tempo, e praticamente o mesmo panorama. A diferença era que seu time começava a errar passes e permitia a chegada adversária. O outro se inflamava e já o chamava de freguês, de sofredor. Tudo intercalado com o grito ao pé do ouvido, que repetia o nome do clube rival.<br />
<br />
Últimos minutos. Seu time cada vez mais acuado. Chutes que iam perto do gol. Goleiro se consagrando a cada defesa. Zagueiros se superando. Placar em branco. Seus sentimentos em branco.<br />
<br />
Acréscimos. Um ataque rival é desarmado na lateral. A bola chega à intermediária vazia. O atacante vai em velocidade, supera o zagueiro adversário na corrida. O goleiro se desespera, sai da área e arrisca um carrinho. Em vão. A bola sela seu destino na rede.<br />
<br />
Seu silêncio é interrompido pelo grito emocionado de gol. Bate no peito e berra o nome de seu time. Depois, observa a reação do outro. Desolado. Frustrado. Abatido.<br />
<br />
Fim de jogo. Ele ouve as reclamações ao seu lado. Árbitro comprado, sorte adversária...<br />
<br />
Saem do estádio. Andam até o local onde está o carro. Ele paga o flanelinha e os dois entram. Passam pelo engarrafamento natural de pós-jogo com casa cheia.<br />
<br />
Aos poucos, o caminho vai ficando mais tranquilo. Mais deserto. Mais ermo. O outro substitui os lamentos da derrota por um ar de estranheza.<br />
<br />
Serenamente, ele para o carro. Abre o porta-luvas, estica-se para abrir o banco do carona e empurra o outro para fora. Fecha as portas com trinco e corre para ver o outro caído. Sorri e aponta uma arma na altura da cabeça dele. Um esboço de movimento é suficiente para ele irromper o silêncio:<br />
<br />
" - No chão! No chão!" - a voz vem com frieza.<br />
<br />
O outro desliza o olhar pelo asfalto, mas logo ouve:<br />
<br />
" - Olha pra mim!".<br />
<br />
Obecede e escuta:<br />
<br />
" - Quem é que ia chorar hoje?" - nova pausa - "Quem?".<br />
<br />
Vê o outro em silêncio, e tripudia:<br />
<br />
" - Grita o nome do teu time agora".<br />
<br />
Espera, atento em sua alegria sádica. Ouve o outro dizer:<br />
<br />
" - Você é meu irmão..."<br />
<br />
Logo o interrompe:<br />
<br />
" - Coisa que você esqueceu nesta semana!".<br />
<br />
Silêncio. Abre o sorriso ao ver o outro chorando. Segura a gargalhada para dizer:<br />
<br />
" - Acabou! Acabou! E eu ganhei... Eu sou campeão!". <br />
<br />
" - Para com essa brincadeira..."<br />
<br />
Direciona a arma para a cabeça do irmão, e fala:<br />
<br />
" - Fim de jogo!".<br />
<br />
O irmão fecha os olhos, resignado.<br />
<br />
Primeiro tiro. Um grito ensurdecedor de gol. Segundo tiro. No peito. E um doce grito com o nome de seu time de coração. O corpo do outro fica estático, esvaído no sangue de uma derrota.<br />
<br />
Ele entra no carro. Pisa fundo no acelerador. Parte e começa a buzinar. Sorri, gritando alucinadamente "é campeão". Saboreava com sangue o doce prazer da sua vitória. <br />
<br />
*****<br />
<br />
<span style="font-style: italic;">Que prazer, depois de tanto tempo, rever você, inspiração. Foi falta de tempo com tudo o que aconteceu em 2011. Sei que suas visitas são mais inconstantes, mas você será sempre bem-vinda quando quiser chegar.<br /><br />Assim como todos os leitores que quiserem aparecer por aqui.<br /><br />Vinícius Faustini<span style="font-style: italic;"></span></span>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-80241698700067642952011-02-02T22:09:00.003-02:002011-02-02T22:10:30.319-02:00Microconto do salafrárioMais uma tentativa de microconto nos moldes do Twitter - em 140 caracteres, e sem título.<br /><br />*****<br /><br />Olhares. Mãos dadas. "Sim". Pularam. Eram um misto de desamor e dependência. Era melhor terminar assim. Juntos, se separavam pra sempre.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-62888404073046427962011-01-19T23:09:00.006-02:002011-01-20T03:30:21.482-02:00Inferno"Você não disse que eu estava bonita..."<br /><br />Um pouco bêbada, muito mansa, esta foi a forma de pedir um pouco de carinho depois da festa. Já fazia um tempo que se acostumara com a falta de amor e se fingia feliz apenas com o fato de adormecer e acordar ao lado dele na cama. Num suspiro de enfado, ele se encaminhou para o quarto.<br /><br />Chorosa, ela se escondeu no banheiro e começou o ritual de desfazer a maquiagem. Suas primeiras lágrimas começavam a deslizar no seu rosto quando ouviu o primeiro ressonar dele. Sentiu amargura pois passaria por mais uma noite mal-dormida e de um tédio que não iria embora com o clarear do dia. Olhou-se de novo e se achou mais bonita. Experimentou sorrir, mas seu sonho foi interrompido por um ronco. O segundo ronco despertou nela uma irritação, que a fez se ver no espelho com um novo reflexo de olhar.<br /><br />Com os olhos, se devorava. Se via mais sensual. Mais desejável. Retocou o pouco de maquiagem que se esvaiu em seu choro. Abriu o estojo de batons, e escolheu o mais avermelhado. Numa carícia ao ego, deu um beijo no espelho.<br /><br />Revirou o armário até achar uma peruca. Saiu do quarto na ponta dos pés. Tomou um café na cozinha, e esperou por alguns instantes até sentir-se sóbria. Procurou os sapatos na sala. Pegou a bolsa. No elevador, deixou o vestido mais decotado e, alegre, sussurrou um "gostosa" para sua própria imagem. Foi até a garagem, saiu com o carro. Com a memória pouco sóbria, rodou alguns quarteirões até chegar ao local que queria. Àquela hora, não era recomendável pedir informações, e muito menos revelar em qual destino pretendia chegar.<br /><br />Desceu do carro. Olhou para o relógio do celular, que marcava três e meia. Respirou fundo e adentrou pela porta do inferninho. A música <span style="font-style:italic;">techno</span> tinha o compasso de um bate-estaca. Uma estaca que cravara em seu coração a certeza da indiferença na qual estava entregue.<br /><br />Casais se abraçavam. Trios se abraçavam. Mulheres e homens se ofereciam a ela. Encabulada, ela notava o ambiente com ares temerosos. Pediu uma bebida - a mais forte - e colocou o dinheiro na mão do <span style="font-style:italic;">barman</span>. Bebeu num gole só e teve vontade de dançar no balanço da música. Viu as mulheres, tão selvagens no <span style="font-style:italic;">pole dance</span>, e, enquanto passava dançando pela pista, sentiu mãos fortes apertarem sua bunda.<br /><br />Aproveitou o palco vazio e subiu. Não discernia rostos, mas gostava de ouvir os aplausos e os elogios gritados por ambos os sexos. Colocou o dedo indicador em sua boca, e foi descendo no ritmo do "chão, chão, chão" que ouvia da plateia que agora era toda sua.<br /><br />Levantou-se e passou a mão por seu colo até exibir um pouco mais do seio. Com a outra mão, colocou o outro seio para fora do decote. Virou-se de costas e foi subindo o vestido até exibir um pouco da calcinha. As pessoas pediram para ela tirar, e ela, passando a língua entre os lábios, jogou o vestido no chão. Jogou também um beijo para o velho com cara de caipira que lhe erguia uma taça de champagne.<br /><br />Empinou a bunda e colocou para a frente seus seios médios. Balançou o corpo e, de costas para a plateia, desabotoou o sutiã e colocou-o em seus dentes. Com olhar sensual, escolheu um homem e atirou o sutiã na direção dele. Colocou os seios em suas mãos e fez menção de quem estava servindo para seus espectadores. Erótica, passou a língua num dos mamilos, e fechou os olhos para ouvir melhor as explosões de desejo que seus gestos despertavam.<br /><br />Exibiu a bunda vestida com uma calcinha. A calcinha fio-dental vermelha que escolhera para o homem que amara e, novamente de costas para a plateia, rebolou ao som de seu instinto. Já não descia o corpo e subia com a ansiedade de quem queria se perder no corpo de seu amado. A sensação era a de ser deflorada por completo por todos aqueles que agora a admiravam.<br /><br />Com as pontas dos dedos, foi descendo a calcinha até as canelas. Virou-se de frente para o público. Sentada no palco vagabundo do inferninho, com o sexo escancarado, atirou a calcinha na direção de um sujeito malhado que vestia camiseta. Dançava freneticamente, alegre, solta, alternando entre a volúpia de ser possuída por muitos olhares e o êxtase de quem se descobria em meio a tanto desejo guardado.<br /><br />A música acabou. Agradeceu os aplausos. Escondeu novamente o corpo no vestido. Passeou pela pista com uma incredulidade capaz de deixá-la apenas agradecida a tantos assédios que despertara com apenas uma dança.<br /><br />Saiu da boate. Na porta do estacionamento, hesitou por um instante. Voltou até a porta e perguntou ao segurança o horário do fechamento. Ele respondeu "seis horas". Ela olhou para o relógio do celular. Tinha ficado apenas meia hora.<br /><br />Riu alto. Foi até o carro. Deu a partida, mas logo desligou novamente. Teve angústia por saber que, ao voltar para casa, sua outra face a abandonaria novamente. Quis viver mais um pouco, mesmo ciente de que logo voltaria a morrer em seu tédio.<br /><br />Só que agora, ela queria viver um pouco mais daquele breve sonho sozinha. E depois de exibir sua beleza aos olhos de tantas pessoas sedentas de prazer, deitou-se com sua nudez no banco de trás do carro. Fez do vestido cheirando a uísque falsificado o seu cobertor. E caiu adormecida, amparada por todo o paraíso que encontrara dentro de um inferninho.Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-65106961737247349842011-01-12T22:12:00.002-02:002011-01-12T23:01:41.358-02:00O primeiro microconto de 2011<span style="font-style:italic;">Neste reinício do <span style="font-weight:bold;">Diário de um salafrário</span>, este que vos escreve se arrisca novamente no formato de microconto. Um aperitivo para tanta coisa por dizer em 2011.<br /><br />Abraços a todos,<br /><br />Vinícius Faustini</span><br /><br />*****<br /><br />Lingerie. Perfume. Olhar sedutor. Pele arrepiada. Desejo de ser amada. Em resposta, indiferença. E um breve "vamos dormir".Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-39861604672541807752010-12-22T19:51:00.004-02:002010-12-22T22:02:22.186-02:00Fluminense, épico em 38 atos - A NELSON RODRIGUES<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr-VBPaU4xYuQrS9xTPn5TE71FA28X1eWUGwJ1boYXMlMlsv6zBm1f6N3he0zDVQZfmGaVfe9x9rCYWrN7PWogqucE3zZR8_arqvkJFKwyG-LZanrp_oGgqUcwAzn5OlXvsl2IA8XzkyU/s1600/nelson+rodrigues+fluminense.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 216px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhr-VBPaU4xYuQrS9xTPn5TE71FA28X1eWUGwJ1boYXMlMlsv6zBm1f6N3he0zDVQZfmGaVfe9x9rCYWrN7PWogqucE3zZR8_arqvkJFKwyG-LZanrp_oGgqUcwAzn5OlXvsl2IA8XzkyU/s320/nelson+rodrigues+fluminense.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5553635236804888738" /></a><br /><br /><span style="font-style:italic;">No dia 21 de dezembro de 1980, Nelson Rodrigues fechou seus olhos pela última vez. Olhos que enxergaram o amor pelo buraco da fechadura para que, através deles, todos nós pudéssemos ver a vida como ela é. Com todos os achaques da hipocrisia, das perversões e de um amor desmedido, capaz de todos . Porque aquele que nunca sonhou morrer com o ser amado, é porque nunca amou.<br /><br />Os amores e as paixões renderam 17 peças, milhares de contos de <span style="font-style:italic;">A vida como ela é...</span> e também chegaram ao universo do futebol. Nelson Rodrigues diagnosticou o "complexo de vira-latas" que o Brasil tinha desde a derrota da Seleção Brasileira para o Uruguai na Copa do Mundo de 1950, mas oito anos depois contemplou a vitória do escrete na Suécia com o grito "Abaixo à humildade!". E também transformou clubes, jogadores, seleções em personagens de grandes e homéricas batalhas.<br /><br />As mais apaixonantes, certamente, foram envolvendo seu Fluminense. O único tricolor (pois os outros são times de três cores) que nasceu com a vocação da eternidade, e vence até mesmo a desconfiança dos idiotas da objetividade. <br /><br />Nos 30 anos sem Nelson Rodrigues, este salafrário que vos escreve deixa de lado sua paixão clubística para reproduzir aqui uma homenagem ao campeão brasileiro de 2010, o Fluminense, em texto feito em homenagem ao molde rodrigueano de escrever. <br /><br />Com esta postagem, o Diário de um salafrário encerra suas atividades no ano. E deseja a todos os leitores um Feliz Natal e um Ano Novo com muitas obras a serem escritas. <br /><br />Abraços a todos, <br /><br />Vinícius Faustini </span> <br /><br />*****<br /><span style="font-weight:bold;"><br />FLUMINENSE, ÉPICO EM 38 ATOS</span><br /><br />O coração tricolor se multiplicou por exatos 40.905 presentes no Engenhão. Corações Valentes, que saltaram pela boca aos 17 minutos do segundo tempo. No momento em que Emerson fez sua soberania de Sheik e sua qualidade de atacante superarem o arqueiro do Guarani. Goleiro também de nome Emerson, mas agora mero coadjuvante de um gol que mais tarde seria louvado como decisivo. <br /><br />O clube tantas vezes campeão chegou a mais uma conquista. Para muitos, sua segunda. Mas para a torcida do Fluminense, tão empenhada em registrar sua história, a terceira conquista nacional - além dos títulos de 1984 e de 2010, o clube pleiteia o reconhecimento do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, de 1970, como título brasileiro (pois era no mesmo formato do Campeonato Brasileiro disputado a partir de 1971).<br /><br />O Fluminense fascinou pela sua disciplina. Disciplina imposta pelo técnico Muricy Ramalho, que deu a um elenco cheio de estrelas o ímpeto digno de uma equipe vencedora. O Fluminense que dominou, em todos os setores do campo, com um futebol seguro defensivamente, veloz em seus contra-ataques e ferino quando estava cara a cara com os goleiros adversários. Um Fluminense que teve amor ao tricolor, amor simbolizado por Darío Conca, o grande líder que não se deixou abater e esteve presente nas 38 rodadas do Campeonato Brasileiro.<br /><br />Salve o querido pavilhão! Ricardo Berna, Mariano, Gum, Leandro Eusébio e Carlinhos; Diguinho, Valencia, Júlio César (Washington) e Conca; Emerson (Rodriguinho) e Fred (Fernando Bob). Pavilhão formado por outros tantos jogadores que vestiram sua camisa durante a competição - desde pratas-da-casa, como Fernando Henrique e Tartá, passando por medalhões como Belletti e Deco. A camisa com três cores que traduzem tradição. Que, mesmo com um elenco tão numeroso e cercado de talentos, encontrou a paz. Dela, surgiu a esperança, consolidada a cada vitória. A cada três pontos, que deixavam a equipe mais unida e forte. <br /><br />Pelo esporte, várias pessoas tiraram e tirarão de seus armários a camisa tricolor. Ela, que tem o verde da esperança, numa espera que foi alcançada após um hiato de 26 anos entre a final contra o Vasco em 1984 e o jogo decisivo de 2010 contra o Guarani. Ela, que traz cor encarnada, com o sangue dado pelos jogadores que as arquibancadas definiram como "time de guerreiros". E que, depois do apito final de Carlos Eugênio Simon, passou a comemorar em harmonia, na harmonia de tom branco que define sua camisa como tricolor, a paz de chegar a um título justíssimo.<br /><br />O sol do amanhã, como a luz de um refletor, brilhará com as três cores e os sorrisos de vários tricolores que começaram a comemorar no início da noite de domingo. Todos vibrando com a emoção de quem voltou a gritar "é campeão".<br /><br />*****<br /><span style="font-style:italic;"><br /><span style="font-weight:bold;">Diário de um salafrário</span> volta a ser atualizado em 12 de janeiro de 2011.</span>Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-12545110778319679452010-12-15T22:32:00.005-02:002010-12-15T23:39:57.412-02:00DesejoSegurou os cabelos com as duas mãos, para colocar à mostra sua nuca. Sentiu um arrepio quando os lábios dele molharam seu pescoço, e com a ponta dos dedos tirou o sutiã para que as mãos dele acariciassem seus seios pequenos. Quando a respiração dele se apoiou em seu ombro, teve gana de roubar-lhe um beijo. Mas foi malvada, sedutora, e desviou o rosto quando ele ia corresponder.<br /><br />Deitou-se, repousando o pé sobre o peito dele. Sorriu de maneira sensual, mas à medida que passava a ponta dos dedos por suas pernas e suas coxas, foi dominada por um sorriso vulgar. Estava pronta para se deixar dominar por ele. Com a ponta dos dedos, desenrolou o laço da calcinha e sussurrou um "vem".<br /><br />Ignorou as mordidas que tiravam sangue de seus mamilos. Ignorou a força da mão dele apertando suas costas. Ignorou o nojo com o qual estava da língua dele passando por sua boca, por seu corpo e por seu sexo. Teve um suspiro de alívio quando ele caiu ofegante ao seu lado na cama. Mais uma vez conseguiu desviar o rosto de uma tentativa de beijo que vinha daquele hálito de cigarro barato.<br /><br />Sentou-se na cama. Teve de conter sua raiva quando aquela mão áspera acariciou sua bunda. Com a voz de quem segurava o choro, perguntou, sem fitar os olhos dele: "agora está tudo certo?".<br /><br />Ele, ainda ofegante, soltou um "sim". Ela levantou-se. Escondeu sua nudez numa toalha. De costas para o homem, disse que ia tomar um banho. Com os olhos marejados, pediu um "quero ficar sozinha". Entrou no <span style="font-style:italic;">box</span>. Derramou gotas de alegria pelo fim de tanta mágoa. Ficara para trás a dívida. Por um momento, sentiu-se leve, alheia até mesmo ao próprio corpo. Só voltaria a precisar da sua beleza na próxima vez que o desejo pela cocaína fosse maior do que qualquer culpa.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-17000365002692057812010-12-08T21:22:00.009-02:002010-12-09T01:39:50.645-02:00PormenoresPorta entreaberta. Ele deu passos lentos, movidos pelo desejo de fazer o mínimo de silêncio e pela ansiedade de que tudo não passasse de um susto. Num primeiro momento, não deu por falta de nenhum objeto de valor. Aos poucos, foi se tranquilizando do pânico de que ainda tivesse alguma pessoa dentro do apartamento. <br /><br />Relaxou. Desfez-se das roupas cotidianas. Foi até a cozinha e abriu a porta da geladeira. As mãos ficaram trêmulas diante do que viu. Um pedaço de seu doce favorito. Do doce que ela fazia com tanto carinho. Não teve forças para fechar a porta. <br /><br />Foi em direção ao banheiro. De olhos fechados, permitiu que a ducha tomasse conta de sua pele, e esboçou um sorriso. Que se esvaiu no momento em que seus olhos se abriram e viram calcinhas e sutiãs pendurados. Roupas íntimas que tanto fizeram parte do cotidiano do casal e que ele queria que fossem embora de sua memória.<br /><br />Enxugou-se afoitamente. Quis refugiar-se em seu quarto. Ofegava debaixo dos lençóis. Apoiou a cabeça no travesseiro mas despertou logo na hora em que seus olhos entreabertos viram a camisola branca, o sutiã vermelho e a calcinha fio-dental de cor avermelhada tão associada à sensualidade dela.<br /><br />Olhou para a cabeceira. Os dois sorrindo, foto tirada durante uma viagem na qual ficaram cada vez mais unidos. Levantou-se. Viu ao lado do aparelho de som, o primeiro disco que recebeu de presente - e que tantas vezes ouviram para dançar de rosto colado. Correu os olhos pelo quarto. A roupa dela deitada sobre a poltrona. A bolsa sobre a cômoda. Ela, ela, ela, ela.<br /><br />Procurou recordar seus passos. O carro. O lugar ermo, no meio do nada. O silêncio, quebrado por dois estampidos. O grito. Ela, atônita, caindo desacordada no chão. Eram os fatos, eram os fatos. Nada havia sido imaginação.<br /><br />Sim, havia se livrado da presença dela. Mas agora percebera que ainda estaria por muito tempo apegado aos pormenores da história vivida a dois. A profecia se concretizara. Por mais que ele se separasse dela, ainda não conseguiria se desatar de uma história tão intensa.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-73246058822679022482010-12-01T21:08:00.004-02:002010-12-01T22:30:40.441-02:00Microconto do salafrário<span style="font-style:italic;">Há algum tempo, no Twitter surgiu a ideia de MICROCONTOS. O desafio para o escritor era contar uma história em apenas 140 caracteres. Este salafrário que vos escreve decidiu se desafiar. Segue o resultado!<br /><br />Abraços a todos,<br /><br />Vinícius Faustini</span><br /><br />*****<br /><br />Emudeceu. O ar de satisfação dele desmentia o "não é nada do que você tá pensando". Dois tiros. Ele agonizava. O coração dela também.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-85374171503112085922010-11-24T21:52:00.003-02:002010-11-24T21:55:50.656-02:00Diz que me ama<span style="font-style:italic;">Após uma semana de silêncio, segue um atrevimento poético inédito. Continuo na minha busca incessante de enxergar a alma feminino. Sei que é uma trajetória incerta, mas não custa tentar. Elas merecem. </span><br /><br />*****<br /><br /><br />Diz que me ama<br />É o que meu coração clama<br />E dia após dia se inflama<br />Fico ansiosa, ardorosa por sua chama<br /><br />Diz que me ama<br />E eu me derreto num sussurro<br />Toda minha insegurança eu esmurro<br />Fico acarinhada pelo amor que você proclama<br /><br />Diz que me ama<br />Assim, o meu coração dispara<br />Pula, até que em seu peito se ampara<br />E se aquieta, aconchegado em sua cama<br /><br />Peço “diz que me ama”<br />Você responde que gosta de outra<br />Em uma atitude tão neutra<br />Que dói meu amor-próprio de dama<br /><br />Imploro “diz que me ama”<br />Você vira as costas sem me ouvir<br />Meus olhos te acompanham sair<br />Indiferente ao apelo que meu afeto declama<br /><br />Diz que me ama<br />E foi embora na primeira oportunidade<br />De recordação, deixou a saudade<br />Da flor do bem-me-quer, não sobrou nenhuma rama<br /><br />Diz que me ama<br />É meu pedido de boa-noite<br />Mas seu silêncio dói feito açoite<br />Anoiteço, dolorosa, em meu choro de melodramaUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-26593657451440683752010-11-10T20:25:00.003-02:002010-11-10T21:24:09.699-02:00Mais uma do salafrário<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWoLX5ZMJZHyik_kGt33tTIuATzE0dVc-ZbOTkrQL6_FKoZRp9bJyQW2rC3pL_K_8waNvgqsAsKIeJR4MDLEM57L1exgDdbdbqRo7jcV_MKucLvYG0zG8OparH3ThViZqVQ0SJO-210QU/s1600/Logo+da+Litteris.gif"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 74px; height: 97px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWoLX5ZMJZHyik_kGt33tTIuATzE0dVc-ZbOTkrQL6_FKoZRp9bJyQW2rC3pL_K_8waNvgqsAsKIeJR4MDLEM57L1exgDdbdbqRo7jcV_MKucLvYG0zG8OparH3ThViZqVQ0SJO-210QU/s320/Logo+da+Litteris.gif" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5538050957264862514" /></a><br /><br />A Litteris Editora comunicou, por carta, que o poema intitulado <span style="font-weight:bold;">MALAS PRONTAS</span> foi selecionado para a antologia <span style="font-style:italic;">Jogando com as palavras</span>, toda feita com obras de ficção que falam sobre futebol. Em breve, mais um registro em livro deste salafrário que vos escreve.<br /><br />Obrigado a vocês, que fazem com que o <span style="font-weight:bold;"><span style="font-style:italic;">Diário de um salafrário</span></span> sempre esteja em atividade.<br /><span style="font-style:italic;"><br />Vinícius Faustini</span>Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-30840510715531318972010-11-03T20:03:00.007-02:002010-11-03T21:35:07.701-02:00SensacionalismoEla, a putinha do <span style="font-style:italic;">reality show</span><br />Ele, o centroavante, o autor daquele gol<br />Sorrisos para <span style="font-style:italic;">flashes</span>, o casal apaixonado<br />De suas aparições em público, tudo fotografado e filmado<br /><br />Primeiro encontro, beijos, carícias e quarto de motel<br />Mais uns meses, entrevista coletiva pra anunciar casamento<br />Jornais, TV, Internet, tanto para gravar aquele momento<br />Fotos em revistas de fofoca, direto de Paris, terra da lua-de-mel<br /><br />Volta de férias, propostas de times da Europa<br />Contrato milionário e ela confirma que vai posar pra revista masculina<br />Ele ainda diz que quer jogar uma Copa<br />Ela faz caras, bocas, e sua nudez alucina<br /><br />Convite pra fazer novela<br />Brecha para jogar na Arábia<br />Flagra! Ele agarrando uma garota tão bela<br />E a outra, em entrevista, reclama "como fui cair na sua lábia?"<br /><br />Ele não se adapta ao futebol estrangeiro<br />A personagem dela morre depois de tantas atuações risíveis<br />Os dois se reencontram e já trocam farpas por causa de dinheiro<br />E a mídia aproveita tantos espetáculos sofríveis<br /><br />Primeiro, discussões ásperas, ouvidas pelos vizinhos<br />Pratos e vasos quebrados, em crises que se acabam na cama<br />Já de nada adianta, está no jornal, eles sofrem o preço da fama<br />"O povo fala", opina e os dois já não estão mais sozinhos<br /><br />Resta o novo soneto da separação<br />Cada um pro seu lado, cada um chorando suas mágoas num canal<br />E eles permancem sedentos pela apelação<br />Faz parte, uma coisa tão normal<br /><br />E a cada ano os dois sobrevivem<br />Ele vai jogar num time de menor expressão pra não cair no ostracismo<br />Ela se despe por um cachê barato, mas os sonhos do "ex-casal" só revivem<br />Se chegarem aos holofotes através de uma boa dose de sensacionalismoUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-74205069235095422132010-10-27T21:04:00.009-02:002010-10-27T21:56:38.629-02:00Pelé, 70<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4lVsI12oBbdKFaHGoxy0E6iqa2hpVgfTTl1OGbUbvZuKcS7mWHC5bi8OAVRXzpt7Mr0caGbUCrSBXURm1nt3twgEdtje8kxvZ0tVFQzpbZKn3WHPmUaasXFrQXBixFsXyqrP68t2xcii2/s1600/pelecopa70.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 222px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4lVsI12oBbdKFaHGoxy0E6iqa2hpVgfTTl1OGbUbvZuKcS7mWHC5bi8OAVRXzpt7Mr0caGbUCrSBXURm1nt3twgEdtje8kxvZ0tVFQzpbZKn3WHPmUaasXFrQXBixFsXyqrP68t2xcii2/s320/pelecopa70.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5531412060249687954" /></a><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">P</span>assaram 70 anos, e do despertar de Três Corações<br /><br /><span style="font-weight:bold;">E</span>ntrou em campo aquele menino capaz de encantar multidões<br /><br /><span style="font-weight:bold;">L</span>iteratura nenhuma descreveu até hoje tantos gols bonitos<br /><br /><span style="font-weight:bold;">É</span>s sonho, és gol, és vitória, és glória, és soco no ar, és quatro letras e tantos tratos à bola que jamais em poemas serão reescritos <br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">MILÉSIMO GOL DE PELÉ</span> - <span style="font-style:italic;">Vasco 1 x 2 Santos, 1969</span><br /><br /><object width="400" height="380"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/VnH0z0PidF8?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/VnH0z0PidF8?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="400" height="380"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-39270006852736561082010-10-20T20:11:00.007-02:002010-10-21T13:56:00.587-02:00Coxia<span style="font-style:italic;">A imprensa vem anunciando nas últimas semanas que a TV Globo está produzindo um seriado inteiro em homenagem a Chico Buarque. Serão episódios independentes, cada um em homenagem a uma canção de sua maravilhosa obra. Este humilde salafrário resolveu se arriscar neste desafio, mas através das letras.<br /><br />A canção que inspirou o conto que segue aparece ao final, numa gravação do You Tube. Trata-se de uma belíssima canção que Chico Buarque fez especialmente para Cauby Peixoto. <br /><br />Fiquem à vontade para comentar.<br /><br />Vinícius Faustini</span><br /><br />*****<br /><br /><span style="font-weight:bold;">COXIA</span><br /><br /><span style="font-style:italic;"><span style="font-weight:bold;">A Chico Buarque</span></span><br /><br />Sob o olhar de espanto da bilheteira, escolheu o lugar mais distante do palco. Enquanto passava o dedo pelo painel da plateia, não sabia se sua atitude era para não ser visto ou por receio de que seus olhos enchessem definitivamente de lágrimas ao ver a imagem tão doce dela cantando. Sentou no lugar marcado e chamou a garçonete para pedir um suco de laranja. Num instante, decidiu ficar sóbrio durante toda aquela apresentação.<br /><br />Tinha sido o primeiro a chegar. Assim como fazia em todos os shows dela. Gostava de ouvir a casa de espetáculos sendo tomada por burbúrios de espectadores. Via cada vez mais pessoas chegando, rostos sorridentes, e à medida que se aproximava da hora do show, mais as conversas iam girando em torno dela. Do talento dela, da voz dela, do repertório dela, do quanto ela é gostosa.<br /><br />Olhou para o relógio. Ela estava atrasada por 10 minutos. Justo ela, que tinha pavor de atrasos. Ele esboçou um sorriso, quando, numa ilusão auditiva, escutou um "Essas pessoas pagaram ingresso pra ver na hora marcada. Vão ficar sentidas se eu demorar muito para chegar". Ainda podia sentir o sabor de gim que vinha da boca de sua estrela, minutos antes de conversar com ela no camarim. Invariavelmente, ele passava para lá e dizia "casa lotada". Mas naquela noite ele via lugares desocupados.<br /><br />As luzes se apagaram. Vieram as primeiras notas, e triunfalmente, ela saiu da coxia, desfilando enquanto cantava um de seus sucessos mais retumbantes. Recebeu os primeiros e efusivos aplausos. Agradeceu à presença de todos, e ao final soltou um "vocês nunca me abandonam". Ele sentiu-se constrangido. Talvez alguém o tivesse reconhecido por baixo do disfarce e contado para ela de sua presença.<br /><br />A voz dela continuava belíssima, só que ele percebeu que em meio a tanta afinação, ouvia um tom desafinado pela amargura. De cima, não conseguia ver direito o rosto dela. A cantora ficava o tempo todo embaixo da luz, e ficavam evidenciados os muitos brilhos que tinham em seu vestido.<br /><br />Não resistiu. Tinha de vê-la mais uma vez. A cada música, ficava mais intensa a saudade de sua voz. E ele cantava, cantava, e como era cruel cantar assim depois de tanto tempo. Desde que saíra de casa, evitava escutar seus discos, mudava de estação quando anunciavam o nome dela. Chegava a mudar de calçada quando aparecia um cartaz no qual ela aparecesse. <br /><br />A última imagem era a mais cruel. O rosto dela, com os lábios ensanguentados. Dos olhos, intensos de paixão e vorazes de desejo, restara um olhar ferino de ódio, de um ódio entristecido. Da voz, que ele achava afinada até mesmo quando ela sussurrava carícias sensuais, viera uma desafinação amarga, entre soluços de choro. E o último verso tinha sido um "você nunca mais encosta a mão em mim".<br /><br />Não teve pudores. Retirou o disfarce. Desceu as escadas. Atravessou entre as mesas, e chegou a uma distância que pudesse vê-la melhor sem que fosse visto. Começava aquela música. Sim, talvez fosse o maior sucesso dela, mas não achava que ela ainda incluísse a canção no repertório. A única parceria deles. O único momento no qual ele se atrevera a fazer uma letra.<br /><br />Estático. De pé, próximo ao bar, ouviu-a com uma ternura ainda maior do que quando eram namorados. Parecia que finalmente a conhecia. O intimismo com o qual ela cantou, carregada de emoção, quase num grito de resistência. De perfil, ela soltou a voz no último verso, e desabou no palco. <br /><br />Aos poucos, foi se recompondo, e deixou-se dominar pelo sorriso de satisfação diante dos aplausos febris. Experimentou um certo carinho em seu ego, quando viu nos rostos daqueles bêbados que eles estavam a se rasgar por ela.<br /><br />Mas ao virar-se para o lado do bar, os olhos dela se cruzaram. As luzes da plateia já estavam acesa, e ele teve certeza de que foi visto. O semblante dela, cercado da alegria que costumeiramente acontecia entre os dois, se fechou subitamente num susto. Ele, de pé, repentinamente fechou o sorriso e ficou constrangido de continuar com os aplausos. Tentou recuperar-se, num riso amarelo e em palmas insossas. <br /><br />Ela esboçou novo sorriso e saiu, a passos largos em direção à coxia. Vieram os pedidos de "bis". Mas a casa de shows logo colocou uma gravação na qual agradecia à presença de todos e anunciava os espetáculos dos outros dias.<br /><br />Ele ficou assustado. Era a primeira vez que ela não voltava ao palco para o bis. Quis sair da casa, mas foi abordado por um dos funcionários, que o disse para ir ao caixa pagar a conta. <br /><br />Dominado pela angústia, viu que era inútil achar que a fila se dissiparia logo. Lamentou ter como última lembrança do maravilhoso espetáculo uma expressão fechada e a imagem de uma fuga desesperada. E vindo de um rosto que ele tanto gostava de acariciar.<br /><br />Com a conta paga, saiu e foi em direção ao seu carro. No meio do caminho, notou que estava fazendo o mesmo trajeto ao qual era guiado pela solidão. Ia parar num lugar cercado de prostitutas, e entre elas escolheria a mais parecida com sua cantora. <br /><br />Sabia que o repertório daquela companhia descartável seria muito inferior. De sua voz, viriam sussurros fingidos, mecânicos, prontos para fazê-lo vaidoso sentir-se o maior, e que possuía não o corpo da moça, mas o corpo que sabia que nunca mais ficaria ao seu alcance. Num instinto, parou o carro próximo ao meio-fio. E, com a cabeça no vidro do carro, chorou, chorou, até ficar com dó de si.<br /><br /><object width="400" height="350"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/WaqXdSUWKfg?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/WaqXdSUWKfg?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="400" height="350"></embed></object><br /><br /><span style="font-weight:bold;">BASTIDORES</span>, <span style="font-style:italic;">de Chico Buarque</span>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-81312583229289315942010-10-13T00:00:00.007-03:002010-10-13T15:11:41.027-03:00Bola na rede<span style="font-style:italic;">Alguns anos atrás, a seção Prosa & Verso, do jornal O Globo, abriu um concurso com o tema futebol. Este que vos escreve mandou um conto, que foi cortado da lista final, e ficou esquecido nos arquivos.<br /><br />Quatro anos depois, ao pensar em como registrar uma homenagem do <span style="font-weight:bold;">Diário de um salafrário</span> ao Dia das Crianças, veio a lembrança deste texto, que fala sobre uma amizade de infância, tendo como pano de fundo o esporte mais popular do país.<br /><br />Com algumas adaptações (coisa de escritor perfeccionista), incluindo a mudança de título, segue o texto. Fiquem à vontade pra comentar.<br /><br />Grato,<br /><br />Vinícius Faustini </span> <br /><br />*****<br /><br />O nascimento de uma grande amizade apareceu na mesma época em que veio a paixão pelo futebol. Antônio tinha oito anos e Luciano seis quando os dois, no mesmo bar, viram seus pais e uma multidão com a camisa cruzmaltina vibrar depois que a bomba de Cocada morreu no fundo da rede de Zé Carlos, aos 44 do segundo tempo.<br /><br />O 1 a 0 do Vasco em cima do Flamengo causou nos garotos uma sensação de euforia que parecia não acabar nunca. Por um momento, os vascaínos Antônio e Luciano podiam sorrir e esquecer da penúria em que viviam. Mais do que nunca, o grito de “é campeão” trazia um alento pra duas crianças que não sabiam o que era alegria.<br /><br />No dia seguinte, os dois foram para a escola com a camisa do Vasco, e passaram toda a hora do recreio no campinho improvisado. Tentavam repetir o lance do gol de Cocada, Antônio chutando e Luciano no gol.<br /><br />Os problemas de casa tomaram conta das conversas dos garotos. Mais do que amigos, eram confidentes, com histórias que coincidiam, como a infância pobre e a falta de suas mães, ambas mortas no parto. Já pareciam aceitar a situação, quando Luciano sugeriu ao amigo:<br /><br />" – Toninho, por que é que a gente não vai jogar futebol?"<br /> <br />Diante do espanto de Antônio, ele continuou:<br /> <br />" – É! Já pensou? Você fazendo igual o Cocada, que acabou de entrar e deu título pro Vasco?" – e improvisou uma narração – "e lá vai Geovani, passa por Edinho, estica pra Bismarck, ele passa pra Toninho, Toninho apontou e gol!"<br /> <br />Toda a rua ouviu o grito de gol e a comemoração dos dois garotos. Decidiram. Convenceram os pais a levá-los na escolinha do Vasco, e começaram a jogar. Por ter uma altura acima da média, Luciano foi para o gol.<br /> <br />Antônio, agora Toninho, mostrou habilidade com os pés, mas era muito franzino. Além disso, tinham outros jogadores com o mesmo talento e sem necessidade de tratamento físico. Acabou dispensado. Ainda tentou vaga no Botafogo, Fluminense, e acabou no Madureira.<br /> <br />Prestes a ganhar uma chance nos profissionais do Vasco, Luciano recebeu uma proposta irrecusável: jogar num time do Japão, com um salário bom o suficiente para sustentar o pai no Brasil. Ele e Toninho choraram muito na despedida, mas Luciano avisou:<br /><br />" – Um dia eu volto. Mas de lá do Japão dou um jeito de mandar uma grana pra você e seu pai".<br /> <br />Toninho agradeceu, esboçou um sorriso, mas estava muito triste por imaginar a falta do amigo para apóiá-lo num recomeço em qualquer clube. Até o momento não conseguia se firmar em nenhum time. Seu melhor momento tinha sido no Bangu, quando fez um belo gol de falta num empate contra o Botafogo.<br /> <br />Oito anos depois, Luciano voltou ao Brasil. O período no futebol japonês foi proveitoso, mas a vontade de retornar estava cada vez mais forte. Com 28 anos, acertou sua volta para o Vasco, clube onde tudo começou – sua carreira no futebol e sua amizade com Toninho.<br /> <br />Toninho não acreditou quando ouviu o amigo dizer:<br /> <br />" – Estou de volta. Já vi na tabela que a gente vai se enfrentar na última rodada. Garante o seu que eu garanto o meu".<br /><br />A tabela marcava para a última rodada da Taça Rio a partida do Vasco de Luciano contra o Olaria de Toninho. A ideia do goleiro era que os dois times ficassem bem colocados, e o jogo fosse um reencontro dentro das quatro linhas.<br /> <br />No entanto, o campeonato não transcorreu tão bem assim. Com alguns tropeços contra times de menor expressão, o Vasco chegou à última rodada tendo de vencer o Olaria para ir à final da Taça Rio. Já o Olaria estava numa grande crise, disputando ponto a ponto com a Portuguesa da Ilha do Governador para não ser rebaixado.<br /> <br />Os dois entraram em campo divididos. Sabiam que precisavam honrar a camisa de seus respectivos times, como profissionais do futebol. No entanto, uma derrota poderia ser muito dolorosa para qualquer um dos lados.<br /> <br />A partida começou, e o primeiro tempo trouxe poucas chances de gol. Luciano não teve trabalho nas poucas vezes em que foi exigido, e Toninho mal conseguiu tocar na bola com um jogo tão truncado.<br /> <br />No intervalo, Luciano descia para o vestiário quando ouviu, do outro lado, a bronca do técnico do Olaria:<br /> <br />" – Com esse timeco a gente não vai chegar a lugar nenhum. Escuta bem, se não der pra fazer um gol no início e ganhar, já era. Todo mundo na rua. Inclusive eu!"<br /> <br />Antes do reinício do jogo, Luciano e Toninho se viram pela primeira vez desde o início da partida. Apesar da insegurança com sua situação no Olaria, Toninho tentou sorrir quando viu o amigo de infância ostentando a camisa 1 do Vasco. Luciano recordou os problemas que Antônio teve desde o começo da carreira, e se sentiu bem ao olhar para ele, por ver que agora eram colegas de profissão. Atrás do sonho de uma vida melhor, de uma felicidade que buscavam desde meninos.<br /> <br />Luciano correu em silêncio até o gol. Toninho foi para o centro do meio-de-campo, à espera do apito para começar o segundo tempo. Nenhum dos dois sabia exatamente o que estava sentindo.<br /> <br />Com poucos minutos da etapa final, um cabeça-de-área do Olaria roubou a bola no centro do campo e jogou para frente. A bola sobrou para Toninho na intermediária, e pegou a zaga vascaína desprotegida.<br /> <br />Sem hesitar, Toninho direcionou a bola para o gol. O coração pulsava, esperando o resultado do lance. Mas o chute saiu mascado, seria fácil a defesa do goleiro. Luciano ficou atento. Não à bola, mas à frustração de Toninho. Sabia que era a melhor chance do jogo, e que também estava em jogo o futuro do amigo como jogador.<br /> <br />O tempo entre o chute de Toninho e a chegada da bola a Luciano parecia uma eternidade. Por um momento, os dois pensaram nas suas trajetórias. Na decisão de jogar futebol, nos motivos que fizeram com que eles fossem para esse caminho. No sucesso de um, nas frustrações do outro.<br /><br />O estádio agora era o de São Januário, mas a recordação do gol de Cocada no Maracanã tomava conta daqueles meninos em campo. A bola chegou até Luciano. O goleiro, lentamente, se agachou para pegá-la, mas ela escorreu entre seus dedos e passou por suas pernas até, lentamente, atravessar a linha do gol. <br /> <br />Os outros jogadores comemoraram como se fosse um título. Mas, atônito, Toninho não comemorou o gol. Caminhou em silêncio e foi esperar a saída de meio-de-campo. Luciano pediu para ser substituído. Reclamou que tinha deslocado um dos dedos.<br /> <br />Em vez de ir embora, passou o resto do jogo no vestiário, com um radinho de pilha no ouvido, esperando o final. Confirmada a vitória do Olaria por 1 a 0, dirigiu-se para o vestiário do time adversário.<br /><br />Viu Toninho retirando os meiões, e estendeu a camisa 1 para ele. O amigo espantou-se com a presença dele. Ia balbuciar alguma coisa, mas foi interrompido por Luciano:<br /><br />" - Golaço, hein?".<br /><br />Não, não tinha sido um golaço, e Luciano sabia bem disso. Se não soubesse, saberia através das resenhas esportivas de rádio e televisão, além das reportagens que circulariam nos jornais do dia seguinte, que tinha cometido uma falha clamorosa, falha que custara a eliminação do Vasco na Taça Rio. Mas o que importava naquele momento era a certeza de que não tinha falhado com o amigo, quando ele mais precisara.<br /><br /><object width="380" height="380"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/GgHWPn06zo8?fs=1&hl=pt_BR"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/GgHWPn06zo8?fs=1&hl=pt_BR" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="380" height="380"></embed></object>Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-41131644987530731252010-10-06T15:19:00.002-03:002010-10-06T16:24:16.859-03:00Todo sentimento"Foi bom pra você?".<br /><br />Ele mesmo sabia que não tinha sido, mas não custava nada tentar demonstrar compaixão. Antes de dormir, ainda foi obrigado a ver a crueza do olhar dela, tão feroz em meio àquele rosto fechado pela amargura. Ele levantou-se e foi ao banheiro, lamentando pela má ideia que teve de compartilhar um desejo sexual com quem não merecia.<br /><br />Olhou-se no espelho. Teve raiva por ver que aceitava que o casamento acabava com o resto de sua vida. Suspirou, e refletiu que já estava com idade avançada para ficar sozinho. E provavelmente ela pensava o mesmo. Por isto que ela o tolerava nas poucas vezes em que era dominado por uma volúpia tão incontrolável a ponto de precisar de outra pessoa para dividir sua solidão.<br /><br />Escutou o som dela, que já se entregava ao sono e estava alheia a qualquer prazer que acontecera nos instantes anteriores. Sim, estava acostumado a tanta indiferença vinda do próprio quarto. Mas pela primeira vez deixou-se levar por uma amargura de um amor que deteriorou-se pouco a pouco.<br /><br />Ligou a ducha de água quente. Fechou os olhos e aos poucos foi desenhando as feições da mulher que amara intensamente. A memória turvava, a vista penava para encontrar, em meio a recentes tristezas, os longínquos momentos cercados de alegria e de êxtase. Nos quais não era necessário perguntar se havia sido bom para ela, pois ambos sabiam a ternura que envolvia cada sentimento.<br /><br />Das feições, passou a desenhar os traços do corpo no qual ele podia se esquentar a cada noite. E a cada gota, ele tentava reviver a própria quentura. Reconstituía aquelas carícias. O carinho dos lábios a rodear pela orelha, pelo rosto e pelos lábios dela. Seus dedos longos se perdendo nas costas, cravando a unha com tanta voracidade que ambos sentiam sem qualquer pudor. <br /><br />Aquilo tudo tão vivo, tão presente, tão real, tão intenso, cada vez mais intenso. E ele mergulhava, transbordando uma sensualidade guardada durante anos. Ansiava por distinguir todos os cheiros dos momentos vividos naquela quentura. Mas não esboçou nenhum receio quando o cheiro de gás começou a se espalhar pelo banheiro.<br /><br />Estava esparramado em suas lembranças, tão ternas, tão densas, e sua alma se aproveitava de todas as vontades que estavam ao seu alcance. Quando se permitiu ficar extasiado, foi completamente sufocado pelo gás do aquecedor. Mas levou consigo a certeza de que em seus últimos minutos de vida compensara os tantos anos nos quais morrera atado à infelicidade de um casamento.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-26685288383041242842010-09-29T13:27:00.006-03:002010-09-29T22:34:17.355-03:00Noite em claro<span style="font-style:italic;">Mais um atrevimento poético. Este que vos escreve espera não estar numa mesmice...</span><br /><br />*****<br /><br />"Boa noite"<br />E dói o silêncio como resposta<br />Na amargura insone que tanto desgosta<br />E que permite que ela se debilite<br /><br />Os olhos se fecham e a tristeza se escancara<br />Os ouvidos procuram suspiros de amor e de tara<br />Os lábios se molham na espera que vira lágrimas<br />Sussurros de amor para um silêncio sem rimas<br /><br />O que sentia não era mera vontade<br />O que feria era ter criado aquela saudade<br />Por sua insegurança, por sua ingenuidade<br />Mentiu para si mesma e sofreu com a nova verdade<br /><br />A razão dela permitira apenas sexo<br />Ele respirava um amor cada vez mais latente<br />Quando ele se exilou, na quarentena de um amor doente<br />Ela enxergou-se num universo sem nexo<br /><br />Na noite vazia, esconde-se entre os lençóis<br />Foge em vão da solidão, companheira tão atroz<br />Que a seduziu, propondo um coração com independência<br />Mas omitiu as feridas ocasionadas pela carênciaUnknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-21455540097251228742010-09-22T00:00:00.003-03:002010-09-22T00:00:03.988-03:00Guimbas de cigarroEntre uma tragada e outra no cigarro, olhava para o corpo dela adormecido e repetia para si: "Ela não significa nada para mim". Esquivou sua cabeça até fazer com que seus olhos pudessem enxergar o sorriso dela, agora mergulhados naquele misto de êxtase e satisfação que os dois tinham sentido a dois por uma noite inteira na qual, a cada minuto, ele desejara um pouco mais que o dia não clareasse.<br /><br />Mudou de ideia por um instante, quando a fresta da cortina fez escapar um pouco da luz do raiar do dia. Brilhava a pureza dos cabelos dela, loiros e molhados do banho que tiveram a dois. Forçava a vista para novamente vê-la por inteira, ainda com o corpo banhado por suas mãos intensas, sedentas, em delírio.<br /><br />Repousou o cigarro sobre o cinzeiro e vestiu-se em silêncio. Anos de prática tornaram esta parte uma das mais fáceis. Mas seu coração partia por ter apenas de observá-la assim, a uma distância considerável, e agora lhe dava náusea sentir o cheiro de álcool que criara para aquele ambiente outrora perfumado por tanta sensualidade.<br /><br />Foi traído por um raro momento de compaixão, e quando teve certeza de que ela ainda estava dormindo, aproximou-se e cheirou o pescoço dela. Sorriu num soluço de choro por notar que seu coração batia com mais intensidade à medida que o perfume dela dominava suas narinas.<br /><br />Deu passos curtos, de costas para a porta. De relance, olhou para o cinzeiro e certificou-se de que o cigarro estava apagado. A cada passo, balbuciava um "eu te amo". Dizia e repetia "eu te amo, eu te amo", porque sabia que nunca mais pronunciaria aquela frase com sinceridade novamente. <br /><br />Quando conformou-se em não mais ter a visão dela por perto, deixou tudo em ordem no apartamento. Deixou sobre a mesa da sala todo o dinheiro que planejara roubar dela e a carta na qual confessava também a maneira como pretendia matá-la.<br /><br />Bateu a porta do apartamento com raiva, e saiu correndo pelas escadas do prédio. Fugia. Fugia dela. Fugia da vergonha de ter se apaixonado pela vítima de seu golpe. E depois de amá-la de verdade, tentava acostumar novamente seu coração à frieza de caçar vítimas.<br /><br />O perfume do amor dela já não estaria a mais ao alcance do seu querer. A ele, sobrariam apenas as cinzas de falsos amores, queimados com guimbas de cigarro, sempre após noites intensas de erotismo. De um erotismo mercenário, do qual sabia que seria refém pelo resto de sua vida.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-88252419717594170482010-09-15T11:37:00.005-03:002010-09-15T13:01:30.709-03:00Madrugada adentroCaiu sobre ele, deixando escapar um último e leve gemido de prazer. Ela estave exausta, mas não queria se deixar vencer pelo cansaço. Permanecia, teimosa, lutando contra os próprios olhos para que o sono não tomasse seu corpo e acabasse por fazer as horas passarem à revelia do que desejava para sua madrugada.<br /><br />Notou que os olhos dele também ameaçavam se fechar, mas em vez de desespero, deu um risinho doce, de menina travessa. Pousou suas mãos sobre o peito dele e foi deslizando minuciosamente cada parte que desejava. Começou a beijar seu pescoço e aos poucos associava seus beijos à vontade com a qual tateava o corpo do seu homem.<br /><br />Viu o olhar dele se entreabrir e roubou-lhe um beijo selvagem. Pôde sentir entre suas mãos o desejo dominá-lo de acordo com o que ela permitia, e isto a fazia oscilar a intensidade com a qual acariciava o êxtase dele. Por um momento não sentia-se apenas dele, sentia que ele era posse dela, na confirmação do prazer a dois que sempre procurara ter com um homem que amasse. <br /><br />Levantou um pouco seu corpo para que os seios estivessem à altura dos lábios dele. Por um momento, deixou-se ser traída por sua própria vontade e arriscou até um leve acariciar em seus próprios pelos pubianos. Mas seu breve devaneio foi tomado pelos sussurros mais intensos que ele dizia ao seu ouvido, no ápice de um delírio seguido da imagem dele, arfando, sorrindo.<br /><br />Repousou a cabeça sobre o peito dele. Estava dominada pela paz de sentir-se uma mulher que sabia controlar os sentimentos de seu homem, e nem percebeu quando seus olhos caíram adormecidos. Acordou com o sol já alto, e viu-se nua, solitária naquela cama. Não pôde fazer nada para que ele continuasse junto dela. Ela levantou-se e começou aquele mesmo ritual. O de se arrumar para passar o dia como uma figura nula, à espera do amor que chegava na sua mente através de intensos desejos insones.Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-27090237021431977192010-09-08T00:30:00.009-03:002010-09-08T02:01:22.236-03:00Amor vendado<span style="font-style:italic;">Mais um atrevimento poético de toques sensuais. Este salafrário não toma jeito mesmo...</span><br /><br />*****<br /><br />O primeiro olhar veio num "sem querer"<br />Chorou desculpas, mas começava a perceber<br />Enxergara desejo onde não devia<br />Despertara amor de uma forma que não podia<br /><br />Passou os dias trancada em seu silêncio<br />Passou as tardes calando seu sacrifício<br />Passou as noites em claro com suas querências<br />Para, na madrugada, gemer baixinho suas confidências<br /><br />Seguiu em angústia, atrás de uma reação<br />Sentindo nos cabelos a carícia de seu sonho<br />Até que pudesse esquecer o quanto era medonho<br />E estivesse, enfim, disposta a uma ação<br /><br />Não teve medo da dor que traria a ele aquela pancada<br />Encontrou forças para carregá-lo até seu carro<br />No caminho, não se achou mais digna de escarro<br />Achava-se, finalmente, digna de ser amada<br /><br />Instigada pelos olhos dele estarem vendados<br />Excitava-se por vê-lo com os braços amarrados<br />Estava disposta a ser uma pervertida<br />Tudo para cicatrizar a dor daquela ferida<br /><br />Em resposta à raiva dele, sussurrou um "você é só meu"<br />Ao alcance do tato dele, deixou toda sua nudez<br />Transmitia a ele o cheiro da sua grande insenstatez<br />Num amor insaciável, seu desejo tremeu<br /><br />As mãos atadas entrelaçaram em suas costas<br />A cabeça agora se perdia entre seus seios<br />Ele já não mais exigia respostas<br />A dois, eram agora apenas devaneios<br /><br />Num sobressalto, pensou estar no céu<br />E contemplava seu homem através dos espelhos do motel<br />De tanto sonhar, mergulhara na realidade<br />Agora doiría a verdade, mas sabia que o amor requer lealdade<br /><br />Dos olhos dele, retirou a venda<br />Sabia que a esperava uma reação horrenda<br />E que dos minutos de tanta ternura<br />Viria uma eternidade de amargura<br /><br />Ainda assim, sentiria seu corpo quente<br />Por mais que ele a julgasse doente<br />No sexo dela, estaria um amor tão leve e tão ofegante<br />Por mais que seu filho por uma noite tenha sido seu amanteUnknownnoreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-59140644749715794772010-09-01T00:00:00.004-03:002010-09-01T01:04:08.078-03:00Mãos de sangueTrês balas. Duas delas no coração. A primeira fulminando o amor que ela dilacerou em troca de um prazer barato, quem sabe achado na esquina. A segunda é a extrema-unção, sacramento do meu calvário diante desta doença que prostituiu nossa história, que transformou em duas a nossa vida. <br /><br />E o tiro de misericórdia? Atira na nuca! A nuca, local onde ela se insinuava toda arrepiada ao sentir a carícia das minhas mãos e a lascívia da minha boca, a beijá-la, a mordê-la. Gasta as três balas. Mesmo que ela se vá logo ao sofrer o primeiro tiro.<br /><br />Não, não, no rosto não. Sua beleza jovem deve ficar imóvel, tão pura quanto na foto que carrego aqui na minha carteira. Com a imagem bem distante da cena na qual vi sua boca vulgarizada, violada pelos lábios de outro. Não quero ter como última lembrança seus cabelos despenteados pelas mãos de alguém que não a soube tocar, que marcou seu corpo apenas com manchas de uma voracidade travestida de paixão.<br /><br />Eu a amo. Muito. Um amor que não sabe se despedir. Um amor incapaz de ser asfixiado por minhas próprias mãos. Por isto é que eu vim aqui. Um serviço como este deve ser realizado por mãos sangradas como as suas. Mãos que carregam anos de vida amarga, na qual um momento de tristeza a mais não fará diferença.<br /><br />Pouco me importa se seus olhos debocham de mim e me acusam de covardia. Não é este o sentimento que ata minha ira neste momento. O que me toma é a incapacidade de dar qualquer desprazer a ela. Mesmo que ela tenha sussurrado palavras de carinho no ouvido de outro.<br /><br />O dinheiro está de acordo com o combinado. Eu lhe agradeço, você estipulou uma quantia a algo que pra mim não tem preço. Sei que o remorso um dia pode me cobrar pelo que estou fazendo. Não vou conseguir amenizar com arrependimento o momento de rancor no qual me deixei ser levado pela maré de tamanha atrocidade.<br /><br />Mas, de qualquer forma, minhas mãos estarão limpas. Inertes, amarradas por tanto amor que não se esfria a ponto de sangrar a culpada por minhas dores. Não a faça sofrer muito. Se possível, faça com que o rosto dela sorria. Dê a ela um lampejo de alegria, mesmo que asfixiada por mãos de sangue. Mãos do meu sangue, que ardeu no amor dela e que escorreu em tristezas quando foi cortado pela luxúria praticada com outro.<br /><br />Que ela descanse em paz. E que eu permaneça em guerra, remoendo minha culpa, mas que tudo passe quando eu voltar a olhar a imagem dela, imortalizada na foto que carrego em minha carteira.Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-60527164980670181552010-08-18T00:00:00.001-03:002010-08-18T11:51:59.448-03:00Intimações<span style="font-style:italic;">Modesto atrevimento poético. E este salafrário se arrisca até do ponto de vista feminino...</span><br /><br />*****<br /><br />Eu me apego à sua carícia<br />Você se esconde num bocejo<br />Fico ansiosa, cheia de malícia<br />Pra que nosso amor não vire lampejo<br /><br />Durmo, ansiosa por sua volta<br />Pois quero ao acordar sentir a sua escolta<br />Você acorda e logo vai pra sua rotina<br />E me deixa num desamor que me amofina<br /><br />Dialogo com seu retrato<br />Pergunto “faço diferença pra você?”<br />O silêncio dele parece melhor trato<br />Do que com sua presença conviver <br /><br />Lembro nossos melhores momentos<br />Mas a cada recordação fico por temer<br />Nosso caso se cerca de tormentos<br />E de um amor que só vem entristecer<br /><br />Não posso te pedir pra mudar<br />Não devia tanto me amarrar<br />Mas se seu silêncio continuar<br />Meu “eu te amo” não mais vai durarUnknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8050667962003766546.post-35131701268153227882010-08-11T12:17:00.005-03:002010-08-11T13:23:31.954-03:00Quatro paredes"Você sente minha falta?".<br /><br />Queria dizer ao alcance dos olhos dele. Mas seus olhos só alcançavam o próprio reflexo do espelho. Aquilo já se transformara num ritual, em mais um passo no qual se esmerava para ter alguma coragem de procurá-lo, de revê-lo, de fazer um acaso acontecer na vida dos dois. Apesar de ainda ter o número de telefone dele, não cogitava ligar para ele. Seu orgulho de mulher agora era ralo, mas ainda encontrava alguns traços de dignidade, mesmo através da certeza de que não tinha nenhuma desculpa para ouvir a voz dele.<br /><br />Olhou o calendário, no qual tinha marcado com um X cada dia que se passara depois da despedida. Percebeu que já fazia um mês que não saía de casa. Sentira-se solitária no momento em que ele lhe deu um beijo no rosto pela última vez. Não achava motivos para compartilhar seu desalento com rostos conhecidos e desconhecidos que encontraria no caminho das ruas.<br /><br />Todas as noites tomava banhos e se perfumava com minúcia, com afeto de seu próprio corpo, pois sabia que era o maior presente que poderia dar a ele. E revirava-se na cama, dialogando seus sussurros com os murmúrios que ela ainda recordava que ele costumava dizer ao pé de seu ouvido. E aquilo tudo era tão bom, tão belo, tão intenso, que aos poucos ela foi abandonando a ideia de se banhar.<br /><br />Era tão doce o odor que permanecia dos seus momentos de amor, era tamanho o prazer a entorpecer seu olfato, a acariciar sua pele, que misturá-lo à água, ao sabonete, aos perfumes, soava como uma coisa profana. Assim como era profana a ideia de ver outros rostos.<br /><br />Mas ao olhar o calendário, ao fazer um X pela trigésima vez num número da folhinha, foi traída. Traída por um sentimento de dúvida que se abateu de maneira lancinante em seu peito. Pela primeira vez, quis saber definitivamente a resposta àquela pergunta que ela dizia somente aos seus olhos. E aquela vontade não permitiria nenhum anoitecer.<br /><br />O relógio marcava dez e meia. Ela sabia que o horário de almoço dele era uma da tarde. Abriu o armário, retirou os vestidos e escolheu um sensual levemente fechado. Separou calcinha e sutiã mais sensuais, e riu, alegre da própria esperança. <br /><br />Esquentou a água. Mergulhou na banheira e deixou-se levar pelo frescor da pele que não sentia nenhum molhar há dias. Perfumou-se da cabeça aos pés. Maquiou-se levemente, só para esconder as olheiras de um mês de ausência. Vestiu-se. Renovada. Outra mulher agora movida pela intensa esperança de um "sim" dos lábios que sentira saudade por um mês.<br /><br />Desceu o elevador, saiu do prédio. Após um primeiro susto com os brilhos e as situações da rua, coisas com as quais perdera o costume de conviver, pegou um táxi. Deu o endereço ao motorista, e passou o trajeto inteiro evitando roer as unhas com a espera. <br /><br />Chegou ao prédio do serviço dele. Esperou no térreo. Respirou fundo quando o viu saindo sozinho do elevador. Parou em frente a ele. Disse um "oi" que ele respondeu com um balançar afirmativo na cabeça. E, finalmente, fez a pergunta da qual não tivera resposta durante um mês:<br /><br />"Você sente minha falta?".<br /><br />Ele ficou estático por alguns segundos. Os olhos de esperança dela foram se esvaindo nos instantes de hesitação que ele teve. Ele desviou o olhar, esboçou dizer alguma coisa. Voltaram a cruzar os olhos e, após respirar fundo, ele disse:<br /><br />"Eu preciso ir".<br /><br />Com os ombros curvados, ela ainda o viu sair em direção à rua, levando embora uma pergunta que não foi digna nem de uma resposta. Se ela não cogitara uma resposta negativa, jamais imaginaria que seu amor era tão descartável ao ponto de merecer uma desconversa.<br /><br />Olhou ao seu redor. Sentiu a maquiagem se esvair com o suor. Teve medo de que aparecessem suas olheiras ao alcance de todos. Apertou o passo. Pegou um táxi e só pensava na hora de voltar para casa. <br /><br />Entrou no prédio, subiu no elevador, passou a chave e trancou-se no apartamento. Deixava a angústia e a frustração do lado de fora. Agora podia suspirar aliviada, pois sabia que ao menos entre aquelas quatro paredes, continuaria a ter a presença dele.Unknownnoreply@blogger.com3