Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Deixa quieto


Poeta, deixa quieto
Todo este receio de que seu sonho seja incerto
Toda insegurança de que os olhos dela não estejam mais por perto
Ou que o seu “bom dia” não mereça nem um sorriso aberto

Poeta, deixa quieto
Para que sua ânsia de um “eu te amo” não a afaste por completo
Costure com zelo cada detalhe do seu afeto
Não deixe sua esperança se quebrar como um graveto

Poeta, deixa quieto?
Quando desconfia que o carinho dela é cada vez mais discreto
Quando risos amarelos têm a mesma força que muros de concreto
Ou ela começa a questionar se o seu jeito é correto

É, poeta, aí resta não deixar quieto...
Caso nos olhos dela, você só enxergue o deserto
E ao pensar nela, seu coração só encontre a rima com “inquieto”
Vá! É hora de seus olhos caminharem por um novo trajeto
Até que você encontre um amor que mereça novo soneto

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Soneto à violinista na estação de metrô


Canções passeiam nas cordas de seu violino
Em meio ao repertório de toques de celular
Ao mau-humor de quem passa com tanto pepino
O alucinante ritmo da cidade ela quer atenuar

Desliza o olhar sobre uma nova partitura
Entrega a quem vai para o hospital um pouco de ternura
Segue delicada diante de quem ignora sua gentileza
Nem gritos de ambulantes abafam a sua leveza

Ora tenta acalmar a ansiedade de quem espera seu amor
Ora embala casais que trocam juras com tanto ardor
É hora de canções suaves. A estas cenas, jamais vai se opor

Ela estende seu repertório a quem traz horas extras de problema
Deixa um bis ao morador de rua, para que o relento ele não tema
E após breves trocas de olhares, me deixa uma saudade que não cabe num poema

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Soneto ao leitor no engarrafamento



A ladroagem institucional

As mazelas corriqueiras

A mais nova celebridade sensacional

As rotas afetadas por balas traiçoeiras



Um bueiro que explode na esquina

Uma falta de novidades sobre a máfia da cocaína

A fome e a guerra que assombram a Indochina

Virar a página da miséria vai deixar tudo na surdina?



Suspira, respira sua cota de fumaça

Esquece os Classificados, pro Esporte já passa

Quem sabe, no futebol se esqueça da amargura que o abraça



Na dúvida, lê o que vem por aí na novela

É melhor ler o jornal do que ver a realidade pela janela

O trânsito ainda é longo, a falta de sonhos segue como sua sentinela