Esquete feita para ser apresentada no teatro O Tablado.
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Personagens
BALCONISTA 1
BALCONISTA 2
DONA GERTRUDES
ENFERMEIRA
GERENTE
A cena se passa numa farmácia. A Enfermeira entra em cena, dando apoio a uma senhora, que anda com dificuldade. O Balconista se prontifica.
BALCONISTA 1 (gentil) – Boa tarde. Em que posso ajudá-las?
DONA GERTRUDES (à Enfermeira) – Eu quero o meu mingau!
ENFERMEIRA – Shhh... Calma, dona Gertrudes. Estamos numa farmácia...
DONA GERTRUDES – Não interessa! Eu quero o meu mingau, copeiro. E com muita aveia!
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes, ele não é copeiro. Ele é balconista da farmácia. (a ele, sem graça) Bem, o senhor desculpe...
BALCONISTA 1 – Correto... Eu compreendo. (tempo) O que a senhora deseja?
ENFERMEIRA – Bem, senhor... A minha paciente já está muito debilitada. Além das (vai apertando a dona Gertrudes, que geme a cada beliscão) dores no pescoço, no braço, na bacia, na barriga...
DONA GERTRUDES (interrompe, brusca) – Pára! Não precisa demonstrar as minhas dores pro moço...
ENFERMEIRA – Bem... O senhor vê o estado dela.
BALCONISTA 1 – Sim... Posso imaginar.
ENFERMEIRA – Pois bem... Além das dores, a dona Gertrudes tem narinas muito sensíveis e, por mais que se troque duas vezes por dia as fronhas do seu travesseiro, ela sempre passa o dia espirrando.
DONA GERTRUDES (protesta) – Isso não é verda... (espirra) Verdade (espirra) Eu tenho uma (espirra) saúde de (espirra) garota (espirra duas vezes).
ENFERMEIRA – Como você vê! (pausa) E o médico recomendou que ela use um travesseiro especial.
(Sugestão: ela pode seguir espirrando enquanto a Enfermeira fala)
BALCONISTA 1 – A senhora...
ENFERMEIRA (interrompe, se insinuando) – Senhorita.
BALCONISTA 1 (percebe e fica sem graça) – Senhorita... (tempo) Nós temos aqui um travesseiro sob medida para sua paciente. É o mais novo travesseiro anti-alérgico lançado no momento.
DONA GERTRUDES – O quê? (desesperada) Minha filha, vamos embora! Rápido, rápido!
ENFERMEIRA – O que houve, dona Gertrudes?
DONA GERTRUDES – Eu quero ir embora daqui! Esse homem é louco!
ENFERMEIRA – Acalme-se, dona Gertrudes...
BALCONISTA 1 – Algum problema?
ENFERMEIRA – Eu não sei...
Dona Gertrudes vai ficando ofegante.
ENFERMEIRA (revirando os bolsos) – Sua bombinha... Sua bombinha!
Dá a bombinha à dona Gertrudes, que se alivia.
DONA GERTRUDES – Aaaah... Já!
BALCONISTA 1 – A senhora está melhor?...
DONA GERTRUDES – Queria que eu morresse, né, seu assassino? (tenta partir para cima dele) Pensa que eu não percebi que existe um complô seu com esta garota! Vocês me matam e levam meu dinheiro!
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes, pare com isso!
BALCONISTA 1 – Epa, sou um homem direito!
DONA GERTRUDES – Conheço muito bem seu tipo! Um homicida que se disfarça de farmacêutico só para atacar pessoas indefesas... Socorro! Estão tentando me matar! Socorro!
Balconista 2 entra em cena.
BALCONISTA 2 – Mas o que é que está acontecendo aqui?
DONA GERTRUDES – Oh, ainda bem! Uma menina que parece ter bom coração!
BALCONISTA 2 (ao Balconista 1) – Do que é que ela está falando?
BALCONISTA 1 – Eu sei lá!
DONA GERTRUDES – Confessa, seu assassino! Confessa! (à Balconista 2) Minha filha, este sujeito estava querendo me matar...
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes, pare com isso!
DONA GERTRUDES – Pensa que eu não sei do plano diabólico de vocês?
ENFERMEIRA – Não tem plano nenhum, dona Gertrudes! (à Balconista 2) A senhorita não me leve a mal, mas ela está caducando...
BALCONISTA 2 – Alguém pode me explicar?
BALCONISTA 1 – Olha, foi o seguinte. Esta senhora...
ENFERMEIRA – Senhorita!
BALCONISTA 1 – Senhorita. Ela veio fazer um pedido e aí veio esta velha...
DONA GERTRUDES – Velha é a vovozinha!
BALCONISTA 2 – Tá, tá, deixa! (ao Balconista 1) Deixa que eu atendo ela...
BALCONISTA 1 – Mas, mas...
BALCONISTA 2 – Você é muito mal educado, só sabe assustar as pessoas!
BALCONISTA 1 – Pior você que ta querendo ganhar o cliente só pra ganhar o título de funcionária do mês!
DONA GERTRUDES – Ei, vem cá! Eu não tenho o dia inteiro!
ENFERMEIRA (repreendendo) – Dona Gertrudes!
DONA GERTRUDES – Mas eu quero o meu mingau!
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes!
BALCONISTA 2 – Senhora, estou aqui para atendê-la...
BALCONISTA 1 – Ah, é assim, é?
DONA GERTRUDES – Vai embora, seu nazista!
BALCONISTA 1 – Olha aqui! Vocês tão ferindo a minha dignidade! Eu vou chamar o gerente... (sai)
BALCONISTA 2 – Bem, as senhoras desculpem. Espero que isto não se repita.
ENFERMEIRA – Posso fazer o pedido?
BALCONISTA 2 – Pois não.
DONA GERTRUDES – Lá vamos nós de novo...
ENFERMEIRA – A minha paciente já está muito debilitada. Além das (vai apertando a dona Gertrudes, que geme a cada beliscão) dores no pescoço, no braço, na bacia, na barriga...
DONA GERTRUDES (interrompe, brusca) – Pára! Eu já falei que não precisa demonstrar minhas dores pra elas!
BALCONISTA 2 – E a senhora tem a receita do remédio?
ENFERMEIRA – Mas não é remédio pra dor que eu vim comprar aqui. É que a dona Gertrudes tem narinas muito sensíveis e, mesmo sendo trocadas duas vezes por dia as fronhas do seu travesseiro, ela sempre passa o dia espirrando.
DONA GERTRUDES (protesta) – Eu já falei que (espirra) é mentira (espirra), eu tenho uma (espirra) saúde (espirra duas vezes) de ferro (espirra três vezes).
ENFERMEIRA – O médico recomendou que ela use um travesseiro especial.
(Sugestão: ela pode seguir espirrando enquanto a Enfermeira fala)
BALCONISTA 2 – Ah, claro! Meu Deus, uma coisa tão simples e o meu colega de trabalho fazendo este escândalo!
DONA GERTRUDES – Ele é um criminoso!
BALCONISTA 2 – Dona...
DONA GERTRUDES – Gertrudes, minha filha!
BALCONISTA 2 – Dona Gertrudes, cá entre nós... Ele está assim porque a nossa gerente está prestes a mandá-lo embora.
DONA GERTRUDES – Ah, sim? Bom, com razão, é um incompetente e criminoso!
BALCONISTA 2 – Certo, mas aqui eu tenho produto especial pra senhora, dona Gertrudes! Um travesseiro que é anti-alérgico!
DONA GERTRUDES – Oh! (faz menção de desmaiar)
ENFERMEIRA – Está se sentindo bem, dona Gertrudes?
BALCONISTA 2 – O que houve?
DONA GERTRUDES – Cínica! Você também é cúmplice!
BALCONISTA 2 – Eu não estou entendendo!
DONA GERTRUDES – Vocês são todos uns genocidas! Querem exterminar a minoria da população!
BALCONISTA 2 – Claro que não, dona Gertrudes...
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes, isto não tem graça!
DONA GERTRUDES – Não tem graça porque o plano diabólico de vocês não está dando certo!
BALCONISTA 2 – Eu...
DONA GERTRUDES – Seus facínoras! Querem me derrubar! Mas eu sou esperta! Dura na queda!
BALCONISTA 2 – Mas o que é isso?
DONA GERTRUDES – E você, garotinha! Se faz de minha amiga, mas quer é preparar o meu caixão!
BALCONISTA 2 – Não, eu...
ENFERMEIRA – Não leve a mal, por favor!
DONA GERTRUDES – Não precisa justificar! Eu sei de tudo... Até tu, Brutus, filho meu?
BALCONISTA 2 – Eu não estou entendendo...
ENFERMEIRA – Acho que está na hora do seu remédio, dona Gertrudes!
DONA GERTRUDES – Fica longe de mim, sua... Sua criminosa! Sei muito bem que você colocou arsênico no meu remédio!
ENFERMEIRA – Dona Gertrudes... Assim, a senhora também me ofende!
DONA GERTRUDES – Em que mundo nós estamos? Jovens querendo matar uma velhinha indefesa!
ENFERMEIRA – Não, dona Gertrudes...
DONA GERTRUDES – É sim! E da pior forma!
BALCONISTA 2 – Ai, não estou me sentindo bem...
DONA GERTRUDES – Usando o pretexto de que eu sou alérgica! Assassinas! Genocidas! Suas, suas... paquidermes!
ENFERMEIRA (gagueja) – Do-do-dona Ger-tru... (desata a chorar)
BALCONISTA 2 – A senhora aceita um calmante?
ENFERMEIRA – Dois!
DONA GERTRUDES – Tomara que tome um calmante envenenado...
Entram o Balconista 1 e a Gerente.
BALCONISTA 1 – Foi ela! Foi essa velha nojenta que me chamou de bandido!
DONA GERTRUDES – Me respeita! Nojenta posso até ser, mas velha é a vovozinha!
A Enfermeira tenta disfarçar as lágrimas e esboça um sorriso insinuante pro Balconista 1.
GERENTE – Senhora... Desculpe a indelicadeza do meu funcionário...
DONA GERTRUDES – Se ele não for sumariamente despedido, não ponho mais os pés nesta espelunca!
GERENTE – Um momento, senhora... O que ele fez de errado?
DONA GERTRUDES – Meu filho... É que eu, além das minhas dores... eu tenho (espirra) muita (espirra) aler... (espirra) gia. E eu queria um (espirra) travesseiro (espirra) pra me (espirra) fazer (espirra três vezes) passar o dia bem.
GERENTE – Correto.
DONA GERTRUDES – E este (espirra) delinqüente (espirra) em vez de (espirra) me dar um (espirra) remédio (espirra) disse que ia colocar uma arma pra me matar.
GERENTE (ao Balconista) – É verdade isso?
DONA GERTRUDES – É sim! (ao Balconista) Confessa, seu nazista! Se você é homem, revele seus planos megalomaníacos para exterminar os alérgicos de todo mundo.
BALCONISTA 1 – Mas eu não fiz nada!
DONA GERTRUDES – Covarde! Só porque eu sou indefesa!
BALCONISTA 1 (quase chorando) – Eu sou inocente!
DONA GERTRUDES – Genocida de marca maior! Confesse, exterminador! Seu Schwarzenegger!
GERENTE – Por favor, a senhora se acalme... Eu mesmo trago a solução para seu problema.
DONA GERTRUDES – Ah, obrigada, filhinha. Deus lhe abençoe!
GERENTE (pega um travesseiro) – Aqui está o mais eficaz travesseiro ANTI-ALÉRGICO...
DONA GERTRUDES (se desespera) – Aaaah! Socorro! Eles são uma quadrilha! Querem me matar!
Dona Gertrudes sai correndo desesperada, pedindo socorro. Os quatro ficam sem entender nada.
PANO
Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
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Um comentário:
Amigo, comecei a ler e nao consegui parar...Imaginando a cena, rsrsrsr
Muito legal!!!!
Beijos azuissss
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