Sentiu curiosidade ao ver se ele também estava de olhos fechados, tão entregue quanto ela naquele primeiro beijo de casal. Com a vista ainda embaçada, pôde notar o olhar dele distante, desatento, como se seus lábios estivessem meramente em uma burocracia amorosa.
Ela frustrou-se, mas a ansiedade em encontrar uma doçura no fel falou mais alto. Aninhava-se ainda mais no corpo dele, e suspirava dengosa sem querer se distanciar de sua boca. Quando, enfim, pareciam não ter mais fôlego, sorriu olhando para ele. Ele sorriu sem mostrar os dentes. Ela tentou esconder o desapontamento em um sorriso, e se recostou em seu ombro, passando a mão em sua face.
Disse algumas palavras, mas ele ficou em silêncio. Num impulso, ela se colocou na ponta dos pés a procurar os lábios dele. Achou com certa facilidade, mas os olhos dele ainda insistiam em não se fechar. Pensou em perguntar se tinha acontecido alguma coisa, mas ficou com medo da resposta. Aquele carinho aos pedaços ainda trazia momentos de conforto para seu coração.
Dedicou-se em sua quentura a se aquecer no corpo dele. Mas sentiu um arrepio quando o envolveu em seus braços. Ele se distanciava ainda mais. Olhou atentamente para os olhos dele. Com a cabeça, fez o trajeto até encontrar onde sua vista se direcionava.
Viu uma moça dançando na pista. Bonita, de sorriso vulgar, e retribuindo o olhar dele. Sentiu-se pequena. Notou que os braços já não se preocupavam mais em abraçá-la. Teve vergonha de si por sua cabeça em algum momento imaginar "nós dois".
Deu um beijo no rosto dele. De relance, sua boca não resistiu a tocar os lábios como despedida. Saiu e percebeu que ele nem se interessara em saber seu nome. Foi embora do recinto derrotada. No táxi, enquanto voltava para casa, desfez a maquiagem. No início da noite, sentira-se única. Ao fim da madrugada, fixou os olhos em seu semblante deteriorado. Dos instantes em que tentou apegar seu amor à frieza dos prazeres de uma só noite, agora via no espelhinho a certeza de que foi só mais uma.
Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.
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3 comentários:
Olá Vinicius!
Meu amigo, você é incrível.
Escreve que a gente, vive a cena.
Nesse momento até eu estou desapontada...Puxa vida,coitada!
Não se faz isso com uma mulher sonhadora!
Parabéns, gostei muito.
Beijos,
Carmen Augusta
Bem interessante. Parabéns pelo blog!
Meu poetinha...
Concordo com minha madrinha, não se faz isto com uma mulher.
Fiquei frustada também, rs
Vivi toda cena e me senti muito desconfortável quando me coloquei no lugar dela, este tipo de situação não serviria NUNCA para mim, afff
Parabéns!!! Você cada vez melhor!
Beijos azuisss
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