Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Tanta coisa ainda por dizer

Os olhos dele permaneciam entreabertos,olhando para o teto. Ela, com a cabeça recostada sobre seu peito, olhava com ternura seu semblante quase adormecido. Abraçou-se a ele e também olhou em direção ao espelho do teto. Experimentou um sorriso ao ver sua nudez junto à dele.

Esperou que ele fechasse os olhos e foi em direção ao banheiro. Viu seu rosto ainda maquiado e teve vergonha. Abriu o chuveiro e tomou banho minuciosamente. Por um momento, alternava a sensação da água deslizando por seu corpo com as lembranças do carinho que ele fizera em cada dobra de seu desejo.

Desceu a mão por seu sexo, e com os dedos sentiu-se novamente molhando os lábios dele. Com a outra mão, passeou por sua barriga e subiu levemente até os seios. Envolveu um deles com a palma da mão, e deixou-se escorregar até o chão. Sentada, com seu desejo novamente escancarado e sentindo-se dele, somente dele. Baixinho, pedia para ele vir, para ele vir rápido, mais rápido.

E deitou-se sem qualquer pudor, permitindo que o corpo sorvesse cada gota de água. Fechou os olhos e deu um solavanco no corpo quando se deixou deflorar da primeira vez. Aos poucos, ia se conduzindo em cada ansiedade, em cada sabor que sua sensualidade pedia. Abraçou-se com malícia, sabendo todos os carinhos que queria. Foi-se dominando cercada de afeto até novamente ser dominada por um novo cansaço.

Enxaguou os resquícios de seu desejo numa última ducha. Olhou-se no espelho e via-se renovada, via-se ela mesma, via-se uma mulher. Mulher que agora conhecia cada certeza mais íntima de seu prazer e estava disposta a contar para ele. E era tanto, tanto para falar.

Enrolou-se na toalha, abriu a porta do banheiro e sentiu uma corrente de ar gelar sua espinha. Ele já estava vestido, pronto para ir embora. Avisou que tinha pago o motel e ofereceu uma carona.

Hesitou, mas por fim recusou, disse que chamaria um táxi. Ele entregou o dinheiro. Na hora da despedida, ela empinou o corpo à procura dos seus lábios. Recebeu um beijo na testa.

Pela porta aberta, viu o carro dele partir. Refugiou-se na cama, e se encolheu até os lençóis envolverem sua nudez. A vontade era intensa de perfumar-se com o cheiro do corpo dele. Com o cheiro do amor dele. Um alento à frustração de um amor que morreu com tanta coisa ainda por dizer.

3 comentários:

Márcia Tristão-Bennett disse...

Vinicius, poetinha!!!!!!!!!!!!!!!

Perdoe a ausencia...mal consigo ir ao site do Eduardo!
Enfim,....voce sempre nos passa todas as imagens claras, com cores distintas, onde tudo pode se ver e sentir! Voce eh assim!!

Parabens a voce e ao Nelson Rodrigues por ter a sua alma sempre as suas sombras!!!!!!

Abracosrobertolageanos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

Acho que você nunca vai escrever um conto com final feliz e sem suspense.E sempre com surprêsas que deixam a gente a pensar.

Conforme lemos, vamos vendo as cenas acontecendo e derepente quando achamos que tudo está bem, booomm vem a surprêsa...

Parabéns, lindo conto, mesmo sem final feliz...
Ah! Daí deve perder a graça, né?
Você quer é nos colocar a pensar...

Beijos,
Carmen Augusta

CON disse...

Que coisa linda!!! Tanta coisa ainda por dizer... Sei bem sobre isto, rs
Parabéns!!!
Beijos azuissss