Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Bomba-relógio

Eu te amo. E nunca foi pouco. Pouco foi o caso que você fez com tudo o que eu senti por você, tudo o que eu disse pra você em tanto tempo. Cruzei tantas vezes o seu caminho e você não fez questão nem de me dar um "oi". Só seu desprezo, sua indiferença, e o seu "não" em todos os caminhos que fiz para entrar na sua vida.

Meu coração ganhou um compasso avassalador, do qual não tive qualquer dimensão para perceber. Eu apenas vivi. Eu apenas senti. E você jamais me deixou compartilhar tudo isto com você. Quanto tempo esperando ao menos um sorriso amarelo, um afago nos cabelos, como se faz a uma criança. Sim, você me fez criança. Através do seu rosto me enxerguei mais puro. Através das suas mãos pude alcançar meus raros momentos de ternura. De despreocupação. Meus raros momentos de vida.

Porque depois que você chegou à minha vida, eu passei a viver por você instintivamente. Sem receios, sem pudores, só amores à sua espera. À espera do dia em que você viria. E a cada hora eu me aproximava de você. Intensamente, sorrateiramente, sabendo que meu amanhã ficaria mais próximo do seu.

Mas as coisas mudaram. Por você meu coração se fez adolescente. Impulsivo, descontrolado, vislumbrando somente uma consequência, que era a de estar diante de você. E aos poucos foi envelhecendo, até se tornar adulto, decidido, com tudo calculado para te cuidar.

Até de mim restar esta bomba-relógio. A rastrear tanta pólvora guardada para os fogos de artifício que guardei para nosso maior encontro, a ter fôlego suficiente para disparar uma rajada de grandes proporções que seria rever você. Você, agora, olhando diretamente para mim, sem qualquer distração, sem qualquer nebulosidade para atrapalhar nossos olhos.

Meus olhos que te amam enquanto seus olhos dizem que você me odeia. Estamos sem palavras. Afago seu rosto, agora alheio à frustração de que, ao tocar seus lábios, vem apenas a textura da mordaça. Seus sussurros cada vez mais lancinantes enquanto meu toque conhece o fascínio do seu corpo.

Seus braços amarrados, em vão tentando evitar que eu comece a descobrir cada parte de você. E meu coração pulsa, intenso, enquanto você me odeia e me espera beijar seus seios. Sigo a contemplar sua nudez, inteiramente minha, entregue entre as cordas que passam por seu corpo.

Olho para o relógio. O "tic-tac" permanece insistente, e a ânsia toma conta por completo de mim. Finalmente, meu amor, você e eu andamos num tempo só. Em contagem regressiva. Meu tempo de vida vai encurtando, mas fica eterno à medida que nos unimos pela última vez. Um amor tão intenso que não é digno de deixar qualquer rastro. A bomba-relógio deixa toda esta história para a eternidade. Para a nossa eternidade.

2 comentários:

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

Amor assim não vale.Com a moça amarrada e amordaçada,não, não, covardia.Ou desespêro?

Você sempre nos deixando a matutar..

Beijos,
Carmen Augusta

CON disse...

Meu querido poetinha... Fiquei sem ar, rs

Conheço esta loucura... Amar assim é loucura... A entrega e a espera são doídas....Mas sempre vale a pena!
Bomba-relógio...Viver ou morrer de amor, ou viver e morrer de amor!

AMEI

Beijos azuisss