Três balas. Duas delas no coração. A primeira fulminando o amor que ela dilacerou em troca de um prazer barato, quem sabe achado na esquina. A segunda é a extrema-unção, sacramento do meu calvário diante desta doença que prostituiu nossa história, que transformou em duas a nossa vida.
E o tiro de misericórdia? Atira na nuca! A nuca, local onde ela se insinuava toda arrepiada ao sentir a carícia das minhas mãos e a lascívia da minha boca, a beijá-la, a mordê-la. Gasta as três balas. Mesmo que ela se vá logo ao sofrer o primeiro tiro.
Não, não, no rosto não. Sua beleza jovem deve ficar imóvel, tão pura quanto na foto que carrego aqui na minha carteira. Com a imagem bem distante da cena na qual vi sua boca vulgarizada, violada pelos lábios de outro. Não quero ter como última lembrança seus cabelos despenteados pelas mãos de alguém que não a soube tocar, que marcou seu corpo apenas com manchas de uma voracidade travestida de paixão.
Eu a amo. Muito. Um amor que não sabe se despedir. Um amor incapaz de ser asfixiado por minhas próprias mãos. Por isto é que eu vim aqui. Um serviço como este deve ser realizado por mãos sangradas como as suas. Mãos que carregam anos de vida amarga, na qual um momento de tristeza a mais não fará diferença.
Pouco me importa se seus olhos debocham de mim e me acusam de covardia. Não é este o sentimento que ata minha ira neste momento. O que me toma é a incapacidade de dar qualquer desprazer a ela. Mesmo que ela tenha sussurrado palavras de carinho no ouvido de outro.
O dinheiro está de acordo com o combinado. Eu lhe agradeço, você estipulou uma quantia a algo que pra mim não tem preço. Sei que o remorso um dia pode me cobrar pelo que estou fazendo. Não vou conseguir amenizar com arrependimento o momento de rancor no qual me deixei ser levado pela maré de tamanha atrocidade.
Mas, de qualquer forma, minhas mãos estarão limpas. Inertes, amarradas por tanto amor que não se esfria a ponto de sangrar a culpada por minhas dores. Não a faça sofrer muito. Se possível, faça com que o rosto dela sorria. Dê a ela um lampejo de alegria, mesmo que asfixiada por mãos de sangue. Mãos do meu sangue, que ardeu no amor dela e que escorreu em tristezas quando foi cortado pela luxúria praticada com outro.
Que ela descanse em paz. E que eu permaneça em guerra, remoendo minha culpa, mas que tudo passe quando eu voltar a olhar a imagem dela, imortalizada na foto que carrego em minha carteira.
Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.
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2 comentários:
Olá Vini!
Texto muito bonito, mas meio drástico.Será que vale a pena?
Não haveria outro meio de se vingar?
Enfim, o autor quis assim...
Parabéns!
Beijos,
Carmen Augusta
Ai amigo...Tadinha... Não dava pra dividir não??? rs
Olha só o texto está super bem escrito, mas este negócio de crime passional não me agrada nem um pouco, abominoooooo!!!
Beijos azuisss
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