Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Nós dois

Eu, sorriso ao te encontrar. Você, alguns carinhos no meu rosto. Eu, ânsia por um beijo ofegante de seus lábios. Você, suave com certa distância. Eu, taça de vinho. Você, água sem gás. Nós, conversas amenas, cotidianas.

Eu, estranhando seu semblante. Você, inquieta. Eu, afagando seu rosto e deslizando os dedos por seus cabelos. Você, evitando meus olhos. Eu, sentindo no coração adentrar sua inquietude. Você, lábios cerrados. Nós, silêncio.

Você, algo para me dizer. Eu, surpresa para te contar. Você, olhos marejados. Eu, mãos segurando as tuas. Você, planos para a vida. Eu, fora deles. Você, palavras e mais palavras. Eu, silêncios e mais silêncios. Nós, lágrimas.

Você, alívio por tudo o que disse. Eu, no fundo, talvez soubesse que isso um dia ia acontecer. Você, a cada vez mais me privando de seu sorriso. Eu, a cada momento mais pedindo beijos que outrora vinham cercados de espontaneidade. Nós, desamor.

Você, amizade? Eu, ainda sem saber o que pensar. Você, lágrimas já secas. Eu, suspiro mais longo. Você, bebericando o resto do meu vinho. Eu, em dissabor amoroso e amargura com gosto de vinho tinto. Nós, sem mãos dadas.

Você, pedido de desculpas. Eu, pedido de desculpas. Nós, troca de olhares cúmplices e tristes.

Eu, adequado à solidão da minha casa. Ela, febril, preparada para abrigar a quentura da noite de amor que poderia estar por vir. Eu, agora atento a um tudo que em palavras passou a significar nada.

Filmes românticos no DVD. Champagne no gelo. Discos de música instrumental aguardando sobre o som. Você, fora do alcance dos meus olhos.

Eu, retirando a surpresa do bolso. Você, sem saber o que estava à sua espera. Eu, um colar com pingente trazendo nossas iniciais. Você, para nossa história deu retoques finais. Eu, procurando um canto seguro, nem muito à vista das minhas lágrimas nem totalmente escondido das amarras do meu coração. Você, por um instante, pode voltar a sonhar comigo, a pensar em nós.

Nós, nós cegos, que não desatam minha insistência em saber que por uma vida inteira olhando para você, o amor dos meus olhos vai se embaçar. E de minha vista turva, vou continuar a enxergar em você a certeza de que ainda seremos, tão somente, nós dois.

3 comentários:

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

Mais uma vez, vivi a cena.
Lindo conto, lindo mesmo.
Bem escrito como só você sabe fazer.
Com um final que deixou esperança.
Gostei muito.

Parabéns!

Beijos,
Carmen Augusta

Everaldo Farias disse...

Valeu salafrário.

Mais um digno de grandes aplausos! Você merece!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço a todos!

CON disse...

De todos este é o mais lindo!!! Sinceramente gostaria de tê-lo escrito!!!
Amei, amei, amei!!!
Parabéns meu poetinha!
Beijos azuisss