Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Malas prontas



Saudade da Copa vem em forma de atrevimento poético no Diário de um salafrário. E este que vos escreve se atreve a tentar tirar poesia de um lado tão contraditório deste esporte chamado futebol.

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Do vestiário ouviu a chegada das torcidas
Podia discernir todos os olhares que estavam nas arquibancadas
Aqueceu compenetrado suas pernas adormecidas
Mais do que nunca, batalhava para que elas fossem consagradas

As negociações aconteceram em sigilo
Ele vivera toda madrugada intensa
De insônias, de sonhos, em viver com estilo
Guardou seu deslumbre até da imprensa

Vestiria aquela 10 pela última vez
Rezou mais forte com seus companheiros na corrente
Pedia garra, mas pedia pra ser prudente
Era o medo de ser mais uma promessa que se desfez

Foi o mais saudado ao entrar em campo
Ritual que acontecia há tanto tempo
Mas que naquela noite ganhou outro sabor
O amargor da despedida, e uma pontinha de dor

Sentiu as pernas tremerem
Foi um primeiro tempo apagado
Ia fazer eles perceberem
Que logo estaria tudo acabado

Voltou ao jogo na segunda etapa
O técnico falou para ele ficar entre os zagueiros
Uma, duas oportunidades, mas a bola escapa
Ouviu o repórter dizer que estes erros não eram costumeiros

De relance, vê no banco o treinador chamar o reserva imediato
A cada corrida do moleque, ele, bem marcado, no campo padece
Queria tanto o gol, passar em branco era um desacato
Olha para seus próprios pés e se entristece

Volta a atenção para o jogo, e vem cobrança de escanteio
Corre até ficar perto do segundo pau
Respira fundo e tem sua concentração total
Vai para a disputa sem qualquer receio

Cobrança feita, ele se adianta
De costas para o gol, sente a bola desviar em sua cabeça
A fração de segundos dá um nó na garganta
É a espera de que seu desejo prevaleça

A vista turva desenha sorrisos de torcedores
Sorrisos de seus companheiros e a bola na rede
Grita palavrões e sorri sem pudores
Sente-se na doçura de sua estreia agora, no dia em que se despede

Permanece em campo por alguns minutos
Tem ainda duas chances, mas a bola vai pra fora
É substituído, vai pro vestiário ainda saboreando seus frutos
No radinho de pilha, torce para que a vitória venha em boa hora

O juiz apita, os três pontos são conquistados
A felicidade do gol marcado e amargura do fim desta sua temporada
Um futuro vem, e com ele a ansiedade de mais fama e títulos a serem conquistados
E o pavor de amanhã, por todas as coisas serem reveladas

Lembra o contrato milionário na Europa, a chegada como grande promessa
Seu coração passa a ser outro, conseguiu seu feito, a alegria agora não cessa
Pensa nos aplausos de crítica e público, ficará alheio àquele coro de um "bando de otário"
Estará no avião e nem ouvirá os intensos gritos de "mercenário"

3 comentários:

CON disse...

UAU!!!! Nunca havia me sentindo no gramado...Hoje consegui, joguei com ele, senti o desejo da bola na rede, e vibrei com o gol de despedida!
ARRASOU!!!
Beijos azuisss

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

Esse seu atrevimento poético, valeu a pena.
Muito bom, leva mesmo a gente para dentro do gramado.

Parabéns!

Beijos,
Carmen Augusta

Anônimo disse...

Esse amigo é meu orgulho!

Parabéns!

Beijos.Muitos!!!

Regina Márcia