Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Bienal do Livro - 19 de setembro de 2009



O salafrário convida para o lançamento de seu diário em plena Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Quem diria que os humildes contos deste que vos escreve sairiam do universo virtual e iriam para as páginas de um livro.

Todos estão convidados, desde já. Muito obrigado pela leitura de vocês. Não têm ideia do quanto cada um que passou por aqui é importante nesta história.

Vinícius Faustini

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Inês

Suspirei. Apoiei minha cabeça em seu ombro e me esquivei do corpo dela. Sentei na cama e, após intermináveis segundos, recorri à desculpa de almanaque: "isso nunca aconteceu comigo antes", mesmo sabendo que era mentira. Ela ficou com as costas apoiadas no travesseiro e se cobriu com o lençol. Voltei a ficar deitado, com os olhos direcionados para o teto.

Passaram-se mais alguns instantes e ela pousou a cabeça em meu ombro. Sedutoramente, perguntou, à altura do meu ouvido: "quer que eu te chupe?". Mal virei o rosto e ela me deu um beijo carente, quase romântico. O sentimento de culpa veio em meu coração, ao me encontrar com seus olhos sedentos. Fiz um breve afago em seu rosto. Desci as costas da mão até chegar ao bico de seu seio direito. Ela molhou seus lábios com a própria língua e mesmo assim eu não senti um movimento de excitação passar pelo meu corpo.

Novo suspiro. Sentei novamente e disse: "desculpa, hoje não vai dar, eu tô muito cansado". Desviou o rosto de mim para esconder uma frustração. Forçou um sorriso para dizer um "tudo bem" ao me encarar novamente. Levantou-se, pegou suas roupas e pediu para tomar um banho. Balancei a cabeça afirmativamente. Ia dizer alguma coisa, provavelmente sugerir que tomássemos banho juntos, mas meu rosto fechado já era um "não" bem nítido.

Alternei os 10 minutos do banho dela entre a televisão e olhares no relógio. Ouvi o barulho dela saindo e vesti um short e uma camiseta. Ela abotoou o sutiã e se cobriu com a blusa. Disse que estava indo embora e que gostou da noite, queria me ver mais vezes. Sorri sem mostrar os dentes. Pensei em dar um dinheiro para um táxi, mas imaginei que não seria de bom tom no primeiro encontro, ela podia achar que eu a considerava uma prostituta. Ofereci uma carona, e ela recusou, já tinha ligado para um taxista amigo ir buscá-la.

Fui até a porta. Ela beijou minha boca, com uma sede que parecia ainda maior. Parecia não querer me perder. E parecia pressentir que dela eu já me perdia. Deixou a marca de seus dentes no meu lábio, e na porta do elevador pediu outra vez para que eu ligasse. Olhei pela janela e a vi entrando no táxi.

Tomei um banho. Saí do banheiro e me vesti novamente. Peguei carteira, camisinha e chaves. Olhei o relógio do celular e fiquei aliviado por ainda ser uma da manhã. Em cinco minutos de carro achei um bar simpático, que não estava tão abarrotado de gente.

Sentei numa mesa, pedi um chope e comecei a prestar atenção nas mulheres do lugar. Notei uma que tinha traços semelhantes aos de Inês. Suas feições, seus gestos, seus olhos. Não resisti. E mesmo com todas as minhas inglórias e insones madrugadas, decidi em mais uma mulher tentar reencontrar Inês.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Um dia

O Diário de um salafrário retorna às suas atividades, ousando mais uma vez criar um atrevimento poético. Este que vos escreve não toma jeito mesmo...


*****

Um dia, seu silêncio desviou o meu beijo. Minhas palavras procuraram sua boca, mas ela amordaçava mistérios que jamais eu poderia enxergar.

Um dia, de seus lábios surgiu um "me perdoa". Minhas mãos se encheram de perdão, e perdoaram você mesmo sem saber o veredicto da sua culpa.

Um dia, você gemeu em dor por algo que precisava me dizer. Resignado, cicatrizei a agonia de seu silêncio com licenças poéticas baratas.

Um dia, impacientes, meus olhos reclamaram seu amor. Seu olhar de enfado explicitou três letras definitivas: fim.

Um dia, você abriu as portas do seu coração e pediu piedade pelo que estava prestes a fazer. Impiedosamente, você desmoronou todo o romantismo que planejei em meus melhores sonhos.

Um dia, decidimos ir cada um para um lado. E meu lado se viu olhando pelo retrovisor, ansiando por um aceno de tudo voltar a ser como era antes.

Um dia, eu telefonei para compreender o por que de não termos dado certo. Você suspirou do outro lado da linha e balbuciou duas palavras: "hora errada".

Um dia, passei por cima de minhas amarguras e fui até sua casa. Quis saber o quanto meu relógio estava em descompasso com o seu coração.

Serenamente, você disse apenas: um dia.