Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Inês

Suspirei. Apoiei minha cabeça em seu ombro e me esquivei do corpo dela. Sentei na cama e, após intermináveis segundos, recorri à desculpa de almanaque: "isso nunca aconteceu comigo antes", mesmo sabendo que era mentira. Ela ficou com as costas apoiadas no travesseiro e se cobriu com o lençol. Voltei a ficar deitado, com os olhos direcionados para o teto.

Passaram-se mais alguns instantes e ela pousou a cabeça em meu ombro. Sedutoramente, perguntou, à altura do meu ouvido: "quer que eu te chupe?". Mal virei o rosto e ela me deu um beijo carente, quase romântico. O sentimento de culpa veio em meu coração, ao me encontrar com seus olhos sedentos. Fiz um breve afago em seu rosto. Desci as costas da mão até chegar ao bico de seu seio direito. Ela molhou seus lábios com a própria língua e mesmo assim eu não senti um movimento de excitação passar pelo meu corpo.

Novo suspiro. Sentei novamente e disse: "desculpa, hoje não vai dar, eu tô muito cansado". Desviou o rosto de mim para esconder uma frustração. Forçou um sorriso para dizer um "tudo bem" ao me encarar novamente. Levantou-se, pegou suas roupas e pediu para tomar um banho. Balancei a cabeça afirmativamente. Ia dizer alguma coisa, provavelmente sugerir que tomássemos banho juntos, mas meu rosto fechado já era um "não" bem nítido.

Alternei os 10 minutos do banho dela entre a televisão e olhares no relógio. Ouvi o barulho dela saindo e vesti um short e uma camiseta. Ela abotoou o sutiã e se cobriu com a blusa. Disse que estava indo embora e que gostou da noite, queria me ver mais vezes. Sorri sem mostrar os dentes. Pensei em dar um dinheiro para um táxi, mas imaginei que não seria de bom tom no primeiro encontro, ela podia achar que eu a considerava uma prostituta. Ofereci uma carona, e ela recusou, já tinha ligado para um taxista amigo ir buscá-la.

Fui até a porta. Ela beijou minha boca, com uma sede que parecia ainda maior. Parecia não querer me perder. E parecia pressentir que dela eu já me perdia. Deixou a marca de seus dentes no meu lábio, e na porta do elevador pediu outra vez para que eu ligasse. Olhei pela janela e a vi entrando no táxi.

Tomei um banho. Saí do banheiro e me vesti novamente. Peguei carteira, camisinha e chaves. Olhei o relógio do celular e fiquei aliviado por ainda ser uma da manhã. Em cinco minutos de carro achei um bar simpático, que não estava tão abarrotado de gente.

Sentei numa mesa, pedi um chope e comecei a prestar atenção nas mulheres do lugar. Notei uma que tinha traços semelhantes aos de Inês. Suas feições, seus gestos, seus olhos. Não resisti. E mesmo com todas as minhas inglórias e insones madrugadas, decidi em mais uma mulher tentar reencontrar Inês.

5 comentários:

Everaldo Farias disse...

Ô salafrário, vai com cuidado com esse título pois é o nome de minha mãe!

Mas, não vou reclamar pois é hoje seu aniversário e você se destaca como nosso Nelson Rodrigues contemporâneo!

Um abraço garoto!

Carla disse...

Oi Vinícius!Conheci seu blog através do da Rozane, li alguns textos e gostei mto!
Como ainda n li mta coisa n tinha comentado, mas ontem eu estava fazendo uma pesquisa sobre novelas e encontrei um texto sobre o Vale a Pena ver de Novo e o autor tinha o mesmo nome q vc, o texto é seu mesmo ou só coincidência?

Vinícius Faustini disse...

Oi, Carla,

eu fiz um texto sobre o Vale a pena ver de novo no site Overmundo. É sobre este texto que você está dizendo?

Obrigado pela presença no meu blogue. Sempre será muito bem vinda!

Beijos,

Vinícius Faustini

Miriamdomar disse...

Olá Vinicius
Mais um, dos seus atrevimentos que vai ficar na história!
Voçê me fez lembrar do amor de Pedro e Inês, um amor que ficou na história!
Por isso , os homens querem encontrar a sua "Inês" e as mulheres o seu
"Pedro "!Naturalmente!
Mas não é fácil, principalmente ,quando achamos que alguém que perdemos ,era afinal ,o tal ou a tal!
Mas a vida é como um filme com muitas passagens, só temos de esperar que depois do drama, venha a comédia!:)
Beijos

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

É um prazer muito grande ler seus contos. Você nos cativa ler os seus contos, parece que estams lá juntos vivenciando tudo.

É um dom que nasceu com você, escrever coisas lindas, atrevidas, mas que realmente existem.
Só essa Inês que não quer ser achada...

Beijos,
Carmen Augusta