Você não vai tirar a roupa?
Ele perguntou sem pestanejar
Sua voz era tomada pelo descaso
E eu tinha de amargar seu afeto raso
Encaminhei meus passos para o banheiro
Ele justificou que era por um bom dinheiro
Ameacei protestar, mas ele logo ficou faceiro
Implorando que eu o saciasse por inteiro
Comecei a dançar conforme a música, constrangida
Ele deixou o quarto à meia-luz
Dancei selvagem, com raiva da vida
Ele me louvando, por ser uma mulher que seduz
No limiar entre o sensual e o vulgar
Aos poucos, fui fazendo ele se assanhar
Cada parte do meu corpo que eu começava a mostrar
Vinha um suspiro dele, a me elogiar
Encaixei meu corpo em seu colo
Ele parecia outro com minha nudez a tiracolo
Aos poucos, eu gostava de ser uma mulher de subsolo
Dei-lhe uma mordida nos lábios, quebrando o protocolo
Mas minha fragilidade foi um raro momento
O prazer dele se diluiu num mero lamento
Tinha a inutilidade de uma camisinha
Descartável, no lixo, resto de uma aventurazinha
Obedeci ao seu “vamos embora”
Ele alegou que era tarde, e tinha hora
Eu mal tive tempo de tomar um banho
Ou de acertar a lente de olho castanho
Terminei a noite abandonada numa rua
Com minha tristeza amparada por uma ideia crua
A de que não sou biscate encontrada em bordel
Para eu ser sua puta, só no luxo de um quarto de motel
*****
Texto publicado originalmente na página eletrônica Segunda a Sexta.
Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
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2 comentários:
Caramba ! Que história !
Emocionante. Coitada da moça, merecia um pouco mais de carinho, né?
Um Forte Abraço
James Lima
www.robertocarlosbraga.com.br
Oi Vinicius!
Acho que já li esse conto, ou outro parecido.
Que vida triste dessas mulheres.
Um cachorro é muito mais bem tratado.
Enfim, foi o que lhes restou, com certeza.
Beijos,
Carmen Augusta
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