Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Sereia

Ela surgiu feito sereia diante de seus olhos. Mas não se deixou seduzir somente por seu canto. O encanto vinha numa plenitude que mesclava a doçura transmitida por ela e um cheiro de maresia que o inebriava.

Sim, o alertaram mais de uma vez com a sentença "o mar não tem cabelos". Mas ele não pensou duas vezes ao atrelar suas mãos nos cabelos dela. Seus dedos acariciavam de leve aquele rosto que sabia exatamente como hipnotizá-lo. Fascinado, somente balançou a cabeça num "sim" quando ela pediu "vem".

Aceitou mergulhar num desejo de amor intenso, com o coração desprotegido de qualquer artifício para levá-lo novamente ao raso quando precisasse. A cada carícia, a cada beijo, a cada instante, necessitava conhecer um pouco mais a fundo todos os sentimentos que ela proporcionava.

Seu corpo uniu-se ao dela num movimento doce, e cambalearam, quentes, sôfregos, num maremoto que não tinha receio de atingir os limites da intensidade. Beijou-a e sentiu um breve gosto de aguardente, na água ardente à qual aquela sereia o conduzia pela mão.

Ainda estava de olhos fechados quando sentiu um arrepio. Uma corrente de água gelada passava por ele, e, quando sua vista alcançou, ela já estava indo embora, sem se despedir.

Lutou contra a frieza dela, esboçou alguns gritos de "socorro", até que seus braços dormentes conseguiram vencer a correnteza. Permaneceu ofegante até conseguir encontrar um pouco de ar puro.

Aos poucos, experimentou uma calmaria. Chegou a tentar que seu coração se deixasse levar por outras marés. Mal sentiu a água bater em suas canelas. Tomou um pouco de ar, e, mesmo contra tudo, decidiu voltar a enfrentar a correnteza atrás dela.

Já não tinha muitas esperanças de voltar a encontrá-la. Mas a ideia de se afogar à procura de sua sereia tornava a expedição mais romântica. Com os olhos marejados, ele agora preparava seu paladar para sentir como é doce morrer no mar.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caramba !
Bicho, você é fera, viu?
Que texto ! É a descrição fiel de um amor vivido com uma profundidade do tamanho da profundidade do mar.

Meus Parabéns !

Seu fã
James Lima

Diego Bachini Lima disse...

Estava hoje lembrando da foto de uma musa minha num barco... E alguém falando que era uma sereia... Estou com isso na cabeça desde de a madrugada de ontem, Minha sereia...

A diferença, é que enquanto a 'sua' busca a vítima , a minha me encanta, mas não me deixa chegar perto, e sentir o que eu sinto... Ela criou uma barreira entre eu e ela.
______________
o texto está fantástico! vou ver se consigo levantar uma grana pra me dar de presente de natal.

Abraço

Diego

CON disse...

Amigo, mais uma vez você é que me encanta, rs
que coisa linda, que texto marcante!!!

Estes amores sufocantes inebriantes que nos afogam e nos aprisionam são os melhores!!!!kkkk

Beijos azuisss

Carmen Augusta disse...

Vinicius meu amigo,
você é grande!
Que conto lindo!
E que amor!
Só um grande amor mesmo para se preparar para saber como é doce morrer no mar.

Parabéns!

Beijos,
Carmen Augusta

Márcia Tristão-Bennett disse...

Vinicius,

Voce me deixou saudosa da musica do Dorival Caymmi...


Eh doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar...um vazio no peito, pela beleza da sua escrita e da musica do Dorival Caymmi!!! Jah cantei muito isto aih....saudades dos meus tempos de coral!!!!!

Ai que dor e que agonia!!!!!!!!!!

Texto lindo, penetrante!!!!!!

Parabens!!!!!!!!!!!!!!

Beijos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!