2010 só está trazendo atrevimentos poéticos por aqui. Este que vos escreve anda muito ousado...
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"Eu te amava"
A voz dela embargava
E usava de novo a secretária eletrônica
Para dizer o resumo da sua doença crônica
"Eu te amava"
Num sonho longínquo ela recriava
O alento de seu corpo digno de carícias
O momento com ele, cercado de delícias
"Eu te amava"
E olhava no espelho o tempo seu rosto enrugar
E olhava no retrato tanto amor a se amarelar
Deixando fosca a luz de um bem que tanto brilhava
"Eu te amava"
Ele negou um beijo de despedida
Ela sabia que a boca do seu homem já era comprometida
Mas não era de raiva que ela chorava
"Eu te amava"
Com o seu sapato quebrou o porta-retrato
Era seu coração querendo se despedaçar sem o menor tato
Mas mesmo em pedaços ainda por ele pulsava
"Eu te amava"
Repetia ansiosamente a sua frase
Apesar de saber que não tinha chance nem de um quase
Do passado agora se apegava
"Eu te amava"
E ele chegou à última instância
Ligou para a mulher que o aprisionava
E a mandou recolher à sua insignificância
Doeu a certeza de ser insignificante
Foi para o prédio e depois de vê-lo aos beijos com a amante
Não teve pudor enquanto o carro o esmagava
Do barulho da rua, ouvia somente a própria voz dizendo "eu te amava"
Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
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Um comentário:
Olá Vinicius!
Esse seu atrevimento está muito bom.
Ser relevada a insignificância, deve ser muito triste.
A vingança dela foi trágica...
Continue com seus atrevimentos, que estão cada vez melhores.
Nem parecem atrevimentos.
Você é um poeta nato.
Parabéns!
Beijos,
Carmen Augusta
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