Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Nua

Um post controverso para o Diário de um salafrário desejar a todas as mulheres que frequentam este blogue um FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!

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Mal notou quando alguém se aproximava para roubar um beijo. Seus olhos estavam fechados, acompanhando o som da música lenta e ritmada. A doçura era tanta que não quis deixar que o olhar desenhasse a pessoa que compartilhava um desejo ardente beirando a ternura.

Teve pesar quando as duas bocas se perderam, mas sentiu-se segura quando notou que o abraço ficava mais forte. As mãos, ainda trêmulas, procuraram os traços de quem a afagava. Num gesto mais ousado, passou a língua pela orelha e continuou a deixar-se conduzir por uma música que adentrava por seus ouvidos e guiava todos os demais sentidos.

As mãos passaram pela nuca e acariciaram os cabelos longos e lisos. Por um momento, ficou estática e parecia perder o chão. Até, finalmente, ter a certeza, quando suas unhas cravaram as costas e encontraram como obstáculo da pele um sutiã.

Abriu os olhos. Viu que os minutos mais intensos, mais carinhosos que encontrara em sua vida estavam sendo proporcionados por uma mulher. Uma mulher bonita. Linda, não tinha como fugir da beleza doce daquela companheira que a enlaçava e a fazia dançar sem parar.

Tapou seus seios. Tapou seu sexo. Diante dos olhos de quem cuidara dela até alguns instantes agora sentia-se nua. Mesmo vestida. Olhou para os olhos da outra, que se aproximava percebendo o espanto da mulher que se deixara levar por seus carinhos. A vergonha guiou-a a passos largos para o banheiro.

Olhou-se no espelho e aproveitou que o banheiro estava vazio para chorar. Fechou os olhos e derramou lágrimas e o corpo sobre a pia. Fez a água da torneira cair sobre seu rosto, desfazendo sua maquiagem.

O espelho levemente mofado a fez ver quando não estava mais sozinha. Era ela. Era ela novamente cruzando seu caminho. Ofegou. A outra ficou em silêncio por poucos segundos. As lágrimas corriam e a mulher, calmamente, se aproximou dela. Ela permanecia acompanhando pelo espelho, de costas, enquanto via a garota se aproximando, lentamente.

Contemplou os traços dela. Os olhos, brilhantes de choro e de êxtase. A boca, novamente retocada por batom. Os corpo coberto por uma blusa de alça e uma calça jeans. Achou-a ainda mais linda. Em seguida, olhou para si e achou-se bonita. Em especial pelo contraste de sua própria delicadeza com a força e a ternura da outra mulher.

A garota balbuciou alguma coisa, mas ela logo a interrompeu com um beijo rápido e roubado. Olharam-se no espelho e ela se deixou entrelaçar por mãos ternas, doces e seguras. Sussurrou um "quero mais" e entreabriu novamente os lábios para um beijo. As mãos dela guiaram as mãos da outra, pousando uma das mãos no seio, por baixo do tomara-que-caia e guiando a outra até a calcinha.

A mão, quente, deslizava em seu corpo e fazia refletir um pouco de seu sexo no espelho. Tirou a calcinha e guardou-a na bolsa. Virou-se para a outra e afagou com voracidade cada detalhe. Jogou-a até pararem no primeiro reservado. A porta quebrada tornava o perigo ainda mais iminente. As duas suspiravam e se tocavam devotamente.

Desceu o tomara-que-caia até deixar seus seios à mostra. Sentou a outra no vaso sanitário e colocou os seios à altura dos lábios da outra. Suspirava, sussurrava enquanto deixava-se molhar de tanta ternura. E molhava, mergulhada em desejo. Apoiou-se na coxa da outra e sem cuidados permitiu que a mulher a tocasse, a conhecesse, a deflorasse de uma forma que jamais recebera.

Sua mão entreabriu a calça da outra mulher e a fez conhecer o sexo dela. Perdia-se entre os pelos dela e mergulhava a cabeça entre os seios, agora nus e descobertos pelo sutiã desabotoado. As duas suspiravam, em surdina, uma ouvindo apenas a outra. À distância, emaranhavam-se os sons da boate e os barulhos das mulheres que circulavam no banheiro.

Sorriram. Trocaram um beijo mais cúmplice. Ela vestiu novamente o tomara-que-caia, e deu uma risadinha quando notou que a outra olhou com lamento ela se vestindo. A mulher se levantou e deixou que ela a abraçasse. Com carinho, deixou-se recompor as roupas. Primeiro o sutiã e a blusa. Em seguida, abotoando o jeans.

Ansiava para que pelo menos o rubor de seu rosto saísse de sua pele. Queria o mais breve possível voltar a se entregar ao amor dela. Àquele amor repentino que a surpreendia mas que a fazia mais permissiva diante daquele sabor.

Saiu de seu delírio e viu um vulto desaparecer bruscamente. Espantou-se com o barulho da porta do banheiro se fechando. A mulher tinha ido embora.

Por um momento, ela frustrou-se. A música ficou mais intensa em seus ouvidos. Os sons e as imagens ainda passeavam de maneira confusa por sua cabeça. Finalmente, caiu em prantos. Era o choro de quem estava nua, indefesa diante da revelação da malícia de uma mulher.

2 comentários:

Carmen Augusta disse...

Olá querido Vinicius!

Sinceramente hoje não sei como comentar seu texto, como sempre muito bem escrito.

Vai me chamar de uma porção de coisas,não vou me importar, mas é a primeira vez que leio um texto sobre esse tema e tão bem descrito.

Beijos,
Carmen Augusta

Everaldo Farias disse...

Eu, como sempre gostei bastante. Sempre um toque de sensualidade na melhor coisa do mundo: a mulher!

Parabéns!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço a todos!