Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sábado de manhã

Coloquei o despertador para as oito horas. Liguei o computador. Abri minha caixa de e-mails, para confirmar o horário do nosso encontro. Eu estava certa - sábado, nove e meia da manhã. Tomei um banho demorado, entre o sorriso de saber que iria te encontrar e o canto desafinado da minha voz. Um canto de mulher, de uma mulher afinada com seu próprio coração.

Saí do banho. Olhei meu corpo enrolado na toalha. Peguei a escova e comecei a passar nos meus cabelos. Eu queria deixá-los bem encaracolados, do jeitinho que você disse que tanto te fascinou quando viu minha foto. Quase perdi a hora sonhando com seu afago no meu rosto, com seu carinho nos meus lábios, com sua doçura no meu corpo.

Vi pela janela o dia ensolarado. Fui até minha gaveta e escolhi um biquíni vermelho, bem curtinho. Fiquei tão vermelha quanto a cor dele, eu nunca tinha usado uma roupa de praia tão pequena. Coloquei por cima um vestido branco. Era a paz que eu queria ter do seu lado contrastando com a paixão que meu coração tanto sonhava sentir a dois. Vi o relógio de cabeceira, eram nove e cinco.

Voltei meu olhar para o espelho e me achei bonita. Ajeitei os cabelos, passei um brilho bem delicado nos meus lábios e saí rumo à praia. Pela primeira vez sem óculos escuros. Eu queria que você visse nos meus olhos o brilho que sua imagem me entregava. E também queria ver todo aquele sábado com suas próprias cores, sem nenhum reflexo visual que pudesse alterar as tintas de um lindo dia.

Atravessei as ruas para chegar até a orla. Fui andando calmamente, ao som das buzinas e dos gritos dos camelôs, alternando minha vista entre a praia e os arranha-céus. Sempre sentindo o carinho da brisa que você soprava.

Fui subindo nas pedras do Arpoador, até parar na pedra mais alta de todas. Vi os casais de namorados se beijando e tendo como cenário as ondas do mar. E eu cada vez mais ansiosa pela sua chegada, fantasiando o desejo de mergulhar em meio aos mares do nosso amor.

Fiquei atenta a todos os movimentos da praia. Muitos diriam que eu estava observando se as pedras do Arpoador iriam se mover. Mas eu permanecia estática. Esperando você. E aos poucos, sentindo o sol me queimando. Só me queimando. Olhei para o relógio do celular. Nenhuma chamada perdida. E já era uma hora da tarde.

Desci das pedras. Voltei andando pelo calçadão, agora usando meus óculos escuros. Meu coração já estava escurecido, eu não tinha mais por que querer que meu olhar estivesse claro. Eu não precisava compactuar com as outras pessoas o vermelho dos meus olhos, agora chorosos por você apagar o grande sonho de amor que eu tive. E que, ao acordar, você não estaria mais lá.

Cheguei em casa. Fiquei em frente ao espelho. Tirei meus óculos escuros e da vermelhidão dos meus olhos apareceram de vez as lágrimas que o meu coração pedia. Eu achei que hoje seria diferente. Por um momento, eu acreditei que este sábado seria diferente dos outros sábados que eu passei te esperando. Talvez tivesse sido um engano, né? Talvez eu tivesse errado qual sábado de manhã a gente teria pra ficar junto.

Tirei meu vestido e antes de ir para o banho, liguei de novo meu computador. Agora reli seu e-mail, do dia seguinte ao primeiro sábado que você não foi. Mais uma vez você me dizia que estava confuso, que não sabia o que sentia por mim, e não queria se magoar para me magoar. Li as últimas palavras da sua mensagem - "Você é uma garota especial. Não mereço você" - e saí correndo para o banheiro. Liguei a ducha de água fria e encolhi meu corpo na frieza das suas palavras.

Neste sábado de manhã você foi embora mais uma vez. Mas vou continuar do seu lado, à sua espera. Para na manhã de algum outro sábado você chegar nas pedras do Arpoador e, definitivamente, tomar em seus braços esta mulher que só sabe ser sua.

5 comentários:

Márcia Tristão-Bennett disse...

Vinicius:

Desculpe nao poder vir aqui com mais frequencia! Este texto estah muito bom!!! Nos envolve, nos faz esperar, e nos dah ansiedade para saber o que vai acontecer!!!! Parabens, adoro este tipo de texto e me levou ao arpoador!

Agora, vou te desafiar!!!!!! Gostaria que voce tentasse escrever algo sobre um caso policial, serah que rola???

Beijos
Marcia Bennett

James Lima disse...

Poxa, bicho !

Coitada da moça, rapaz...
Tomara que ela encontre um rapaz que a ame, que não a deixe esperando da próxima vez hehe.

Um Forte Abraço
Seu Fã
James Lima
www.robertocarlos.vai.la

Carmen Augusta disse...

Vinicius,
mais um belo conto,que envolve a gente e nos deixa na expectativa.

Parabéns!

Beijos,
Carmen Augusta

Everaldo Farias disse...

Você foi mais suave, mas não menos brilhante! Incrível sua capacidade de prender nossa atenção!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço!

Armindo Guimarães disse...

Oi, Vinícius!

Caramba, pá!

Tu sempre a surpreender. Maravilha!

Não tenho vindo aqui mas tenho que voltar rápido e com mais tempo pois deixei alguns contos por ler.

Aproveito para te desejar Feliz Páscoa.

Abração