Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O vizinho

Ao se levantar, logo depois de ter feito aquilo com ela, ele disse: "Se disser uma palavra, eu corto sua língua".

Ela estava com sete anos. Virou-se para o lado. Olhou para o espelho do armário. Trincava os lábios para evitar que chorasse, para tentar esquecer o que tinha acontecido horas antes. Sua vontade era de gritar, de contar a todos que seu próprio pai, com frieza, havia esquecido que ela era somente uma criança e deixara toda a voracidade de homem roubar sua inocência de menina.

Não disse uma palavra. E não diria mais nenhuma palavra. A ameaça paterna a amedrontava ainda mais, em especial depois que a mãe morrera, alguns anos antes. Ela achava que já tinha sofrido tudo na época, mas mal sabia que iria ter de passar a partir daquela noite.

E de outra noite. E de outros sonhos que viravam pesadelo nas mãos do homem que deveria ser seu protetor. Com o tempo, ela ficou definitivamente calada. Não dizia, não sussurrava, não gemia. Nenhum som saía mais de sua boca. Emudecera, com medo de sua voz contar algo que pudesse fazer com que sua língua fosse cortada. Se bem que o gosto de seu próprio sangue talvez fosse melhor do que ter de obedecer a ordem do pai pedindo, aos sussurros, para ela lamber seu pescoço e depois passar a língua em outras partes que lhe causavam asco ao sentir o gosto.

Chegou à adolescência sem ideia do que seria um amor. Tinha medo de ter de conviver mais uma vez com aquelas dores que a acompanhavam desde menina, de ser condenada a mais um desamor como o que tinha em sua própria casa. Todos a viam como a mudinha esquisita, de olhos tristes, mas que ninguém sabia ao certo o motivo das lágrimas que pareciam acompanhá-la.

Um dia, voltando da escola, viu um rapaz que se mudara para a casa em frente. Num lampejo, teve a ardente sensação de notar seus olhos sorrindo. Olhou o moço e experimentou um primeiro suspiro. Não queria ter de cruzar o portão, só para ficar com os pensamentos nele. Mas anoitecia, e sabia que tinha de prestar obediência ao pai. Ao pai que, aos poucos, espaçava as vezes em que ia procurá-la. E toda vez que ela adormecia em vigília pela hora na qual sua porta seria aberta e descobria que não tinha sido violentava, sentia um misto de alívio e felicidade.

Passou um, passaram dois anos. E ela já não sofria tanto com a presença constante do pai em suas noites. Tinha mais tempo para pensar no vizinho. E num fim de tarde, se aproximou dele com um bilhete: "Vou deixar a janela aberta. Vem me fazer companhia de noite".

Seu coração naquela noite batia mais forte. Era a primeira vez que a iminente presença de uma pessoa em seu quarto lhe fazia bem para a alma. Olhava-se no espelho, enxugando o corpo depois do banho morno. Enxergava em si mesma uma beleza da qual não precisava ter nenhuma palavra.

Vestiu-se, deitou-se e ficou com os olhos atentos, à espera dele. Ele chegou na penumbra, ajudado pelo fio de luz de uma vela deixada na cabeceira da cama dela. Num impulso, ela pulou em seu colo, com suas pernas amparadas pela cintura dele, com seus braços envolvendo as costas largas, com seu beijo encontrando a boca tão doce que nunca achara que iria encontrar um dia.

Ele subiu a mão por seus quadris e, aos poucos, tirou sua camisola. Deitou-a na cama e procurou, com os lábios, seus seios pequenos. Mordiscou o bico de cada um deles, e, devagar, deixou que coubessem em sua boca. A mão puxou a calcinha dela de lado, e ele sentia a vontade dela se tornar ainda mais voraz.

Ela mordeu sua orelha e deu um gemido, ao pé do ouvido. Era a primeira vez que sua voz conseguia emitir um som. E era um som cercado de todo prazer que jamais teria encontrado no melhor sonho que já tivera.

Ele a tomou entre as mãos, colocou-a de quatro na cama e, aos poucos, deixou que ambos fossem dominados por um prazer a dois. Ela delirava, não deixando mais que nada se calasse em sua alma, que nada se calasse dentro de sua garganta.

Chegava à sua plenitude quando viu a porta se entreabrir. Notou o olhar de monstro com o qual convivia. Mas agora ele carregava um ar de espanto. Em vez de se recolher, como fazia das outras vezes, ela sentiu ainda mais vontade de sorrir, de se debater naquelas sensações às quais era apresentada. O pai permanecia lá, atônito, e ela tripudiava, começando a gritar, a dizer, depois de muito tempo uma palavra: "amor, amor, amor". Olhava para os olhos doentios do pai e enquanto gemia de prazer, chupava seu dedo polegar, numa excitação que chegava a ser cruel.

Até que, já sem aguentar guardar tanto prazer, caiu num doce suspiro, sobre o corpo do vizinho. A partir daquele momento, sentia o quanto o amava. Os dois se beijavam com muita carícia quando foram surpreendidos por um barulho.

Sorrateiramente, o vizinho abriu a porta. Era o pai dela, caído no chão. Morto. Em seu olhar, o último momento de prazer, que conheceu ao ver a filha entregue de corpo e alma ao desejo dela. Ela se apoiou nas costas do vizinho e, depois de muitos anos, teve vontade de dizer uma frase: "Eu te amo".

8 comentários:

James Lima disse...

Rapaz... Tu adora esses contos eróticos, né?
sahsaushauhs'

Bom, de qualquer forma, parabéns. O texto está bastante envolvente, muito bom !

Um Forte Abraço
James Lima
www.robertocarlos.vai.la

Everaldo Farias disse...

É bastante curioso esse tipo de texto: quando achamos que estamos seguindo um caminho, ele muda de rumo, e sempre de forma muito envolvente!

Incrível sua facilidade em lidar com temas difíceis como sexo, pedofilia, paternidade, prazer e amor em um texto que se torna cada vez mais envolvente e consegue prender de forma surpreendente o leitor até o final!

Blog Música do Brasil
www.everaldofarias.blogspot.com

Um forte abraço e parabéns!

Mazé Silva disse...

Ai meu Deus Vinícius!!!

Que conto...!!! Que conto...!!!

Sua imaginação menino, vai além do limite, falo assim , pois ele emociona, entristece, nos revolta, onde as vezes nos colocamos até como a vítima, devido a concentração que ficamos no decorrer da leitura que é bastante interessante.

Pensei que o sofrimento não iria acabar, Como você deixou a gente sofrer, Vinicíus!

A cada instante, eu ficava enfurecida, agoniada, sentindo um nojo só em pensar, que essas cenas que imaginara, onde o próprio algoz era de um pai pedófilo e a vítima sua inocente filha!

Eu tremia a cada palavra, cada linha, cada parágrafo em que sucedia o texto. Então pensei: será que o caro autor, vai dar um final feliz para essa criatura que só fez sofrer até agora, nunca foi amada, apenas explorada e intimamente escarnecida?

Fiz como a vítima adoslecente, respirei fundo e aliviada, quando vi que o culminar desse tão magnífico conto, seria de felicidade, pois o amor falou mais alto.

E você Vinícius, criador e torturador da personagem e dos leitores, rsrsr, deixou que o final fosse merecedor para uma história triste e revoltante.

O que é que o amor não faz, hem?

É uma realidade nua e crua, em que uma grande parcela da sociedade, enfrenta no mundo de hoje. Que vergonha saber que isso existe de verdade!

Parabéns vinícius, mil parabéns bem merecido, pois cada conto está melhor que o outro. A emoção de ler, nos convida a querer mais e mais, pois são perfeitos e notórios, dígno de uma grande escritor - esse menino Salafrário, que é o nosso Vinícius.

Beijos da amiga,

Mazé Silva

Carmen Augusta disse...

Olá Vinicius!

Você escreveu sobre um tema que hoje é uma terrível realidade, infelizmenre.
Você pega o jornal e tem não uma, mas várias notícias de crianças estupradas, pelo pai, pelo padrasto, que coisa horrível.
Que mundo nós estamos!

Mas a sua sofrida personagem depois de tanto sofrimento, teve a reconpensa do amor.

Parabéns meu amigo, você é um ótimo escritor e prende a gente do começo ao fim do conto.

Um beijo,
Carmen Augusta

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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