Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

English class

Hoje este blogue mostra em primeira mão um esquete que faz parte de um grandioso projeto meu e do meu amigo Daniel R. Ribas (autor dos blogues Sobrevivendo no limite e Ainda sobrevivendo - ambos os links estão disponíveis nos favoritos). Nossa ideia é reunir esquetes para formarem a peça Surreal. Há alguns anos estamos escrevendo esta peça - e uma hora vai sair.

Peço licença ao meu amigo de fé e meu irmão camarada (sim, ele é isso mesmo, ao pé da letra, e não estou aqui meramente por bajulação) para colocar um esquete criado por ele no qual tive o atrevimento de meter o meu bedelho. Trata-se de um texto que fico muito feliz de ter ajudado - pois eu caí na gargalhada TODAS AS VEZES que li. Não reparem o fato de o final estar meio no ar, a intenção é de que haja mais cena ligada ao espetáculo.

Fiquem à vontade pra comentar. E obrigado ao Daniel R. Ribas, irmão que a vida me deu.

Abraços do salafrário,

Vinícius Faustini


*****

ENGLISH CLASS


Cenário

Sala de aula de curso de inglês. Algumas carteiras e um quadro negro onde o Professor escreverá. O quadro negro deve estar visível para os espectadores. Os alunos estão sentados. Um ator se destaca, em pé, ao lado.

Ainda com o palco escuro, duas vozes começam a falar.

VOZ EM OFF 1 - Este esquete não tem legendas eletrônicas em português. A produção não encontrou tempo ou dinheiro para realizá-los. Como medida provisória, um dos atores traduzirá simultaneamente as falas, para a compreensão dos senhores espectadores. Pedimos desculpas pelo inconveniente.

VOZ EM OFF 2 - Não pedimos!

VOZ EM OFF 1 - Shhh...

VOZ EM OFF 2 - Você fica prometendo emprego pra qualquer primo deslumbrado com carreira de ator e é a minha peça que fica exposta ao ridículo.

VOZ EM OFF 1 - Shhh! E é nossa peça! Eu tenho cinquenta por cento de direito!

VOZ EM OFF 2 - Desde que não comprometa a minha metade, você faz o que você quiser com esses seus cinquenta por cento. E agora essa desculpa barata, que nojento... Bela maneira de jogar na produção a culpa do inconveniente que você mesmo proporcionou.

VOZ EM OFF 1 - Tá, tá... O público veio assistir a uma peça, e não uma separação no litigioso.

VOZ EM OFF 2 - Eu vou...

VOZ EM OFF (interrompe) - Shhh! (indica aos atores) Podemos começar!

O palco é iluminado, os alunos já estão em cena, sentados em suas carteiras. Entra o PROFESSOR.

PROFESSOR - Hi, students.

O ATOR que está no canto do palco é o tradutor simultâneo das falas que acontecerão na sala de aula. Seus movimentos são acompanhar a aula e em seguida olhar para a platéia e traduzir o que foi dito originalmente em inglês.

ATOR - Oi, estudantes.

ALUNOS - Hello, teacher.

ATOR - Alô, tio!

PROFESSOR - So, how was your weekend?

ATOR (inseguro) - “So”, como foi o seu... (se recorda) Weekend? (cantarola) “Quero passar um weekend com você...”

PROFESSOR (ao Ator) - Shhhh. (a um dos alunos) So, how was your weekend?

ALUNO 1 - Good!

ATOR - Bom! Porreta! Do caralho!

PROFESSOR (a outro aluno) - And your weekend? Was it fine?

ATOR (mais inseguro ainda) - E o seu weekend? Foi “fino”?

PROFESSOR e ALUNOS - Fino?

ATOR - Oh, yeah... (fazendo sinal de positivo) Chique, sabe?

Professor e Alunos se entreolham, espantados.

ATOR - O que é que cês tão olhando? Segue, gente! Segue! Ainda tenho que dublar dois filmes ainda hoje...

ALUNO 2 (suspira e recomeça) - My weekend was fine, besides a few problems with my grandmother I’m having to deal with. She’s very sick and I have to care of her.

Todos olham para o ATOR.

ATOR (muito inseguro) - Meu weekend foi fino, numa beliche com problemas da minha mãezona , porque ardia. Ela é muito chique e eu a levei para uma micareta!

PROFESSOR e ALUNOS se entreolham.

PROFESSOR (com sotaque bem forte) - Micareta?

ATOR - É! Micareta! (com sotaque gringo) Carnaval fora de época...


PROFESSOR olha abismado, sem entender.


ATOR (à platéia) - Gringo é tudo burro mesmo. (ao Professor) Brasil! Futebol! Mulata! Do you know mulata?

>ALUNOS começam a gritar, em coro: Mulata! Mulata! Mulata!

PROFESSOR - Shhh! (bate na mesa) Silence in the class!

ATOR (em sua posição de tradutor, fala para a platéia) - Silêncio na classe.

PROFESSOR (tentando se recompor) - Whatever...

ATOR (arrisca) - O que, Eva?

PROFESSOR (articulando melhor e mais irritado) - Whatever!

ATOR (com veemência) - O que, Eva!

Todos fuzilam o ATOR com o olhar.


ATOR (amedrontado) - O que foi?

PROFESSOR pega o ator pela mão e o faz se sentar no chão, junto com a turma do curso.

ATOR (se debatendo) - Ei, que é isso, eu não sou aluno não!

PROFESSOR - Shut up!

ATOR - Olha lá como fala comigo, eu não vou chutar ninguém não! O meu contrato aqui é só pra traduzir…

PROFESSOR (quase aos prantos) - Sit down, please.

ATOR (conciliador) - Ah, tá. (à platéia) Sente abaixo, por favor. (de novo ao Professor) Viu como é que é bom ser educado?

PROFESSOR - Now, students...

ATOR - Anal, estudantes.

PROFESSOR bate na mesa.

PROFESSOR - Please, don’ t talk anymore.

ATOR - Por favor, não talco ninguém mais.

Burbúrio entre os alunos. O Professor olha para o teto e profere palavrões em inglês. Faz menção de estar conversando com alguém. Ao final da conversa, balança a cabeça algumas vezes como se estivesse concordando.

PROFESSOR (a partir de agora, dublado pela VOZ EM OFF 2) - Querido, fecha a tua boca que dela só sai merda. Eu traduzo agora, sim?

ALUNO 1 - What a hell is that?

PROFESSOR (traduzindo para a platéia) - Que porra é essa?

ATOR (desdenhando) - Desbocado...

PROFESSOR - Cala a boca!

ATOR - Vou reclamar com o meu primo e você vai se foder, desgraçado.

PROFESSOR - Cala a boca.

ALUNO 2 - Hey, guy, shut up.

PROFESSOR - Oi, gay. (a voz e o Professor começam a rir) Não resisti. (novamente enérgico) Cala a boca.

ALUNO 1 (ao Ator) - I want to have an English class.

PROFESSOR (ao Ator) - Eu quero ter uma aula de inglês.

ATOR (ao Aluno) - Push dick.

PROFESSOR - Incompetente, puxe em inglês é pull. Pull! E sua tentativa de chamar os meus alunos de puxa-sacos foi tenebrosa. Fica quieto e presta atenção pra melhorar o inglês!

ATOR - Vou chamar o meu primo!

PROFESSOR - Ele tá tendo um colapso te vendo em cena.

ATOR se dá por vencido.

ATENÇÃO: a partir de agora o PROFESSOR fala primeiro em inglês e em seguida a VOZ EM OFF 2 traduz o que ele disse. No decorrer das falas, tudo esculhamba.

PROFESSOR - Now, students, we’ re gonna learn a very important word on english language. It’s a word that English speakers use in almost every occasion, ok? Hoje, a gente vai aprender uma palavra muito importante na língua inglesa, que é usada em quase qualquer ocasião, ok?

PROFESSOR vai para o quadro negro e escreve em letras garrafais: FUCK.

PROFESSOR - Fuck! Now, repeat class!

TODOS - Fuck!

PROFESSOR - Vocês, da platéia, repitam também. Essa é uma peça educativa, todo mundo aprende alguma coisa. Now, platéia, repeat! Fuck! ( pausa. ) Now, anybody knows what does this word means? Alguém sabe o que significa?

ALUNOS (com sotaque carregado) - Vá se foder!

PROFESSOR - No, class. That’s “fuck you” or “go fuck yourself”. Em um português mais erudito, diríamos “vá fazer relações sexuais consigo mesmo”. ( para alunos e plateia. ) Now, everybody repeat. Fuck you.

ALUNOS - Fuck you!

PROFESSOR - Platéia, repeat! ( pausa. ) Now, students e platéia, together. Todo mundo junto. Go fuck yourself.

ALUNOS - Go fuck yourself!

PROFESSOR - And when you want to say that to a large number of people. (vai até o quadro e escreve) Go fuck yourselfs. (para os alunos e a plateia) Everybody!

ALUNOS - Go fuck yourselfs!

PROFESSOR - Now, class, we can also say “fuck off” (escreve no quadro) When we want the person to leave. Quando queremos que alguém saia, também usamos essa expressão, ok?

ALUNOS - Fuck off!

PROFESSOR - When we are scared or surprised with something; quando ficamos espantandos com algo, we say: “What a fuck!”

ALUNOS - What a fuck!

ALUNO 1 (com muito sotaque) - Teacher, isso é “caralho” em inglês?

PROFESSOR (dublado) - Not necessary. Se você quer dizer “caralho” como “cacete”, o órgão reprodutor masculino, we say “dick” ou “cock”. Daí vem a expressão “cocksucker”, o nosso popular “chupador de pau”. Agora, quando “caralho” como interjeição de espanto ou de contentamento, da mesma forma que um “puta que pariu”, a gente diz “what a fuck”. Now, when we don’t want something: “no fucking way”.

ALUNOS - No fucking way!

PROFESSOR (dublado) - Essa expressão é similar ao “nem fodendo” brasileiro. And, finally, when we’ re happy, when can say “that’t fucking great” ou “fuck yeah”!

ALUNO 3 (dublado com uma voz fina) - Teacher, vamos supor.

Para. Se espanta com a voz que o dubla.

PROFESSOR - Go ahead.

ATOR (à platéia) - Vai numa cabeça!

PROFESSOR - Imbecil, é vá em frente.

ATOR - Babaca! Ce tá inventando palavra...

PROFESSOR - Enfim... Go ahead.

ALUNO 3 - Eu conheço uma gringa e ela me convida par sair ao hotel dela, eu digo “that’s fucking great” ou “fuck yeah”!

PROFESSOR (em sua voz original) - They are both correct. (dublado) Ambas as respostas estão afirmativas. (novamente na voz original) Now, class, to improve your lesson. (agora com a voz dublada) Para ver se vocês aprenderam bem a lição, nós vamos ver Pulp fiction sem legendas.

ALUNOS (se levantando) - Fuck yeah!

PROFESSOR (empolgado) - Fuck yeah! That’s fucking great! And class, in almost every sentence with “fuck”, we say at the end “motherfucker”. Em quase todas as sentenças com "fuck", nós dizemos ao final "motherfucker". Ou seja, "filho da puta" em inglês. Repeat, class.

ALUNOS - Motherfucker!

PROFESSOR - Fuck yeah. (agora com a VOZ EM OFF 2) Now, nós vamos para a sala de vídeo. Let’s go, motherfuckers!

Todos se levantam e começam a sair de cena, em fila indiana. Cada vez que um sai de cena, grita MOTHERFUCKER. Depois de todos saírem, o ATOR vai ao proscênio, põe um óculos com armação muito antiga, para parecer um crítico teatral e diz.

ATOR - O texto English class, cuja ideia foi atribuída ao autor Daniel R. Ribas traz uma iniciativa interessante de mesclar o português com o inglês. Entretanto, a segunda metade do esquete desemboca num emaranhado de palavrões e de trocadilhos envolvendo a palavra “fuck”, que acaba por “fuck” com uma cena que poderia ser... (para, pensa) Alguém aí sabe um sinônimo simpático pra “fuderosa”? (pausa) É melhor irmos para a próxima cena.

BLECAUTE

Um comentário:

James Lima disse...

kkkkkkkkkkkkkkk
Caramba, quase morro de rir com essas traduções, viu?

Now Students = Anal Students
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Um abraço do seu fã
James Lima