Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Primeira página

– Entendeu, Atílio? O bandido fazendo o diabo com a menina e os pais dela ali, só acompanhando o estuprador fazendo o serviço!- a euforia de Otto Caldeira crescia à medida que ele detalhava o crime que tinha acabado de cobrir. Era a primeira vez em dez anos como repórter que conseguia uma notícia digna de destaque, e se aproveitava de seu entusiasmo pra convencer Atílio, o editor-chefe, a fazer a reportagem saltar para as primeiras páginas do jornal.

Atílio hesitou um pouco, mas, no fim, deu o veredicto:

– Amanhã, Otto, a sua matéria vai pra rua...- e completou- Esse povo gosta mesmo é de um escândalo!

Otto riu concordando com a frase do editor, e saiu da sala, na certeza de que estava prestes a saborear o gosto da fama propiciada pela perversão alheia. “ Criminoso bom é o que dá primeira página.”- pensou, entre um e outro gole de café.

Na manhã seguinte, o jornal estampou nas bancas a manchete, em letras garrafais:
MENINA ESTUPRADA SACIA TARAS SEXUAIS DOS PAIS

A matéria descrevia a denúncia de um estupro sofrido por uma menina de quinze anos, na presença dos pais da jovem, que tinham acompanhado a cena sem esboçar reação, como se estivessem saciando um desejo reprimido.

A barbaridade do estupro virou motivo de discussão popular, vendendo milhares de exemplares e consagrando Otto Caldeira como um dos melhores repórteres investigativos da cidade.

Três dias depois do estouro da notícia, Otto preparava-se para cobrir a denúncia de um homicídio quando o contínuo chegou com o recado:

– Tem uma mulher te esperando lá embaixo.

– Tô saindo pra trabalhar!- respondeu.

O contínuo insistiu:

– Mas a mulher falou que é urgente, e disse que só vai embora depois de falar com você...

Caldeira hesitou: – Tá bem, eu vou descer.

E desceu as escadas, resmungando:

– Se for mulher pra me encher a paciência, cubro de porrada! – sentia-se supremo em sua virilidade após sua repentina ascensão no jornal.

Parou na porta ao ver a moça, que perguntou:

– Foi você que escreveu sobre a menina estuprada?

– Sim.- respondeu Otto.

– Muito prazer, meu nome é Lílian- e ela estendeu a mão, colocando um sorriso vulgar nos lábios. Tinha um rosto bem delineado, realçado por cabelos loiros. Um generoso decote mostrava os seios pequenos, e suas belas pernas eram expostas pela saia curta.

Sem disfarçar a minúcia com que olhava Lílian, o repórter retribuiu estendendo a mão.

– Podemos conversar em outro lugar?- indagou a loira.

Otto concordou, tomou o braço da moça e seguiu de braço dado com ela até chegarem a um boteco.

– Acho que agora podemos conversar.- sorriu o jornalista, depois de ter pedido um expresso.

O garçom trouxe a xícara de café para Caldeira.

Ela declarou:

– Bem, confesso que não sou muito vidrada em ler página policial, mas quando me contaram da menina estuprada, eu não tive como resistir.

– Continue, por favor.- pediu Otto, intrigado.

– O fascínio daquele ato, você pode ter certeza que foi causado pela notícia.- pousou a mão sobre a mão dele, e prosseguiu: – Eu fiquei apaixonada, de maneira repentina...- seus olhos brilhavam. – Sim, apaixonada por aquele desvario. A menina pura, frágil, acompanhando atônita a destruição de sua alma... Aniquilada pela perversão dos pais...- Lílian demonstrava-se comovida com o destino da vítima.

Otto se via interessado diante da moça, que tirou um lenço da bolsa e escondeu um pouco o rosto, para secar as lágrimas que caíam.

– E eu posso ajudá-la em alguma coisa?- sussurrou o jornalista, ao perceber que a moça já recuperava a cor das faces.

– Sim.- o rosto de Lílian foi novamente invadido por um sorriso vulgar.

Suavemente, entrelaçou seus dedos com os dedos de Otto, e revelou:

– Desde aquele dia eu não durmo, penso apenas nas suas palavras, ‘estuprada sacia taras sexuais dos pais’, não consigo mais controlar o meu desejo... A cada dia me alimento mais da ânsia de me entregar ao sabor da tara, do terror... E só você, com suas palavras, é capaz de entender o meu suplício. É por isso que eu vim pedir a sua ajuda. Para ser estuprada.

O repórter engasgou com o café, mas procurou defender-se na frieza de um jornalista policial para disfarçar seu espanto diante da loira, que repetia, ardente:

– Um estupro. Eu quero ser possuída. Possuída, ao menos por um instante.

– Como?- foi a única coisa que Caldeira conseguiu balbuciar.

Com naturalidade, ela perguntou:

– Por que o espanto? Você já me estuprou com suas palavras no jornal. E eu delirei de prazer à medida que elas me violentavam. Falta apenas você concretizar o nosso crime.- suspirou – Ah, vai ser tão bom te sentir novamente dentro de mim!

Ele pulou da cadeira: – Olha, moça, é melhor eu ir embora antes que eu vire a mão na sua cara!- deixou uma nota de dois reais sobre a mesa e saiu do boteco.

– Espera!- gritou Lílian tentando correndo atrás do jornalista, que apertou o passo, seguindo atordoado pelas ruas.

Enfim, ela conseguiu alcançá-lo, puxando Caldeira até um beco tomado por latões de lixo.

– Escuta...- pediu Lílian.

Num repelão, Otto disse:

– Tô me lixando pras suas perversões, madame!

– Não é perversão.- afirmou Lílian: – Você não entende? Eu quero ser desejada...- e protestou: – Ora, eu sou uma mulher que merece um crime sexual!

– Dona Lílian, de uma vez por todas, me deixa em paz!- fez menção de ir embora, mas foi novamente interceptado pela moça.

– Você quer dizer que eu...- suas lágrimas começaram a rolar – ... que eu não sou digna de um estupro. Eu não sou bonita?- gemeu, ainda suplicante, enquanto descia a blusa, exibindo a doce imagem do bico do seu seio, cor-de-rosa.

Pediu, em tom infantil: – Toca. Toca no meu seio...- como se estivesse hipnotizado, Otto tocou o bico pequeno e rijo do seio da moça, que ficava mais bela ao implorar: – Diz que ele é bonito... diz...

– Bonito...- ele atendia com carinho ao pedido da mulher, e sentia-se puro ao enxergar o alívio nos olhos de Lílian. Ela conduziu a mão que tateava seu seio, percorrendo-a por seu colo, trazendo-a ao pescoço para que, enfim, pudesse ser beijada por seus lábios, num erotismo quase poético.

Aos poucos, Caldeira se via dominado por um amor pela fatalidade ao perceber que Lílian abria um sorriso cada vez mais apaixonado.

Enquanto contemplava o delírio da moça, Otto experimentava um misto de receio em acabar com sua fama por conta de um desvario, e de deleite, ao imaginar-se violentando Lílian.

Colocou a cabeça da loira entre suas mãos e limitou-se a dizer:

– Eu não sou médico pra tentar resolver as suas taras sexuais.- e partiu, deixando Lílian estática à espera de um delírio que não seria realizado.

Em pouco mais de um mês, Lílian parecia já ter se acostumado com a frustração de seu sonho. Triste, passou a se esmerar no seu trabalho como secretária, decidida a não se deixar levar mais por ilusões.

Certa noite, enquanto retornava do trabalho para sua casa, a loira seguia pela rua deserta quando, próximo a um terreno baldio, foi empurrada e atirada no chão de terra molhada pelo esgoto.

Debatia-se entre gritos de socorro, tentando se levantar, mas não tinha forças para conter a mão que apertava seu pulso e deslizava por seu corpo com volúpia, rasgando sua blusa e atacando seus seios. Tinha nojo ao sentir a mão que abria suas pernas e passava os dedos entre seus pêlos pubianos. Dor e prazer envolviam a moça, que escancarava seu gozo à medida que o estuprador a agredia.

Extasiada com a realização plena do seu desejo, Lílian mal notou quando o homem, depois do fato consumado, levantou-se e foi andando pelas redondezas até que, afinal, achou um telefone público, de onde ligou para a redação de um jornal deixando o recado:

– Estou ligando pra anunciar a ocorrência de um novo estupro.- e, ao escutar o redator de plantão, o sujeito declarou, numa alegria incontida:

– O autor do estupro? Foi Otto Caldeira!- desligou o telefone e ficou perto do local do crime, na inebriante espera pela chegada da Imprensa que o consagraria como notícia de primeira página.

2 comentários:

Armindo Guimarães disse...

Ena, pá!

Este conto foi de um suspense constante e o final inesperado.

Não há dúvida nenhuma que a mente humana é insondável.

Gostei!

Abraços

Anônimo disse...

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