Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

domingo, 28 de setembro de 2008

Qualquer uma

Observo a minuciosa leveza de cada um dos seus gestos. Respondes à minha ânsia com um sorriso ameno, cúmplice, nesses lábios tão belos e tão harmoniosos com as suas feições. Eu me aproximo, sou levado pelo efeito do fascínio que se apodera de tua face.

Dialogo por alguns instantes com seus olhos enigmáticos. Talvez procurando decifrar a razão de conseguires me entorpecer apenas com um simples carinho. Suspiras, dengosa... Teu olhar realça a compaixão desesperada que me corrói a cada suplício, a cada saudade de todas as vidas que me trazes toda vez que entra por aquela porta.

Minhas mãos se conduzem por teus caminhos tortuosos, nos quais te descubro mais um pouco e me descubro ainda mais. Acalentado por tuas concessões aos meus carinhos, vou sentindo vagarosamente o perfume de tua alma se espalhar por todos os meus sonhos.

Deslizo a mão por teus pulsos. Tocas meu rosto com teus lábios. Enlaço-te em meus braços, desabotoando carinhosamente o seu vestido. Sinto tuas unhas cravando em minhas costas, e me deito na cama, na nossa cama, aguardando que meus olhos possam conhecer tua nudez.

E vens. Passo lentamente a boca por teu pescoço. Acaricio o colo e aceitas passivamente meus lábios a beijar teus seios. Perdida entre teus suspiros, não és capaz de notar meu desejo a contemplar a delicadeza da sua cintura.
Sigo em meu afeto noturno, sob a luz da madrugada, com meus dedos a passearem por tuas coxas, em teu riso ansioso por mais do que um toque. Estás entregue a mim, me pedes, me sonhas, queres que eu sonhe contigo.

Conduzes minha busca pela paz de teu corpo. A paz que tanto procurei, nas noites mal dormidas, mas que agora é uma insônia bem acompanhada. E eu me sinto dentro de ti, no conforto que só teus braços podem abrigar, no delírio que só tua febre sabe abrandar, no amor que só de ouvir teu nome sorri a minha felicidade.

E me apego à tua voz a me dizer baixinho... “eu te amo.... eu te amo”... Para que meus devaneios não sumam quando, de costas para mim, passares o zíper em um vestido barato, curto.

Pois sei que, ao tornares a me olhar, terás um outro rosto, uma outra voz, um outro nome. Em vez de carinhos, estenderás a mão à altura do meu peito. Caminharei alguns passos até minha cabeceira, sacarei uma ou duas notas da minha carteira, e te entregarei na mão que abres diante de mim.

Ainda farei menção de um afago em teus lábios, mas me repreenderás com um “na boca, não”, seguido de um mascar de chiclete. Darei um suspiro, te entregarei, e, com ar de indiferença, te verei batendo a porta. Embora tenha dormido com qualquer uma, meu coração sabe que passaste a noite comigo.

Um comentário:

Armindo Guimarães disse...

Muito bom, pá!

Nem sei que dizer.

Grande abraço