Trilha sonora, um dos textos do livro DIÁRIO DE UM SALAFRÁRIO, na voz de Eliane Gonzaga.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dois irmãos

“Tá vendo ali o Dois Irmãos?”.

O sol alto quase atrapalhou minha visão. Balbuciei um “hã?” sorridente, para que ele continuasse o que ia dizer. Eu tinha saído da água há poucos minutos, e a água gelada da praia do Leblon me deixou menos culpada de estar tomando sol no meio-dia.

Ele dizia, alegre: “Somos nós dois. Dois irmãos, unidos como essas duas pedras. Um afeto que está sempre presente, faça chuva ou faça sol. Pra sempre.”.

O “pra sempre” dele me deu uma sensação doce de segurança. Senti seu abraço por trás e vi seu rosto olhando para o morro. Mas, pela primeira vez, notei meu irmão de maneira diferente. O sorriso dele diante de um lugar que representava nós dois me deixou fascinada. Com carinho, eu me deixei ainda mais ficar abraçada, sentindo sua respiração perto do meu ouvido e a mão forte acarinhando minha barriga.

Mas, entretida com aquele instante, tive o primeiro momento de delírio. Naquela hora, eu desejei que a mão que afagava meu corpo molhado deslizasse, assanhada, por baixo do meu biquíni, para que eu me sentisse ainda mais dele. Despertei do sonho com um beijo que ele me deu no rosto. Meu irmão se desvencilhou de mim e, ao longe, em meio aos meus pensamentos confusos, ouvi sua voz dizendo “vamos embora?”. Sem pensar, eu disse “sim”.

Saímos da praia, seguindo o trajeto de casa de mãos dadas, como sempre fazíamos, mesmo eu estando agora com meus 16 anos e ele com dois anos a mais. O carinho dele me dava uma sensação diferente no trajeto até nossa casa. Subimos o elevador, ele me disse que eu parecia diferente, perguntou se eu estava sentindo alguma coisa. Tive um lapso de criança, vontade de dizer que desde o momento em que ele mostrou o Dois Irmãos eu descobrira que não podia mais viver sem ele, e que só queria viver com ele e que sabia que só ia sonhar com ele. Saiu apenas um “não é nada”.

Assim que ele abriu a porta, fui direto para o meu quarto. Ouvi seus passos vindo rumo à minha porta. Ele deu duas batidas, chamou por mim. Já começando as lágrimas, eu disse um “oi”. Respondi que era só cansaço e que um banho ia me fazer bem. Escutei seus passos se afastando do corredor e tirei o vestidinho.

Amparada na porta, fechei os olhos e acariciei minha barriga tentando reproduzir a maneira como sua mão deslizou sobre ela. Sussurrei um pedido: “desce...”. E minha mão desceu, até se esconder embaixo da minha calcinha. Senti as primeiras carícias em torno dos meus pelos, e com as pontas dos dedos eu me sentia molhar tanto quanto a água do mar do Leblon.

A lembrança dele dizendo “Dois Irmãos, Dois Irmãos” trazia dor a aquele prazer que tomava conta de mim. E eu me esquentava, sentindo com as mãos a presença dele. Tirei a calcinha e puxei o sutiã um pouco para cima. Agora eu pensava em sua mão conhecendo os meus seios. Lambendo meus seios. E me querendo, e me pedindo. E eu me culpava, com medo de tudo que eu sentia. Entre sussurros, eu me dizia “não”, mas meu corpo só sabia dizer “sim”, e pedir “sim”, ansiando que ele batesse na minha porta e pedisse para entrar. Para entrar no meu corpo e nunca mais sair. Num amor que eu sentia que tinha despertado como nunca.

Deixei que eu caísse devagarinho, e sentasse com minhas pernas dobradas e abertas. Prontas para ele. Prontas para aquele amor que só seria um “não”. Eu estava doente. Num mal de amor. Mas ninguém precisava saber. Só o meu corpo. Vieram os primeiros gemidos mais fortes. Com as mãos, eu guiava meu seio até que o bico chegasse à minha língua e eu pudesse lamber. Mas eu queria ele. Ele. Só ele.

Ouvi o barulho dele passando no corredor. Saí enrolada na toalha. Caminhei, esfregando meu corpo na parede até a porta do banheiro. Fiquei por alguns instantes só ouvindo a água do chuveiro. Imaginando como estaria o corpo dele debaixo d’água. Pensando nos movimentos que seu corpo fazia enquanto ele tomava banho. Ansiosa em pensar que talvez ele estivesse pensando em alguém e se excitava durante o banho.

Molhei meus lábios com minha língua e decidi dar duas batidas na porta. Meu coração pulsou mais forte quando ele desligou o chuveiro. Atentamente, escutei cada passo surdo de seus pés descalços em direção a mim. Ele abriu a porta, enrolado na toalha. Olhou com espanto, há alguns anos eu só falava com ele vestida. Ergui meu corpo em direção ao seu pescoço. Beijei e dei algumas mordidas de leve. Senti suas mãos, firmes, segurando meus braços, e amei seu olhar preocupado, querendo saber se estava tudo bem.

Num fio de voz, eu disse: “vai estar, enquanto formos só nós dois”. Ele sorriu e afagou meu rosto. Não sei com qual coragem, mas logo vi meus lábios procurando seus dedos. Eu exalava sensualidade, e sorri quando deixei a toalha cair do meu corpo. Ele me olhou. Ele me notou de cima a baixo. Viu minha nudez, viu como eu estava diferente. Parecia atônito, e eu sabia que ele estava tão atônito quanto eu estava desde o instante da praia. E eu estava agora decidida. Mais decidida do que nunca.

Puxei sua toalha e virei de costas para ele. Senti novamente sua respiração, agora mais ofegante do que no momento em que falou pra mim do morro Dois Irmãos.

Peguei sua mão e deixei que ela repousasse sobre minha barriga. Mas agora eu a segurava, e ele parecia permitir que eu a conduzisse, por onde eu quisesse. Deslizei a mão para baixo, e desta vez não teria nenhuma calcinha de biquíni para nos impedir. Ele parecia hesitar, mas eu repeti: “somos só nós dois, somos só nós dois”. Meu ombro sentiu seu rosto e gemeu ao receber uma mordida selvagem. Os dedos dele me afagavam, mesmo agora sem a minha mão para guiar. O abraço que eu recebia ficava mais próximo, mais ardente. E eu ardia com ele, provocava, atiçava, rebolando meu corpo tão frágil e tão entregue a ele.

Fiquei de frente para ele. Acariciei seu peito. Repousei meu rosto e pedi: “deixa eu ser sua”. Minha mão caía por suas coxas, e eu me apoiava nele para ter um pouco da sensação de desejo. Notei um súbito momento de hesitação e me ajoelhei. Calmamente, ele se apoiou na parede. Minha língua começou a sentir o gosto do seu desejo. Os lábios se sentiram prontos para seduzir, para deixar que sua excitação ficasse ainda mais forte, e num movimento compassado de amor, eu fiquei chupando. Queria que ele me desejasse e que ele soubesse o quanto eu o desejava.

Ele gemia, puxava meus cabelos longos e cuidava que nós dois ficássemos no mesmo delírio. Minhas mãos sentiam todo seu corpo se esquentar, e ele ofegava, ofegava. Ele se desvencilhou e me fez levantar. Olhou nos meus olhos, para que eu visse que seu olhar estava cheio de lágrimas. Com a voz embargada, disse: “nós somos irmãos...”. Não deixei que ele continuasse a frase. Segurei sua mão e o levei até o meu quarto. Paramos perto da minha cama e, num beijo cercado de doçura, consegui que ele sentasse. Mais uma vez ele protestou e, com o dedo indicador sobre seus lábios eu disse “shhh...”.

Sentei sobre ele e suspirei mais uma vez ao dizer “sou sua”. Senti que éramos um só a partir daquele momento, e deixei meu corpo se aproximar ainda mais do corpo dele. Eu gemia e sussurrava em seu ouvido todo o amor que agora acontecia. Eu pulava sobre ele enquanto suas mãos conheciam meus seios, arranhavam minhas costas e me faziam arder com tapinhas carinhosos no meu bumbum.

Num grito despudorado, comecei a sentir o meu sangue escorrer por ele. Sorríamos porque a minha primeira vez tinha sido guardada para aquele momento. Abraçada ao seu corpo, eu cuidava com amor daquele homem que era meu. Permitimos que nossa nudez deslizasse pela cama. Olhei seus olhos de êxtase e de culpa. Dei um sorriso de menina, que ele retribuiu com um triste “somos dois irmãos”.

Com voz de apaixonada, eu disse: “Eu não me importo. Só a gente sabe a delícia que é sermos dois irmãos”. Ele afagou meus cabelos e beijou minha boca. Em seguida, esquivou o corpo, para que eu deitasse, nua, completamente nua, sobre ele.

Mais do que nunca, nosso amor era sólido, sólido como as pedras conhecidas como o Dois Irmãos. Aquele amor era um fardo, tão doloroso como uma pedra. Mas passava a ser uma pedra na qual eu ardia em delírio, e sabia que ia amar carregar. Pra sempre.

6 comentários:

Feer Amaral disse...

Nossa..
Gostei, muito!
Estou até sem palavras, veja só...

comentarios adicionais pelo msn, ta..

bjo, Paz e Força Sempre!!

Ricardo Heleno Ribeiro disse...

VINÍCIUS MEU CARO. CHICO BUARQUE, O DE HOLANDA, O QUE MELHOR ESCREVE PELA VOZ FEMININA, SENTIRIA INVEJA DESSE TEXTO. GENIALLLLLLLLLL

CON disse...

Uauuuuuuuuu!!!!!!! Conseguiu me emudecer amigo...
Que interessante é a mistura de desejo e pecado...Contagiante!, rs

Parabéns!
Beijos azuisss

Carmen Augusta disse...

Vinicius,
estou aqui a pensar o que vou escrever.
Acho que vou dizer como a Con:
Que interessante é a mistura de desejo e pecado...

Beijos,
Carmen Augusta

Márcia Tristão-Bennett disse...

Vinicius,

Acho que estou como seu amigo o Ricco Duarte....

Voce eh terrivel em suas descricoes de cenas!!!! Parece que estamos vivenciando o que voce relata!!!!!!

Muito bom!!!!!!!!!!

Beijos!!!!!

James Lima disse...

Caramba !

kkkkkkk

O que é que eu vou dizer depois do que eu li?

kkkkkk